Negócios

Acionistas da Uber “discutem a relação” e o futuro dos motoristas

Nos Estados Unidos, governo Biden pode exigir direitos trabalhistas para os motoristas, o que pode mudar - e muito - o panorama financeiro da Uber

 (David Paul Morris/Getty Images)

(David Paul Morris/Getty Images)

Victor Sena

Victor Sena

Publicado em 10 de maio de 2021 às 06h00.

Última atualização em 11 de maio de 2021 às 10h58.

Esta reportagem faz parte da newsletter EXAME Desperta. Assine gratuitamente e receba todas as manhãs um resumo dos assuntos que serão notícia.

O encontro anual de acionistas da Uber aconteceu nesta segunda-feira (10), cinco dias após a divulgação dos dados financeiros do primeiro trimestre (veja os números aqui).

Como mostram os números, o impacto de novas decisões judiciais sobre questões trabalhistas é forte, o que tem desanimado os donos de ações sobre a perspectiva de futuro que a companhia tem.

Dados do primeiro trimestre mostraram que a receita da companhia teria sido 600 milhões de dólares maior se as condições trabalhistas não tivessem mudado. Isso fez com que na comparação anual a receita do Uber caísse - 11%.

Nas últimas semanas, as ações da companhia despencaram de cerca de 60 para 47 dólares, arrastando para baixo seu valor de mercado.

No Reino Unido, a justiça determinou em março que os motoristas da Uber fossem classificados como "workers", opção que não traz a formalização total, mas é considerada um avanço pelos trabalhadores. Com isso, eles agora tem direito a férias salariais e pensões. 

Esta lei britânica que obrigou a empresa a formalizar seus motoristas e as intenções do Departamento de Trabalho do governo Joe Biden de olhar com mais atenção para essa questão tem feito o mercado se preocupar sobre a viabilidade do negócio da empresa. 

Já nos Estados Unidos, o secretário do Departamento do Trabalho do país, Marty Walsh, disse que há casos em que trabalhadores desse tipo de serviço precisam ser tratados como empregados contratados.

O comentário foi feito à agência de notícias Reuters e, no dia, fez as ações da companhia caírem. 

A preocupação dos acionistas é com um cenário em que o judiciário de país atrás de país decida que a empresa precisa arcar com custos trabalhistas e pagamento de benefícios dos cinco milhões de motoristas e entregadores no mundo.

O posicionamento do secretário foi tomado pelos investidores, nos Estados Unidos, como uma “ameaça” ao modelo de negócio atual da companhia.

À Reuters, Marty Walsh disse que as companhias que trabalham com profissionais liberais fazem bons lucros e receita, e que não iria criticar isso porque “é assim que a America funciona”, mas ele "quer ter certeza de que esse sucesso está chegando até os trabalhadores".

De acordo com a agência de notícias, o secretário deve se encontrar com as companhias de viagens, como a Uber e a Lyft, nos próximos meses. 

No estado da Califórnia, os motoristas da Uber já têm algum diferencial, graças à "California Proposition 22". Para tentar evitar algum movimento local que pedissem que os trabalhadores fossem formalizados, a empresa apoiou uma legislação que estabelece que, por lá, devem ser oferecidos seguro-saúde e outros benefícios aos funcionários. O formato é uma espécie de meio-termo e garante menos custos à empresa. 

E a Uber no Brasil?

No Brasil, qualquer mudança na forma atual de relação entre motoristas e a empresa não deve acontecer. A tendência é de que a Justiça continue a entender que não há vínculo de trabalho entre as duas partes por aqui.

Em fevereiro, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) decidiu pela terceira vez que não há relação trabalhista no serviço oferecido pela empresa e a decisão da Justiça britânica — decidida semanas antes — não deve mudar o cenário.

Na visão do ministro Guilherme Caputo, decisões judiciais de outros países, como o Reino Unido, não devem influenciar o Judiciário brasileiro, devido à diferença dos sistemas jurídicos. 

O entendimento de fevereiro do TST já havia sido adotado em outros dois julgamentos em 2020, em setembro e em fevereiro, e também pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de 2019.

Para haver vínculo de trabalho, é preciso existir prestação não eventual de serviços, remunerada, com pessoalidade e subordinação. No entendimento da Justiça, não é isso que ocorre.

 

Acompanhe tudo sobre:AppsEstados Unidos (EUA)Exame HojeUber

Mais de Negócios

Setor de varejo e consumo lança manifesto alertando contra perigo das 'bets'

Onde está o Brasil no novo cenário de aportes em startups latinas — e o que olham os investidores

Tupperware entra em falência e credores disputam ativos da marca icônica

Num dos maiores cheques do ano, marketplace de atacados capta R$ 300 milhões rumo a 500 cidades