HOPI HARI: o parque deve reabrir no dia 7, mas os funcionários ainda não foram informados; as dívidas chegam a 300 milhões de reais / Divulgação
Da Redação
Publicado em 30 de agosto de 2016 às 18h27.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h02.
O mês de agosto sempre foi um dos mais movimentados no Hopi Hari, parque de diversões localizado em Vinhedo, no interior de São Paulo. A principal atração é a ‘Hora do Horror’, que combina todo tipo de assombração inspirada no Halloween em um evento com dois meses de duração. Acontece desde a inauguração do parque, em 1999.
Mas em 2016 foi diferente. Com o parque fechado, o evento já foi cancelado duas vezes. O que era para ser o período de maior arrecadação acabou virando uma sombria metáfora do próprio parque, que entrou com pedido de recuperação judicial na última semana.
Enquanto isso, os clientes estão revoltados com as mudanças no cronograma. Agências de turismo que organizam excursões reclamam da falta de comunicação. “O parque se recusa a ressarcir nossos prejuízos com locação de transporte e devolução de clientes”, diz Rafael Gasparello, da Gasparello Turismo, de Piratininga, interior de São Paulo, que tinha programado uma visita com cerca de 250 clientes em agosto.
Com crise e tudo, o Hopi Hari afirma que há 400.000 reservas para a Hora do Horror, uma alta de 40% ante o ano passado, e que a nova previsão é começar a atração no dia 21 de setembro.
Isso, claro, se o Hopi Hari chegar até lá. Com o parque fechado há três semanas, há relatos de atraso nos pagamentos dos 600 funcionários, que já realizaram duas paralisações neste ano. Uma funcionária, que preferiu não se identificar, afirmou que os problemas com os salários são recorrentes desde meados de 2015, mas que o parque se comprometeu a acertar os honorários até o início de setembro. “Eles já avisaram que haverá algumas demissões na nova fase do parque”, diz.
A advogada do Sindicato Empregados Casas Diversões de São Paulo (Sindiversão), Evelin Cruz, afirmou que a maior parte dos funcionários está em recesso em agosto e que as negociações para o pagamento de salários atrasados caminham lentamente. “Estamos esperando a reabertura do parque e dando um tempo para eles se organizarem”, diz. Segundo ela, apesar de o Hopi Hari divulgar em seu site que voltará a funcionar em 7 de setembro, o aviso ainda não foi oficializado para os trabalhadores.
Uma nova tentativa
O Hopi Hari tem uma dívida estimada em 300 milhões de reais – dos quais 200 milhões de reais contraídos com o BNDES – e não tem conseguido gerar caixa. O faturamento é estimado em 100 milhões de reais por ano. O pedido de falência foi protocolado no dia 24 de agosto e deve demorar cerca de 60 dias para ser avaliado. É o limite de uma crise que começou na crise de 2008 e se acentuou há quatro anos.
Em 2012, uma visitante morreu após cair do brinquedo La Tour Eiffel, um elevador que despenca em alta velocidade. O acidente levantou dúvidas sobre a estrutura do parque e fez as visitas despencarem. No pedido de falência, o parque informa que “as repercussões negativas do acidente e a suspensão temporária das atividades em março de 2012 ocasionaram uma drástica redução no número de visitantes, comprometendo resultados operacionais”.
Segundo um executivo que já trabalhou no parque, o episódio de 2012 foi apenas mais um capítulo de uma gestão problemática. De acordo com ele, em janeiro e fevereiro deste ano houve o maior pico de visitantes desde 2008, com 95.000 pessoas por mês. “Mesmo assim, a crise financeira acabou comprometendo a receita do parque, que precisou baratear o ingresso para não perder o volume de clientes”, afirma. Os ingressos são vendidos por 99 reais antecipadamente e 129 reais na bilheteria – o que, como se vê, não dá para pagar as contas.
O Hopi Hari foi idealizado para ser o centro de um complexo de entretenimento inspirado na Disney pelo grupo Playcenter. Mas nunca decolocou como negócio. Em 2009, seu controlador, o fundo de investimentos GP, vendeu o empreendimento por um centavo para um grupo de sócios da empresa de reestruturação Íntegra Assessoria. Em maio de 2015, o parque mudou novamente de mãos – agora é controlado pelo empresário Luciano Correa, ex-GP. Procurado por EXAME Hoje, ele não concedeu entrevista.
Desde então, a briga para manter o parque funcionando está acirrada. Em janeiro, o Hopi Hari obteve uma liminar que suspendeu o protesto de uma dívida no valor de 5,9 milhões de reais, realizado pelo credor Cesar Augusto Federmann, um dos donos sócio do complexo imobiliário onde o parque está instalado. De lá pra cá, a companhia enfrentou outros quatro pedidos de falência, de empresas de alimentação, de segurança e de manutenção, todos indeferidos.
Um dos motivos da briga com os credores é uma mega montanha-russa com 10 loopings que está desde 2011 no parque à espera de ser montada. Federmann pediu a montanha russa como garantia pelos pagamentos, numa queda de braço que se estende até hoje. As obras recomeçaram em 16 de julho deste ano e ainda não há uma previsão de conclusão da obra, e muito menos quem será o dono do brinquedo.
Entre as medidas de recuperação propostas pela empresa no documento apresentado à Justiça estão: a redução nos gastos gerais com a adoção de novas técnicas de gestão de custos; a aceleração das manutenções anuais preventivas nos equipamentos de forma a aumentar a capacidade operacional da companhia e atender à demanda dos visitantes durante a alta temporada; o corte de despesas e custos gerais da empresa. E por aí vai.
O plano é aumentar o número de visitantes em 20% a partir do último trimestre de 2016 e, com uma gestão mais moderna, ir aos poucos reduzindo a dívida. Tudo precisa dar muito certo para a hora do horror voltar a ser só uma atração para os visitantes do parque.