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A reestruturação da Karsten

Saiba como a frabricante de produtos têxteis para cama, mesa e banho saiu do prejuízo.

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de julho de 2012 às 13h44.

A Karsten, terceira maior fabricante nacional de produtos têxteis para cama, mesa e banho, com sede no bairro Testo Salto, distante 20 quilômetros do centro de Blumenau, em Santa Catarina, está passando pelo maior processo de reestruturação de sua história. Em 125 anos de existência, essa empresa de origem alemã só havia sido dirigida por descendentes do fundador, Johann Karsten.</p>

Até que, em 2006, um prejuízo jamais visto nos balanços da companhia, de 23,5 milhões de reais, resultado principalmente das exportações em época de real supervalorizado, levou as famílias controladoras a rever seus conceitos.

Era chegada a hora de abrir o gueto. A Karsten contratou a consultoria Keseberg & Partners para buscar no mercado um executivo familiarizado com empresas de cultura alemã. O escolhido foi Luciano Eric Reis, 55 anos, ex-Telefunken, Bosch e Kavo do Brasil.

 Com a chegada do primeiro presidente profissional em mais de 120 anos, muita coisa mudou na Karsten. Uma postura estratégica decidida há décadas -- manter um equilíbrio entre as vendas externas e internas - teve que ser revista.

Até 2004, mais da metade do faturamento da empresa vinha de outros países. Em 2005, o percentual caiu para 46%, em 2006 para 38%. Em 2007 representaram 20% do faturamento de 323,3 milhões de reais e este ano não devem ultrapassar 15%. No ano passado, pela primeira vez em 32 anos, a Karsten deixou de participar da Heintex, em Frankfurt, na Alemanha, uma feira internacional que é referência em produtos de cama, mesa e banho.

"Não dá para montar um estande para servir caipirinha e bater papo", diz Reis. A Karsten também fechou a subsidiária que tinha nos Estados Unidos, a Karsten América. O país recebia 20% das exportações da empresa. Agora, o pouco que é exportado, vai para países da América Latina, mais próximos geográfica e culturalmente.

 Longevas e familiares como a Karsten, há muitas empresas do setor, quase todas operando, como ela, no centro do maior pólo têxtil do Brasil: o Vale do Itajaí. A Hering é de 1880, a Döhler, de 1881, a Buettner, de 1898, a Lepper, de 1907 e a Teka, de 1926.


O que chama a atenção no caso da Karsten é que sua trajetória tem sido bastante regular e a empresa se mostrava menos suscetível que grande parte da concorrência às constantes crises que afetam o setor. Na década de 90, quando muitas companhias têxteis estavam com seus parques fabris obsoletos e foram atingidas em cheio pela concorrência externa com a abertura do mercado, a Karsten não amargou um prejuízo sequer. Dessa vez, foi diferente.

Como acontece nessas horas, a ineficiência fica mais evidente. Os altos custos também. Por isso, o novo presidente teve que fazer uma reestruturação profunda, cortando custos e redefinindo processos. Começou demitindo mais de 450 funcionários, fechando escritórios regionais e uma fábrica de fios no Ceará.

Para que todos os funcionários entendessem a necessidade das mudanças, foram introduzidas reuniões trimestrais com todos os funcionários nas quais são apresentados os números da companhia. Além disso, a cada dois meses, entre 20 e 25 funcionários são sorteados para participar do café com a diretoria.

Nessa ocasião, cada um pode fazer a pergunta que quiser à direção, sem constrangimento. Os quase 3 000 funcionários da empresa parecem ter assimilado bem as mudanças. Eles participaram de um programa de qualificação que introduziu mudanças nos conceitos de produção. Em vez de trabalhar em linha de produção, os funcionários passaram a operar em células de manufatura e com sistema Toyota de produção.

Os resultados logo apareceram. Em 2006, cerca de 20% da produção tinham defeitos, ou seja, eram de segunda qualidade. Luciano estipulou uma meta de chegar a 16% em 2007. Os funcionários conseguiram chegar a 14%. Este ano, a meta era de 13%, mas apenas nos cinco primeiros meses já está em 11,3% da produção de segunda qualidade.

Na área de segurança os números também mostram evolução. Em 2006, houve 55 acidentes com afastamento do trabalho. Em 2007, este número caiu 50%. Para este ano, a meta é não ultrapassar 12 casos. Até agora só ocorreu um. O recorde anterior, de 26 dias sem acidentes, está em 136 dias.


Na área comercial, houve uma completa reestruturação do portfólio de produtos, com a extinção de algumas linhas de produtos e a redução de 4.000 para 2.000 no número de itens produzidos. Entre os itens que saíram de linha estão roupões, toalhas de praia e produtos licenciados que exigiam maior complexidade industrial e não traziam o retorno esperado.

Simultaneamente, foi lançada uma segunda marca, a Casa In, para produtos mais populares. A previsão inicial era que essa marca alcançasse 20% de participação nas vendas em 2007 - ela foi lançada em abril do ano passado. Já representa 35% das vendas. "Há 20 milhões de pessoas no país ascendendo para a classe C", diz Reis.

No ano passado, a Karsten colheu os primeiros resultados da reestruturação. Foi a única entre as três primeiras do ranking (Coteminas, Teka e Karsten) a ter resultado positivo, de 11 milhões de reais. A Coteminas teve prejuízo de 257 milhões e a Teka, de 89,7 milhões de reais(A TEKA é a segunda do ranking, com faturamento de 367,6 milhões de reais em 2007).

Nos primeiros três meses deste ano, com essas medidas (além de redução de custos e reposicionamento), a Karsten teve resultado positivo de 4,9 milhões de reais.

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