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“A Vulcabras está um pouquinho fora da curva”, afirma presidente da companhia após receita recorde

Em 2022, registrou faturamento perto dos 3 bilhões de reais. Em 2021, já tinha crescido quase 60%, com receita de 1,9 bilhão de reais

Pedro Bartelle, da Vulcabras: A empresa vem crescendo, vem fazendo investimentos, lançando produtos e criando avenidas de crescimento (Vulcabras/Divulgação)

Pedro Bartelle, da Vulcabras: A empresa vem crescendo, vem fazendo investimentos, lançando produtos e criando avenidas de crescimento (Vulcabras/Divulgação)

Marcos Bonfim
Marcos Bonfim

Repórter de Negócios

Publicado em 6 de março de 2023 às 08h05.

Última atualização em 19 de dezembro de 2023 às 14h28.

A brasileira Vulcabras vive os seus melhores momentos, efeito do aumento da demanda por atividades esportivas, chegada da Mizuno ao portfolio e de investimentos em inovação. A companhia ainda é dona da Olympikus e responsável pela operação da americana Under Armour no Brasil.

Em 2022, registrou faturamento recorde, perto dos 3 bilhões de reais, alta de 32,6% em relação ao ano anterior quando encerrou com R$ 2,2 billhões.

Competindo em um mercado dominado por grandes empresas internacionais como Adidas, Asics e Nike, a companhia também se beneficia de cenário macroeconômico. Os tênis das concorrentes chegam ao país com custo muito mais elevados, o que abriu espaço para o crescimento da brasileira.

A Olympikus é a grande estrela e responsável por 50% de volume total produzido, número superior a 31 milhões de pares em 2022. A marca tem se reinventado para o público do mundo das corridas, setor em que por muito tempo foi desprezada. Antes, mal era lembrada nas rodas de conversa dos atletas e amadores – e, quando era, as referências não eram as melhores.

O desenvolvimento de produtos com maior valor agregado, como o Corre Grafeno, tênis com placa de grafeno, tem acelerado a aceitação entre os corredores. Lançado no ano passado, o produto registrou vendas expressivas e chegou a esgotar nas lojas. A demanda foi suprida por novas e recorrentes ondas de produção.

“A nossa vantagem competitiva é poder abastecer o mercado mensalmente por ter a fábrica aqui. A gente pega os pedidos mensalmente e o nosso cliente não precisa fazer grandes apostas. Com isso, ele acaba repondo somente o que vai vender e isso potencializa muito a venda do que vende mais”, afirma Pedro Bartelle, presidente da Vulcabras.

A Exame falou com o executivo em viagem a Horizonte, cidade a 40 quilômetros de Fortaleza, capital cearense. É lá que a companhia mantém a sua maior fábrica e onde ficam 11 mil dos mais de 17 mil funcionários. A vulcabras tem outras duas unidades, uma em Itapetinga, na Bahia, e outra em Parobé, Rio Grande do Sul.

Na visita, a companhia apresentou as versões atualizadas da família “Corre”, linha de alta performance da Olympikus. O Corre Grafeno 2, o Corre 3 - desenvolvido com o apoio do laboratório de biomecânica das USP-, o Corre Vento 2, e o Corre Trilha, um novato que chega para atender o público que opta por corridas em meio à natureza. A corrida funciona como uma "Fórmula 1", é a atividade em que as tecnologias são testadas e aprimoradas antes de chegar aos pés dos consumidores que usam os calçados no dia a dia.

Entre as novidades, a marca firmou acordos com grandes marcas para reforçar os benefícios dos produtos. Para o Corre Grafeno, trouxe a borracha da Michelin; e o Trilha chega com a Vibram, conhecida pela tecnologia de solados que licencia para diversas marcas. Os produtos entram em tempos momentos no mercado.

Como objetivo, os lançamentos têm a missão de manter o ritmo de crescimento tanto da marca quanto da companhia e mostrar que os resultados no universo esportivos não são apenas um “voo de galinha”.

Abaixo, a entrevista com presidente da Vulcabras:

2022 foi um ano de recordes para a Vulcabras, mas este se desenha como um ano um pouco difícil economicamente. Como vocês se prepararam para manter o ritmo de crescimento? A Vulcabras está um pouquinho fora da curva, as nossas carteiras têm nos mostrado que a gente vai continuar crescendo. O mercado está um pouco estacionado sim, acho que com a mudança de governo há uma certa cautela no mercado de empresários, consumidores, mas nós estamos imaginando um crescimento. A empresa mesmo vem crescendo, vem fazendo esses investimentos para crescer lançando produtos e criando avenidas de crescimento. Isso tem nos ajudado bastante a manter esse nosso ritmo de crescimento e acho que o Brasil vai continuar bem, vai continuar crescendo. Tem que passar essa fase de adaptação, passar um pouco mais de confiança para o empresariado, baixar um pouco dessa poeira de troca de governo, mas nós estamos num momento um pouquinho fora da curva.

As marcas internacionais têm um problema que é a importação dos produtos, o que faz com que cheguem ao Brasil muito mais caros.  Por outro lado, vocês têm itens mais acessíveis e o discurso de democratização de acesso. Esses elementos também ajudam vocês a estarem fora da curva?

