Hospital Albert Einstein: instituição terá centro de medicina esportiva com cara de academia (Nacho Doce/Reuters)
Mariana Desidério
Publicado em 5 de maio de 2022 às 07h00.
O Hospital Albert Einstein, em São Paulo, é conhecido pela excelência em procedimentos médicos de alta complexidade. Mas o futuro da medicina e da própria instituição está em outra direção. Nos últimos anos, o Einstein vem investindo em clínicas de atenção secundária e primária como forma de oferecer mais qualidade de vida aos pacientes que passam por seus cuidados. Para além de dar o melhor tratamento quando o paciente precisar de uma cirurgia, o foco do Einstein é, cada vez mais, evitar a doença.
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“Quando temos foco em procedimentos de alta complexidade, toda a formação do médico e o investimento em tecnologia tem esse fim. Quando queremos evitar que a pessoa fique doente, isso muda a forma como me relaciono com o paciente”, diz Eliezer Silva, diretor do Albert Einstein.
Agora, o Einstein se prepara para avançar mais um passo nesse modelo. O hospital vai inaugurar ainda no primeiro semestre de 2022 um espaço voltado para a medicina esportiva e a promoção de saúde com foco em atividade física. No centro, que ficará na região do Jockey Club, em São Paulo, o paciente poderá consultar educadores físicos com o objetivo de melhorar sua prática de atividades físicas. “É um centro que tem mais cara de academia do que de hospital”, diz Silva. Para 2024 já está previsto outro centro parecido, no estádio do Pacaembu.
O centro com cara de academia é o avanço mais recente de um movimento que já dura décadas. Os primeiros passos para essa mudança de perspectiva já têm mais de 20 anos. Em 1999, o Einstein inaugurou sua primeira clínica, em Alphaville, com serviços como pronto-socorro e medicina diagnóstica. Hoje a instituição tem outras quatro clínicas do tipo em São Paulo, nos bairros Jardins, Ibirapuera, Klabin e Perdizes, que realizam consultas, exames, check-ups e até tratamento oncológico e procedimentos de baixa complexidade, sem necessidade de internação.
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“À medida em que a medicina avança, o conceito de baixa complexidade evolui e há um processo de desospitalização. O paciente não precisa mais se internar para realizar uma série de procedimentos”, diz Silva. É o caso, por exemplo, dos tratamentos oncológicos, que em boa parte ocorrem hoje nas clínicas e não mais no hospital.
Com uma rede de atenção secundária montada, era hora de o Einstein olhar também para a atenção primária. Em 2016, o hospital passou a fazer a gestão de saúde de seus funcionários internamente. Para isso, a administração do hospital viu a necessidade de criar clínicas de atenção primária, que pudessem ser responsáveis por acompanhar mais de perto esse público.
“Até então, os funcionários tinham acesso a uma rede por um plano de saúde, e buscavam atendimento sem orientação prévia. Para mudar isso, criamos uma área de atenção primária e gestão de saúde populacional”, diz o diretor.
Foram criadas cinco clínicas de atenção primária, com médico de família e equipe multidisciplinar, como enfermeiro e coordenador de cuidado. A função da equipe é atuar na promoção da saúde e na prevenção, com programas voltados para prática de atividade física, atenção à saúde mental e a questões alcoolismo e tabagismo. “Isso representa uma mudança cultural para uma instituição reconhecida por seus serviços hospitalares”, diz.
O modelo deu tão certo que o Einstein passou a oferecer o serviço para empresas e operadoras de planos de saúde. Pelo modelo, o Einstein passa a fazer a gestão da saúde daquela população, seja a carteira de beneficiários de uma operadora, seja os funcionários de uma empresa. Hoje o Einstein atende clientes como Natura, Vivo, Raia Drogasil e Banco Safra. Para as empresas é uma forma de buscar reduzir os crescentes custos da saúde com os funcionários.
Na gestão populacional, o hospital atua para garantir o engajamento das pessoas em melhorar a própria saúde, o que exige também uma mudança cultural por parte do grupo a ser gerido. O paciente passa a ter um médico da família como referência, que em geral acompanha todo o núcleo familiar, adultos e crianças. Para ajudar a entender as necessidades da população e do indivíduo, o Einstein usa tecnologia e análise de dados.
Um desafio importante do modelo é a remuneração por esse serviço. O setor de saúde está acostumado a pagar por procedimento realizado. No limite, é mais fácil precificar uma cirurgia do que o trabalho realizado para evitar que a cirurgia seja necessária. “Com esse modelo, tenho que ser remunerado por saúde e não por doença”, diz Silva.
O Einstein tem trabalhado para definir a melhor forma de precificar esse serviço, a fim de avançar em um modelo ainda mais sofisticado, em que todo o atendimento de um grupo específico é feito no Einstein, da promoção da saúde à neurocirurgia. A ideia é atuar em parceria com operadoras de planos e saúde, que tenham interesse em criar produtos do tipo. O modelo já está sendo testado em pequena escala.
“Nosso core é o atendimento episódico no hospital. O que estamos criando em paralelo é uma capacidade de lidar com uma população e oferecer isso ao mercado para que ele nos remunere per capita”, diz.