(CBIE/Divulgação)
Agência O Globo
Publicado em 4 de abril de 2022 às 12h33.
Última atualização em 4 de abril de 2022 às 14h58.
O economista e consultor Adriano Pires informou nesta segunda-feira, 4, que desistiu de ocupar a presidência da Petrobras. Adriano havia sido indicado pelo Palácio do Planalto para o cargo na semana passada, para substituir o general Joaquim da Silva e Luna.
As relações de Rodolfo Landim e do consultor Adriano Pires com o empresário Carlos Suarez, sócio de distribuidoras de gás no Brasil, já levantaram preocupações no Ministério da Economia desde o anúncio dos dois para cargos na Petrobras.
Como um dos consultores mais requisitados do país em assuntos de energia, presidente do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Pires contrariou vários pontos das propostas defendidas pelos auxiliares de Guedes.
Landim foi indicado e depois desistiu de assumir o conselho de administração da estatal. Adriano Pires, por sua vez, foi indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para assumir a presidência da empresa no lugar de Joaquim Silva e Luna, general da reserva e ex-ministro da Defesa.
O Comitê de Pessoas da Petrobras tem em mãos pareceres contrários às nomeações do consultor Adriano Pires e de Rodolfo Landim para a presidente da empresa e para o Conselho de Administração da estatal, respectivamente, de acordo com fontes do governo.
Landim e Pires foram avisados desses pareceres e, então, decidiram desistir de ocupar os postos. O risco, sem a renúncia, era de serem vetados pela própria Petrobras.
O Comitê de Pessoas da Petrobras iria se reunir nesta terça-feira para decidir sobre as nomeações. Era necessário o aval desse colegiado para que ambos pudessem assumir os postos.
Esse comitê, porém, tem pareceres contra as duas nomeações, especialmente a de Pires, por supostos conflitos de interesses. Esse parecer é decorrente de uma investigação conhecida internamente como Background Check de Integridade (BCI).
O BCI, segundo a Petrobras, é um mecanismo “de suporte à tomada de decisão, que visa aumentar a qualidade das nomeações, sem prejuízo da meritocracia, por meio de um processo de análise de integridade de candidatos indicados pela Petrobras para atuar em funções gratificadas na companhia e posições na alta administração em Participações Societárias da Petrobras, respeitando a legislação vigente em cada país no que tange à proteção da privacidade e acesso à informação”.
A principal conclusão desse parecer é com relação a conflitos de interesse de Pires por ele ter sido contratado como consultor pelo empresário Carlos Suarez, dono de distribuidoras de gás, e também da associação das distribuidoras de gás (Abegás).
Como mostrou a colunista do O Globo Malu Gaspar, as razões que levaram Landim a desistir da Petrobras são os conflitos de interesse provocados pela ligação de décadas com o empresário Carlos Suarez, sócio de oito distribuidoras de gás no Brasil. Essa mesma razão pode levar Pires a desistir do cargo de presidente.
Suarez é figura conhecida em Brasília e com forte interlocução junto ao Congresso Nacional, especialmente com lideranças do Centrão — o grupo de partidos que apoia Bolsonaro.
Integrantes da equipe econômica afirmam que ele foi um dos principais articuladores contra a aprovação do Novo Marco do Gás, proposto em 2019 pelo ministro Paulo Guedes e só aprovado dois anos depois. Guedes dizia que, com esse programa, iria dar um “choque de energia barata” para a indústria e os consumidores.
O choque não aconteceu, em grande medida, por conta da forma como o texto foi aprovado, com poucas mudanças práticas. O objetivo do programa era abrir o mercado, tendo as distribuidoras de gás como principais prejudicadas.
Adriano Pires prestou consultorias não só para Suarez mas também da associação do setor (Abegás), da Compass, concessionária de gás do empresário Rubens Ometto, e de diversas outras empresas do setor.
Por conta dessa atuação de Pires, auxiliares diretos do ministro Paulo Guedes vinham se queixando da escolha dele para a Petrobras e apontando possíveis “conflitos de interesses”.
Além da atuação na Lei do Gás, Pires é um crítico do modelo de privatização da Eletrobras e defensor da exigência de contratação de 8 mil megawatts (MW) de térmicas a gás — inclusive em localidades onde o insumo hoje não chega e precisará de novos gasodutos.
Esse ponto gerou forte discussão no trâmite da medida provisória e quase foi responsável por sua rejeição no Senado.
O Globo não conseguiu contato com Pires e Suarez.