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A virada do médico que vai faturar R$ 56 milhões com negócio de saúde mental

O paulistano Leandro Rubio fundou a Starbem, plataforma de saúde mental que já alcança 6.000 empresas e cresce entre grandes corporações

Leandro Rubio, da Starbem: aposta em IA para aumentar adesão a terapias (Divulgação/Divulgação)

Leandro Rubio, da Starbem: aposta em IA para aumentar adesão a terapias (Divulgação/Divulgação)

Karla Dunder
Karla Dunder

Freelancer

Publicado em 28 de novembro de 2025 às 06h01.

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A crise silenciosa da saúde mental dentro das empresas virou um problema de gestão — e, para muitos RHs, um custo direto em produtividade.

Nesse cenário, a disputa por soluções que entreguem impacto real colocou uma nova leva de healthtechs na mira do mercado.

No centro dessa corrida está a Starbem, empresa fundada em 2020, hoje presente em mais de 6.000 companhias e com uma projeção de 56 milhões de reais em faturamento para 2026.

Mas a história por trás desse crescimento começou muito antes — e longe do ambiente corporativo.

A trajetória do fundador, Leandro Rubio, sempre orbitou o setor de saúde, mas dentro de hospital.

Formado em medicina, com sete anos de residência e carreira sólida em cardiologia intervencionista, ele passou por instituições como o Dante Pazzanese e o Hospital Samaritano.

A vida que levava parecia estável — até deixar de fazer sentido. Ele resume o incômodo de forma direta.

“Eu era muito novo e já tinha um time de médicos debaixo do meu guarda-chuva, mas percebia que eu tinha outra skill: liderar, conectar, me relacionar”, diz.

A ruptura definitiva veio com a pandemia. Os procedimentos cardiológicos estavam parados, o hospital esvaziou e, pela primeira vez, Rubio se viu ocioso. Foi a brecha para uma virada.

“Eu falei com meu vizinho, fera em TI: cara, o que você acha da gente criar um projeto para atender gratuitamente as pessoas com covid-19? Você cria o site e eu junto médicos voluntários.”

O projeto — batizado de Missão Covid — explodiu.

Foram 1.500 médicos voluntários e 350.000 atendimentos em 88 países, segundo Rubio. A operação virou o maior esforço voluntário digital no combate à doença.

A experiência abriu o caminho para a Starbem. Mas a primeira tentativa não deu certo. A startup nasceu como um serviço B2C de telemedicina, apoiado na base de pacientes da Missão Covid.

O plano não funcionou.

“Caí do cavalo feio. Eu tava entrando num mercado 'commoditizado'. Para jogar aquele jogo eu teria que baixar preço e pagar pouco para o médico. Esse não era o jogo que eu queria.”

A guinada só veio quando Rubio percebeu a dor real do mercado: saúde mental dentro das empresas.

Em um evento de RH, descobriu que já tinha dentro de casa parte da solução — psicólogos, psiquiatras, nutricionistas — e decidiu fazer a pivotagem.

“Naquele mesmo evento eu mandei mensagem para amigos de grandes empresas. Esses caras nunca tinham dado muita bola para mim. E agora tinham uma dor que eu conseguia resolver.”

O resultado foi rápido. A empresa começou a crescer no B2B e passou a fechar contratos maiores.

Hoje, a Starbem conta com clientes como Decolar, Gupy, V4 Company, Unimed e Insider.

A virada também chamou atenção fora do Brasil. Em 2023, no Web Summit Rio, Rubio foi abordado por um diretor da Techstars.

O convite para acelerar a startup no Canadá virou decisão de vida. Ele se mudou com a esposa e a filha, mesmo sem dinheiro levantado.

“O que eu estava demorando seis meses para captar, eu levantei em dias: cinco milhões de reais.”

A temporada no exterior trouxe aprendizado, mas também desgaste.

“Foram os dois anos mais difíceis da minha vida. Isolamento, inverno pesado, longe da família. A gente quase terminou o casamento.”

A família voltou ao Brasil em 2025, e a operação canadense segue no modo enxuto.

História da empresa

Fundada logo após o impacto da Missão Covid, a Starbem começou com telemedicina, percebeu as limitações desse mercado e, em 2022, pivotou para saúde mental e bem-estar corporativo, onde encontrou demanda crescente.

Hoje, 70% dos atendimentos são de psicologia, 15% de nutrição e 15% de medicina. Rubio destaca que não é uma decisão comercial, mas reflexo da demanda.

Planos de expansão

Para 2026, a meta é crescer em três frentes:

  1. Novos produtos de IA, com foco em suporte emocional 24 horas e ferramentas de alimentação personalizada.

  2. Expansão em contas com grandes empresas, com contratos acima de 10.000 vidas.

  3. Abertura de novos canais de distribuição, além de TotalPass, iFood Benefícios e Claro.

Rubio resume a lógica para atacar empresas maiores: “Cada conta com essas grandes empresas tem um ticket médio muito maior. Se o cliente assina comigo, ele fica no mínimo de 10 a 12 anos.”

O futuro da Starbem

Os próximos meses marcam a entrada mais intensa da empresa na camada tecnológica do cuidado.

A Starbem já opera ferramentas próprias de IA — como sistemas de triagem emocional e cardápios nutricionais inteligentes — e quer acelerar o ritmo.

“A gente quer crescer desproporcionalmente nas vendas diretas B2B e criar novos produtos de IA. Não é para substituir o cuidado humano. É para liberar tempo, reduzir burnout e aumentar adesão”, afirma.

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