Mauro Bortolanza, fundador e Diretor Presidente da Kicaldo: “Começamos pequenos, uma empresa familiar, e fomos trabalhando ano após ano para crescer” (Evandro Dorta / Kicaldo/Divulgação)
Repórter de Negócios
Publicado em 3 de janeiro de 2024 às 08h02.
Última atualização em 17 de janeiro de 2024 às 14h44.
Ele é quase um membro honorário das famílias brasileiras. Na mesa do almoço ou do jantar, a receita é certa: arroz, uma proteína e ele, o feijão. E há de vários tipos. Preto, vermelho, branco, fradinho, carioca e por aí vai.
Na mesa da família Bortolanza, o feijão também é o trabalho e a fonte de renda.
A família é dona da Kicaldo, uma das maiores marcas de feijão do Brasil, com forte atuação principalmente no sudeste, centro-oeste e nordeste brasileiro. A empresa, que acabou de comemorar seus 25 anos, fechou 2023 com uma receita de 1,2 bilhão de reais e crescimento de 10% em volume de vendas em relação ao ano passado.
A porcentagem é semelhante a quanto querem crescer, também, em 2024. Para isso, estão concluindo um investimento de 45 milhões de reais em sua nova fábrica localizada em Feira de Santana, na Bahia, com inauguração prevista para meados de agosto. A unidade será totalmente automatizada desde a chegada do feijão da lavoura até a expedição.
“Sabe aquilo que as crianças faziam quando chegavam na escola, de ajudar a mãe a separar o feijão?”, diz Mauro Bortolanza, fundador e Diretor Presidente da Kicaldo. “Numa produção industrial, essa seleção é feita por meio da tecnologia. E na nossa fábrica, vai ter muita tecnologia. Da lavoura à expedição, ninguém coloca a mão no feijão. É tudo automatizado”.
Além de automatizar o processamento do feijão, a nova fábrica também abrirá caminho para a diversificação do portfólio. A empresa visa aumentar as vendas em produtos como ervilha, lentilha, grão de bico, farináceos de mandioca e milho de pipoca.
Esse último, aliás, é uma das apostas da Kicaldo. A expectativa é crescer entre 30% e 40% nas vendas deste produto.
Apesar de ter nascido em São Paulo, a Kicaldo tem origem, mesmo, em Santa Catarina. É de lá que vieram os Bortolanza. Inicialmente, eles compravam feijão de grandes produtores, como os próprios catarinenses e paranaenses, para vender a granel em feiras e mercados de outras partes do país, como São Paulo e Bahia.
“Até os anos 1990, era comum comprar feijão a granel nos supermercados”, afirma Bortolanza. “Com o tempo, os consumidores passaram a buscar por opções mais práticas, e aí se popularizou os saquinhos de feijão”.
Foi nessa época que a família decidiu puxar a marca Kicaldo, que em 2000 abriu sua primeira fábrica, em Barueri. Foi por meio desta unidade que a marca chegou a grandes varejistas como Carrefour e Pão de Açúcar. Em 2005 que a marca expandiu a atuação para todo o país, atingindo em 2012 presença em 100% dos estados brasileiros.
“Começamos pequenos, uma empresa familiar, e fomos trabalhando ano após ano para crescer”, diz o fundador. “Não foi isso de pensar em 20 anos, 30 anos. Pensávamos sempre como crescer anualmente, um degrau por vez”.
Hoje, além da fábrica de Barueri, tem outra na Bahia, que será desativada assim que a nova, de R$ 45 milhões de reais, abrir, em meados do ano que começa.
Por lá, já são líderes de mercado, marco que repetem em, principalmente, outras capitais do Nordeste.
Apesar das fábricas, que processam e ensacam os grãos, a Kicaldo não tem plantação. “Fazemos o elo de ligação entre o varejo e o produtor”, diz. “Temos uma equipe de campo que visita produtores o tempo inteiro para saber se o grão está no padrão de qualidade da nossa empresa. É uma equipa treinada só para isso. É assim que trabalhamos”.
O prato pode até ser típico e, praticamente, uma característica do Brasil, mas a realidade é que o consumo per capita de feijão cai no país. Além disso, há um desafio de crescimento que é típico do setor de alimentos básicos, como farinha doméstica de trigo, por exemplo: o aumento de vendas costuma estar condicionado ao crescimento da própria população.
“Eu vejo vários cenários para a queda no consumo per capita”, diz Bortolanza. “Um é há mais pessoas fora de casa, o que incentiva o consumo em restaurantes, e nem sempre há feijão em todos restaurantes. Depois, que se popularizou outras gastronomias no Brasil que não usam o grão. E por fim, identificamos também que há um medo das gerações mais novas de usar panela de pressão, e até isso influencia”.
A Kicaldo, porém, está pronta para implantar estratégias para reverter essa tendência. A empresa contratou chefs de cozinha e influenciadores digitais para destacar a versatilidade e saúde do feijão, e eliminar os medos em relação ao cozimento.
“Mas para crescer mesmo, além de recuperar o consumo, é pegando o montinho da concorrente”, diz. “Para isso, é preciso ser extremamente eficiente nas indústrias, buscando redução de custos em todas as etapas da cadeia para ser competitivo”.
Hoje, uma das principais concorrentes da empresa é a Camil, que em 2022 atingiu receita líquida recorde de 10,2 bilhões de reais - mas além do feijão, o portfólio da companhia é grande: tem arroz, café, massa e biscoitos.
Com uma fábrica em São Paulo, que processa 10.000 toneladas de feijão por turno, atendendo diversos estados, e a nova fábrica na Bahia, a empresa busca uma expansão sustentável, visando um crescimento médio de 10% no volume de feijão e demais produtos em 2024.
A nova fábrica, totalmente automatizada, terá robôs que fazem a paletização das cargas e a seleção de grãos.
A planta já está em construção e deve ficar pronta no início do segundo semestre. A aposta de Bortolanza é que possa inaugurar a operação em agosto.
“A nova indústria de beneficiamento reforçará a presença da marca no mercado”, afirma o executivo. “Queremos aumentar o volume de vendas em diversos produtos. Não somos só uma empresa de feijão, queremos ser uma referência também em mercearia seca. Nossa meta é sermos vistos como a empresa principal nas refeições nutritivas do brasileiro”.