Pedro, Darlene, Spencer, Isabela e Ricardo Rodrigues: “O crescimento da empresa depende da profissionalização. Estamos construindo bases sólidas para dobrar de tamanho com a estrutura atual” (Milho de Ouro/Divulgação)
Freelancer na EXAME
Publicado em 25 de outubro de 2025 às 08h10.
O mercado brasileiro de salgadinhos e snacks ainda engatinha, pelo menos, é o que aponta a indústria do setor.
O consumo per capita é de 1,8 quilo por ano — cerca de três pacotes por mês —, enquanto no México esse número chega a 4,5 quilos e a média global ultrapassa 5 quilos, de acordo com levantamento feito Abre, a Associação Brasileira de Embalagem.
A diferença revela o tamanho da oportunidade que fabricantes locais têm para crescer, mesmo em um setor controlado por multinacionais.
É nesse espaço que a Milho de Ouro, empresa familiar fundada em 1992, tenta consolidar sua presença nacional.
A companhia, dona da marca Lobits, acaba de unificar todo o portfólio sob um único nome, em uma estratégia para ampliar visibilidade nas gôndolas, facilitar o reconhecimento da marca e conquistar novos consumidores.
Hoje, a Milho de Ouro produz mais de 700 toneladas de salgadinhos por mês, com capacidade de dobrar o volume para 1.400 toneladas nas duas fábricas em Embu das Artes, na Grande São Paulo.
O objetivo é fechar 2025 com 130 milhões de reais em faturamento, crescimento de 30% em relação ao ano anterior.
Para 2026, a expectativa é que fique entre 180 milhões e 200 milhões de reais.
“Nosso foco é oferecer salgadinhos de qualidade a um preço mais acessível. Muitas vezes o consumidor quer ter opções, mas encontra barreiras de preço. Atuamos para ampliar o acesso, oferecendo alternativas de qualidade com valor justo”, afirma Pedro Rodrigues, diretor comercial da Milho de Ouro e membro da segunda geração da família fundadora.
Nunca esteve nos projetos da família entrar para o ramo de salgadinhos.
Na verdade, tudo aconteceu por acaso, como conta Rodrigues.
“Minha mãe, a dona Darlene, é assistente social por formação, mas para ajudar a compor a renda da família, tinha uma confecção em Amparo, interior de São Paulo, até 1992,”, afirma Rodrigues.
Com o fechamento do negócio, Darlene passou a pesquisar outros caminhos para empreender.
E o conselho de um amigo da família foi um divisor de águas: “invista em alimentação, as pessoas nunca vão parar de comer.”
Por intermédio desse amigo, que o casal Darlene e Spencer Rodrigues, foram visitar uma fábrica de salgadinhos em Ribeirão Preto e decidiram entrar no negócio. Começou com uma capacidade produtiva de 80 quilos de hora quando eles compraram essa máquina.
Por 12 anos, terceirizaram a produção para outras empresas, até que em 2009, com o fim da parceria, lançaram uma marca própria, a Lobits e foi o primeiro passo para um processo de profissionalização da empresa, organizando a parte logística, de distribuição e a administrativa.
Com mais de três décadas de história, novamente a Milho de Ouro vive uma transição de perfil. Sob liderança de Darlene, fundadora e CEO, e com os filhos Pedro, Isabela e Ricardo à frente das operações, a empresa adota um ritmo mais profissionalizado.
Nos últimos anos, implantou o sistema SAP de gestão, o CRM Salesforce, certificações internacionais de qualidade e uma política de degustações em mil pontos de venda até o fim de 2025.
Também reforçou a área de recursos humanos, com programas de capacitação e apoio psicológico para os 230 funcionários.
“O crescimento da empresa depende da profissionalização. Estamos construindo bases sólidas para dobrar de tamanho com a estrutura atual”, afirma Pedro.
Hoje, a empresa está presente em mais de 20.000 pontos de venda no país, com forte atuação em São Paulo, e começa a expandir para o Rio de Janeiro e outras regiões do Sudeste.
Segundo a Scanntech, a Milho de Ouro cresce 16,7% ao ano nas regiões Sul e Sudeste — mais que o dobro da média de mercado, de 7,8%. A Lobits já ocupa a segunda posição em salgadinhos de milho nas embalagens menores da Grande São Paulo.
Concorrer com multinacionais não é o único desafio.
A empresa também precisa responder ao avanço da pauta da alimentação saudável e aos novos selos de advertência, as tarjas chamadas de black labels, que indicam excesso de sódio ou gordura.
“Estamos diminuindo o teor de sódio e óleo em várias linhas para evitar os selos de alerta”, afirma Pedro.
A Milho de Ouro já terceiriza a produção de itens para marcas do segmento saudável, como Mãe Terra, e prepara para os próximos dois anos o lançamento de uma linha própria de snacks com óleo de girassol e milho orgânico.
A meta é atender ao público que busca produtos mais naturais, mas sem abrir mão do preço acessível que sustenta o crescimento da categoria.
Para o futuro, há no radar também novos sabores de Lobits, embalagens familiares de 200 gramas e ações promocionais ligadas à Copa do Mundo.
A estratégia é simples: ganhar escala mantendo a essência. “A Lobits é uma marca 100% brasileira, com produção local e fornecedores próximos. Isso reduz custos e nos permite responder rápido às mudanças do varejo”, afirma Pedro.