Mossack Fonseca: "A indústria está sendo seriamente afetada pelos ataques que o país está sofrendo de organizações internacionais que, como dissemos uma e mil vezes, o que querem realmente é o mercado que nós temos" (Rodrigo Arangua/AFP)
EFE
Publicado em 30 de março de 2017 às 17h52.
Última atualização em 30 de março de 2017 às 17h53.
Cidade do Panamá - O negócio das sociedades offshore no Panamá sofreu um diminuição de 40% no último ano e o principal beneficiado dessa queda é Miami, afirmou nesta quinta-feira a defesa do escritório Mossack Fonseca, epicentro do escândalo dos Panama Papers.
"A indústria está sendo seriamente afetada pelos ataques que o país está sofrendo de organizações internacionais que, como dissemos uma e mil vezes, o que querem realmente é o mercado que nós temos", disse o advogado Jorge Hernán Rubio, da equipe de defesa do escritório panamenho.
Rubio denunciou em entrevista coletiva que o centro financeiro de Miami está se aproveitando do fato que "estejam matando a galinha dos ovos de ouro do Panamá", e que a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) não exige os mesmos padrões de transparência a todos os países, já que os Estados Unidos e Reino Unido "fazem o mesmo que o Panamá faz, ou mais".
Em 2015 foram criadas 26.865 sociedades anônimas no país, enquanto em 2016 o número diminuiu até 18.593, segundo dados do Cartório Público divulgados hoje pelo jornal "La Estrella de Panamá".
Na próxima segunda-feira se completa um ano desde que uma centena de veículos de comunicação revelaram que personalidades de todo o mundo contrataram os serviços do Mossack Fonseca para criar sociedades offshore em diferentes paraísos fiscais e supostamente sonegar impostos.
O escândalo do Panama Papers suscitou um vendaval de críticas contra o país e sua primeira consequência foi a decisão da França de voltar a incluir a nação centro-americana em sua lista de paraísos fiscais.
O advogado declarou que um dos principais "afetados" pela queda do negócio de serviços financeiros offshore é o próprio Mossack Fonseca, cujos sócios principais, Ramón Fonseca Mora e Jürgen Mossack, se encontram detidos provisoriamente por seu envolvimento em casos de corrupção investigados pela Operação Lava Jato.
"Um efeito do que está acontecendo é a morte civil da firma Mossack Fonseca (...) Apesar de seus donos estarem detidos, a empresa seguiu funcionando, mas de forma reduzida, e teve que liquidar uma grande quantidade de pessoal", detalhou Rubio, que acaba de se incorporar à equipe de defesa do escritório.
O Ministério Público do Panamá acusou no último dia 9 de fevereiro os dois sócios do escritório e dois funcionários, Edison Teano e María Mercedes Riaño, de integrarem uma "organização criminosa" que ajudava a lavar dinheiro através de sociedades offshore investigadas pela Lava Jato.
"No espelho de Mossack Fonseca devemos nos ver todos os advogados que, em um determinado momento, vendemos sociedades anônimas", comentou Rubio, que voltou a denunciar que a detenção provisória decretada contra seus clientes não está justificada porque, em sua opinião, não existe risco de fuga ou de destruição de provas.