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A poderosa empresa de bananas desejada por Safra e Cutrale

A Chiquita já apoiou golpes de governo, milícias e exerceu poder sobre a política na América Central


	Chiquita Brands International: seu poder foi se espalhou pela América Central e fomentou assassinatos, acusações de exploração de trabalhadores, influência em governos e financiamento de milícias
 (David Paul Morris/Bloomberg)

Chiquita Brands International: seu poder foi se espalhou pela América Central e fomentou assassinatos, acusações de exploração de trabalhadores, influência em governos e financiamento de milícias (David Paul Morris/Bloomberg)

Karin Salomão

Karin Salomão

Publicado em 16 de outubro de 2014 às 14h45.

São Paulo – O banco Safra e a produtora brasileira de suco de laranja Cutrale ampliaram sua oferta pela Chiquita Brands International, distribuidora de frutas dos Estados Unidos.

Safra e Cutrale não a pretendem comprar a preço de banana: ofereceram 14 dólares por ação em dinheiro aos acionistas em "oferta hostil", segundo comunicado divulgado pelo Cutrale-Safra nesta quarta-feira.

A proposta avalia a Chiquita em cerca de 658 milhões de dólares, ou o equivalente a 12,4 vezes os lucros anuais antes de juros, impostos, depreciação e amortização.

A produtora de bananas está em processo de fusão com a irlandesa Fyffes, temporariamente paralisado por conta da proposta das brasileiras. A fusão, anunciada em março de 2014, criará a maior empresa do setor de bananas do mundo. A nova companhia, batizada de ChiquitaFyffes, terá receitas anuais de 4,6 bilhões de dólares (3,3 bilhões de euros).

Quando esta operação por troca de ações for executada, os acionistas da Chiquita possuirão aproximadamente 56,9% da nova companhia, e os da Fyffes os 43,1% restantes.

Início da empresa

A Chiquita é hoje uma das maiores produtoras de banana do mundo. A história da empresa começou pequena, em 1870. Porém, seu poder foi se espalhando pela América Latina e fomentou assassinatos, acusações de exploração de trabalhadores, influência em governos e financiamento de milícias paramilitares.

O embrião da companhia nasce com os empreendimentos de pioneiros norte-americanos em ilhas caribenhas. Em 1870, o capitão Lorenzo Dow Baker, comprou 160 cachos de banana na Jamaica e revendeu em Jersey, Estados Unidos. Quinze anos depois, Baker se uniu com Andrew Preston para criar a Boston Fruit Company.

Na Colômbia, outro empresário também estava investindo em bananas. Minor C. Keith começou a construir uma ferrovia na Costa Rica em 1887. Para garantir passageiros para seus trens, passou a plantar bananas nas margens da ferrovia. 

Keith se uniu à Boston Fruit Company para criar a United Fruit Company, em 1899. Passaram a distribuir frutas frescas para o interior dos Estados Unidos e a investir em navios - a frota chegou a 95 navios em 1930.

República das Bananas

A United Fruit Company foi uma das empresas que popularizou o termo República das Bananas. A expressão foi cunhada por O. Henry,  humorista e cronista estadunidense, entre 1896 e 1897. Designa um país latino-americano, politicamente instável, influenciado por um país rico e com governo opressor, dependente da exportação de produtos básicos, como a banana.

Na época, as empresas estadunidenses United Fruit Company e Standard Fruit dominavam a produção de frutas no Caribe, Honduras e Guatemala. A United Fruit chegou a ser nos anos 1930 a maior empregadora da América Central. Para manter-se poderosa, exercia influência sobre a política local. Nos anos 1950, pressionou a Casa Branca a apoiar um golpe e derrubar o presidente da Guatemala.

Em 1941, a empresa ganhou um ar mais leve, para fugir da má fama associada ao seu nome. Renomeada de Chiquita, ganhou a mascote Miss Chiquita, assim como seu jingle. Tornou-se Chiquita Brands Internacional em 1990.

A empresa declarou falência em 2001, enquanto Carl H. Lindner, Jr. era presidente da Chiquita Brands International. Recuperou-se em março de 2002.

Milícias e assassinatos

A influência da empresa na América Latina ia além de acordos com governos. Em 2007, a Chiquita declarou-se culpada de pagar US$ 1,7 milhão aos paramilitares colombianos entre 1997 e 2004. A empresa foi condenada a pagar uma multa de US$ 25 milhões.

A Chiquita Brands admitiu nos tribunais que entre 1987 e 1999 pagou às Farc para proteger suas plantações de banana do Exército Popular de Libertação (EPL), um grupo guerrilheiro rival.

A proteção não deu muito certo. Por conta da instabilidade política na região e de brigas entre as milícias armadas, 931 trabalhadores da empresa foram assassinados em zonas bananeiras de Urabá, na Colômbia.

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