As internacionais, na verdade, produzem na Ásia onde tem custos menores. A nossa vantagem competitiva é poder abastecer o mercado mensalmente por ter a fábrica aqui. A gente pega os pedidos mensalmente e o nosso cliente não precisa fazer grandes apostas. Com isso, ele acaba repondo somente o que vai vender e isso potencializa muito a venda do que vende mais. A competição com a Ásia vai ser sempre uma constante e, quando tiver muita mão de obra envolvida, o Brasil perde um pouco porque os custos de mão de obra aqui são mais caros do que na Ásia. Na verdade, é a Ásia que tem um valor mínimo, mas a gente consegue numa boa parte dos produtos se tornar competitivo e, podendo abastecer o mercado mensalmente, essa é a grande vantagem.

O mercado viu um crescimento acelerado da busca por práticas esportivas, um movimento muito relacionado à questões de saúde e também como efeito da pandemia. Na análise da Vulcabras, essa tendência tende continua nos próximos anos ou tende a arrefecer?

São duas coisas que beneficiam muito o nosso setor. Uma se intensificou muito, que é o cuidado com a saúde, principalmente na pandemia. As pessoas se deram conta de que quanto melhor fisicamente estivessem, melhor poderiam passar por uma dificuldade de doença etc, e isso acelerou muito, mas o que vem acelerando há alguns anos e se intensificando muito agora é que o esporte saiu da prática esportiva e foi para cotidiano das pessoas. Antigamente, principalmente os jovens, iam para uma festa ou saiam à noite com sapato. Hoje, não existe mais um jovem que sai à noite ou vai a uma festa que não esteja com um calçado esportivo. Então, o esporte saiu do ambiente esportivo, com a história do lifestyle esportivo, das pessoas buscando se vestir esportivamente não só como uma tendência de moda, mas pelo conforto que isso dá, a versatilidade de tu poder estar de tênis e mais confortável o dia inteiro.

Nos últimos anos, algumas grandes companhias do segmento esportivo estão investindo na criação de megalojas como Nike, Adidas e Puma. Vocês pretendem entrar nesse tipo de estratégia?

Nós temos uma rede de vendas de mais de trezentos vendedores que abastece muito bem o mercado brasileiro, são mais de quinze mil pontos de venda que são atendidos, mas as lojas monomarcas que a gente fala, as lojas conceito, elas se tornarão importantes, sim. Nós teremos algumas lojas principalmente para que a gente possa expor melhor toda a história, mas a gente já trabalha com uma boa participação direta com os nossos consumidores através do ecommerce. As lojas próprias, sim, estão nos nossos planos para o futuro próximo, mas o nosso abastecimento do mercado é muito amplo.

Qual seria o futuro próximo?

A partir do próximo ano a gente já quer começar a ter algumas lojas monomarcas.

A Olympikus será a primeira?

A [marca sobre a qual] temos falado é a Under Armour porque, mundialmente, 80% da venda dela é vestuário e o Brasil tem uma carência de lojas mais completas de vestuários, acessórios que mostrem as marcas - aqui é o campo da Olympikus, aqui da Under Armour, da Mizuno. Isso já é muito mais desenvolvido em outros países. O Brasil ainda tem muita sapataria que não vende roupa. A gente quer começar pela Under Armour, é um projeto que a gente tem. Eu acho que vai acontecer ainda no final deste ano, mas acho que se desenrola a partir do próximo ano.

Você comentou sobre o lifestyle de corrida, mas a comunicação das marcas acaba muito centrada nos tênis. Qual a representatividade dos vestuários dentro do portfolio da Vulcabras?

Existe uma dificuldade no mercado que é canal. Existem grandes lojistas, como a Centauro, mas o Brasil ainda é muito tradicional nas casas familiares de sapataria que não vendem roupa. Para que a gente possa distribuir os nossos produtos, o que tem aumentado muito é próprio ecommerce, que tem alavancado as nossas vendas. Mas nós não produzimos o vestuário, nós terceirizamos a produção e privilegiamos fornecedores locais, nacionais, e vem crescendo muito. Só no ano passado cresceu 80% nas três marcas. Uma marca esportiva só é completa se ela mostrar vestuário, calçados e acessórios. As lojas próprias no futuro vão ajudar nessa exposição, mas o ecommerce tem feito um trabalho fantástico.

Em entrevista à Exame recentemente, você comentou sobre demandas como a desoneração da folha para que o setor se torne mais competitivo globalmente, considerando os baixos custos asiáticos. Vocês têm feito alguma negociação com o novo governo?

Olha, as regras atuais são boas para indústria que é tão produtiva quanto a indústria asiática. A Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados) mostra que as indústrias calçadistas produzem por funcionário mais ou menos o que fazem na Ásia. Então, nós temos todas as máquinas e todas as tecnologias para produzir igual a Ásia. A única coisa em que perdemos é na mão de obra porque lá você paga uma mão de obra muito mais barata do que aqui – e isso é um problema que está lá. O Brasil está correto, é lá que é muito barato e tem incentivos subsidiados. Mas quando a gente tem um calçado com menos mão de obra, a gente consegue ser competitivo e, às vezes, até ganhar por causa dessa competitividade que a gente tem. O que nos preocupa só é mudar essas regras do jogo, é fazer alguma coisa que se conversou, se falou em algum momento de diminuir as alíquotas de importação ou mesmo fazer acordos de livre comércio com países que têm essas práticas que o Brasil não adota. A única coisa que o setor pede, através da Abicalçados e eu sou um conselheiro da Abicalçados, é condições igualitárias de competição. Nós não queremos nenhuma vantagem e o Brasil nem precisa, só as mesmas condições. E, para ter as mesmas condições, precisa ter os impostos de importação, por que mão de obra, que representa 40% do custo do calçado, lá é muito mais barato.

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