Alexandre Bornschein Silva, CEO da Catarinense: “Trinta e cinco por cento da nossa receita projetada virá de produtos que ainda não existem hoje” (Catarinense /Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 1 de agosto de 2025 às 09h59.
Tratar uma tosse com Melagrião é algo comum — especialmente se você cresceu no Sul do Brasil.
Mas a farmacêutica Catarinense, dona do xarope, quer ir além da memória afetiva.
A empresa se prepara para dobrar de tamanho até 2029, de olho na meta de chegar ao primeiro bilhão de reais em receita.
Aos 80 anos, a companhia de Joinville está redesenhando sua estratégia.
Controlada pela mesma família desde a fundação, a Catarinense aposta no crescimento da suplementação, na ampliação nacional da marca-mãe e em um portfólio cada vez mais conectado com o consumidor final.
A mudança de posicionamento foi anunciada junto a um rebranding completo: a empresa retirou o “Pharma” do nome e adotou a assinatura “Catarinense – A fonte da saúde do Brasil”. O movimento marca uma guinada de linguagem e público-alvo.
“O consumidor final precisa reconhecer na Catarinense uma aliada cotidiana em sua jornada de saúde e bem-estar”, afirma Alexandre Bornschein Silva, CEO e bisneto do fundador.
“A definição de saúde mudou. Hoje, envolve viver bem, com equilíbrio e autonomia. A Catarinense vem evoluindo junto com esse conceito”, diz Bornschein.
Segundo ele, 70% do portfólio atual está voltado à prevenção, com foco em produtos como ômega 3, polivitamínicos e, mais recentemente, creatina.
Para sustentar o crescimento, a empresa já investe em uma nova planta industrial, com orçamento previsto de 80 milhões de reais.
Também aumentou sua equipe de P&D e prevê o lançamento de mais de 200 produtos até o fim da década.
A história da Catarinense começa bem antes de 1945.
No início do século passado, o bisavô do atual presidente fundou a Farmácia Minerva em Curitiba, expandindo depois para Santa Catarina. Em 1919, ele inaugurou a Drogaria Catarinense em Joinville, marco inicial do que viria a se tornar o laboratório atual.
Com a regulamentação que proibiu a manipulação de medicamentos dentro de farmácias, em 1945 nasceu o Laboratório Catarinense.
“Meu bisavô teve uma visão: ele comprou fórmulas exclusivas, fundou a indústria e deixou claro o propósito desde o início: ser fonte de saúde”, diz Alexandre.
O Melagrião entrou para a empresa por meio da compra de uma fórmula antiga, ainda nos anos 1940. Desde então, passou por várias reformulações e se tornou um dos xaropes mais populares do país.
“Hoje, usamos mel puro e somos provavelmente o maior comprador de mel do Brasil. Fabricamos até nosso próprio insumo farmacêutico vegetal”, afirma o CEO.
A farmacêutica cresceu acompanhando as mudanças na definição de saúde.
“Em 1945, saúde era ausência de doença. Hoje é qualidade de vida, prevenção, autonomia. Nosso portfólio evoluiu com esse conceito”, diz. Atualmente, a empresa é líder nacional na categoria de ômega 3.
Com sede em Joinville e unidade industrial em Aparecida de Goiânia, a Catarinense tem 660 funcionários e cerca de 300 representantes comerciais.
Os produtos estão em 90.000 farmácias no país.
“Somos mais fortes no Sul, mas estamos expandindo. A nova marca mostra que somos do Brasil, não só de Santa Catarina.”
Alexandre assumiu a presidência há cinco anos. É a quarta geração da família no comando. “Sou o quinto presidente e costumo dizer que estou escrevendo os próximos 70 anos. Depois, passo o bastão.”
O trabalho de sucessão já começou. A empresa criou o “conselho do futuro”, que reúne filhos e sobrinhos da nova geração para conhecer os bastidores do negócio. “A empresa não chega aos 100 anos com sorte. Chega com cultura, estrutura e pessoas comprometidas com a continuidade.”
A meta da Catarinense é clara: dobrar o faturamento até 2029.
Para isso, a empresa aposta em três eixos estratégicos: novos produtos, novos canais e aumento de eficiência comercial.
A frente mais forte é o portfólio. São mais de 40 profissionais atuando no time de P&D. A empresa lançou 20 novos produtos em 2025 e prevê mais de 200 nos próximos anos.
“Trinta e cinco por cento da nossa receita projetada virá de produtos que ainda não existem hoje”, afirma Alexandre.
A linha de suplementos tem ganhado destaque. A empresa entrou recentemente no mercado de creatina e planeja ampliar sua atuação com repositores proteicos e produtos de nutrição esportiva.
“Trabalhamos com padrão farmacêutico mesmo nos suplementos. A Anvisa vai subir a régua do setor, mas estamos preparados porque sempre operamos nesse nível.”
Outro pilar é a ampliação dos canais de venda. A Catarinense já está presente em supermercados, lojas especializadas e redes de associativismo, além das farmácias. “Queremos chegar direto ao consumidor, mas sem abandonar o canal farma, que é parte da nossa história.”
O time também cresce. “Estamos contratando, investindo em gente com visão de mercado, mas alinhada com os valores da casa. O novo e o tradicional têm que caminhar juntos. Quando isso acontece, o resultado é exponencial.”
O mercado de suplementos vive uma explosão de novos players, muitos nascidos após a pandemia. Mas a entrada é fácil — e a regulação ainda é branda.
“Tem de tudo. De grandes multinacionais a marcas de bairro feitas em galpões. Mas a Anvisa já está apertando as regras, e isso deve filtrar muita coisa”, diz o CEO.
Segundo ele, a Catarinense não se preocupa com a concorrência em si, mas com o mercado. “Se eu ficar olhando o concorrente, entro num jogo de gato e rato. A gente olha para a oportunidade.”
Apesar de ser muito reconhecida entre donos de farmácia e prescritores, a marca Catarinense ainda é pouco conhecida pelo consumidor final. O rebranding mira esse ponto. “Queremos que o cliente entenda que o mesmo laboratório que faz o Melagrião também faz o polivitamínico e a creatina que ele consome.”
A nova estratégia envolve aumentar a venda direta por representantes próprios, para garantir melhor exposição no ponto de venda.
“O nosso vendedor vai à farmácia, entende o dono, fecha melhor negócio. Ganha a indústria, o varejo e o consumidor. É um ciclo virtuoso.”
Além da estratégia comercial, a empresa aposta na cultura como motor de longo prazo. Os pilares internos são claros: alegria, humildade e honra. “Trabalhar deve ser prazeroso. A gente passa a maior parte da vida aqui. Então, tem que fazer sentido”, diz Alexandre.