Redação Exame
Publicado em 8 de novembro de 2024 às 07h07.
O franchising brasileiro ocupa uma posição de destaque na economia nacional, mas seu sucesso contínuo dependerá da capacidade de adaptação e da eficácia na colaboração entre franqueadora e franqueados. Em um mercado cada vez mais dinâmico, a função de cada uma dessas partes precisa ser redefinida e aprofundada para garantir o crescimento sustentável.
A relação entre franqueadora e franqueados não pode mais ser baseada apenas em repasses de know-how e execução operacional. O contexto atual exige um alinhamento estratégico robusto, onde ambos os lados compreendam e desempenhem seus papéis de maneira integrada e proativa.
A franqueadora deve assumir o papel de catalisadora de inovação e desenvolvimento. Sua função vai além de fornecer um modelo de negócios comprovado. Cabe a ela monitorar constantemente as mudanças do mercado, identificar novas tendências e tecnologias e traduzi-las em soluções práticas que possam ser rapidamente implementadas na rede.
Isso inclui a criação de estratégias de médio e longo prazo, que considerem os desafios e oportunidades específicos de cada mercado em que a franquia atua. Além disso, é responsabilidade da franqueadora estabelecer processos eficientes de comunicação e treinamento, garantindo que os franqueados recebam informações e orientações de forma clara e em tempo hábil.
Por outro lado, o franqueado deve ser visto como mais do que um operador local. Ele precisa atuar como um gestor estratégico, entendendo profundamente as dinâmicas do mercado regional e as expectativas dos consumidores locais.
Para isso, é fundamental que os franqueados estejam capacitados a analisar dados e interpretar métricas operacionais e de desempenho fornecidas pela franqueadora. A implementação de tecnologias avançadas, por exemplo, só será eficaz se os franqueados souberem utilizá-las corretamente e se tiverem a capacidade de adaptá-las às particularidades de sua operação.
A sinergia entre franqueadora e franqueados se torna especialmente crucial em um ambiente de negócios onde a inovação e a eficiência operacional são fundamentais para o crescimento. A franqueadora deve proporcionar acesso a ferramentas tecnológicas que otimizem processos como gestão de estoque, logística e atendimento ao cliente.
No entanto, é indispensável que os franqueados não apenas adotem essas ferramentas, mas também forneçam feedback contínuo sobre sua eficácia, contribuindo para o aprimoramento do sistema como um todo.
Outro aspecto crítico dessa relação é o alinhamento em relação à sustentabilidade e responsabilidade social. A franqueadora deve liderar o desenvolvimento de práticas sustentáveis que possam ser aplicadas em toda a rede, enquanto os franqueados devem garantir sua execução fiel em cada ponto de operação.
A implementação de processos de economia circular, por exemplo, só será bem-sucedida se houver uma compreensão clara dos objetivos e das métricas de desempenho relacionadas à sustentabilidade. Essa colaboração não só fortalece a imagem da marca, mas também atende às exigências de consumidores cada vez mais conscientes.
A governança também é um elemento que precisa ser fortalecido. O franchising depende de uma estrutura clara de responsabilidades e de um processo decisório que envolva ambas as partes.
A franqueadora deve manter uma postura de liderança e supervisão estratégica, enquanto os franqueados devem participar ativamente das decisões operacionais e contribuir com insights baseados em sua experiência no campo. Para que essa estrutura funcione, é essencial que ambas as partes confiem uma na outra e compartilhem o compromisso com os objetivos de longo prazo da rede.
Além disso, a cultura de inovação deve ser incentivada em todos os níveis. A franqueadora deve criar espaços para a experimentação controlada, permitindo que franqueados testem novas abordagens ou modelos operacionais em determinados mercados antes de sua implementação em toda a rede. Esse processo colaborativo fortalece a relação entre as partes e promove uma mentalidade de melhoria contínua, fundamental para manter a relevância da franquia em um mercado altamente competitivo.
A sustentabilidade do franchising brasileiro dependerá da capacidade de todos os envolvidos de se adaptarem rapidamente às mudanças. As franqueadoras que investirem em inovação, governança eficiente e suporte estratégico estarão melhor posicionadas para liderar o mercado.
Os franqueados que se dedicarem ao desenvolvimento contínuo de suas competências e à aplicação local de estratégias globais também terão um papel essencial no crescimento da rede. Esse alinhamento estratégico será a base para um franchising forte e resiliente, capaz de sustentar seu papel como um dos principais motores da economia brasileira.
O franchising continuará nas mãos de franqueadores, franqueados, fornecedores e consumidores; até aqui nada muda. Entretanto, essas mãos precisam ter um histórico de boa conduta, vontade de fazer um crescimento sustentável e, mais do que nunca, simbiose entre todos os stakeholders.
Para fechar, trago uma frase da Kate Ancketill, uma amiga do varejo internacional e uma das melhores palestrantes da NRF nos EUA: "O sucesso no varejo de amanhã será definido pela capacidade de antecipar e responder às necessidades em constante evolução dos consumidores."
* Julio Monteiro atua no franchising há 24 anos, é sócio da Megamatte, do Grupo Rhodium e diretor vice-presidente da Associação Brasileira de Franchising Seccional Rio de Janeiro.