Martin Luther Candido e Silva: "Nós conseguimos de 15% a 20% de aumento de receita por mês dentro dos clientes" (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de Negócios
Publicado em 5 de agosto de 2023 às 08h01.
Última atualização em 4 de setembro de 2023 às 16h10.
A história de empreendedorismo de Martin Luther Candido e Silva, cofundador e CEO da Biti9, é cheia de referências - antes mesmo de nascer. O próprio nome carrega a força de uma personalidade gigante da história mundial na luta contra o preconceito e a discriminação racial, o ativista americano Martin Luther King Jr.
“Os meus pais escolheram pela representatividade deste nome para empoderamento de pessoas pretas, é uma chancela eterna que me diz por que estou aqui e para quem estou aqui”, afirma o cofundador e CEO da startup. Ele conta que os pais nunca foram ativistas, mas sempre souberam da importância da causa e da luta antirracista.
Foi em casa também que presenciou os sabores e desventuras do empreendedorismo logo cedo. A mãe, funcionária pública de uma grande empresa brasileira, dedicava parte dos proventos para investir na economia real. Teve restaurante, salão de cabeleireiros, lojas de costura, de roupa. Apesar dos esforços, cada negócio acabou por morrer em uma fase da vida.
“É como se eu estivesse em jogo de videogame e a cada fase visse um chefão e o que precisaria ser aprendido para seguir adiante. Eu tinha minha própria minissérie de empreendedorismo”, diz. As lições serviram para definir o caminho que o profissional rumaria ao deixar o ambiente corporativo e criar a própria empresa: empreender em algo que sabia fazer.
A Biti9 já nasceu em 2015 carregando os anos de experiência de Candido com tecnologia, jornada iniciada lá atrás, em 1995, quando ainda adolescente ganhou o seu primeiro computador de presente da mãe.
A startup, fundada por ele e pelo sócio Adalberto Cunha, amigo desde os tempos de faculdade, foi a terceira colocada na categoria de 2 a 5 milhões no ranking EXAME Negócios em Expansão 2023, com receita operacional líquida de R$ 4,2 milhões, 422% de expansão em relação a 2021. A Biti9 tem ainda outros dois sócios, Rodrigo Andrei Bento e Caio Rodrigo Aoki Sigaki.
Formado em sistemas de informação, Candido e Silva desenvolveu uma trajetória como gestor de projetos em empresas como o banco J.P. Morgan e a fabricante de cosméticos Natura. Na essência, tinha o trabalho de desenvolver e implementar novas tecnologias para facilitar os processos e, em meio a isso, promover a transformação da cultura para estimular o uso das ferramentas.
Quando decidiu pelo empreendedorismo em 2015, ele queria escalar os produtos na onda da chamada transformação digital - e acelerar a carreira. “Era a oportunidade de colocar em prática tudo o que aprendi e criar uma cultura dinâmica, alinhado ao que eu acredito e, obviamente, acelerar esse crescimento”, diz.
A startup começou como uma consultoria de tecnologia, alocando profissionais para acelerar a digitalização de processos em empresas como a montadora Caoa. E avançou com a Porto (ex-Porto Seguro) para o modelo atual, uma fábrica de robôs que automatiza todos aqueles procedimentos burocráticos, manuais e que ninguém gosta de fazer.
Os robôs são empregados em áreas como recursos humanos, compras e financeira dos clientes. Entre as atividades, fazem a leitura e validação de notas fiscais e processos de gestão de onboarding. Quando chega um novo profissional nas empresas, são as máquinas que cuidam de solicitar benefícios como VR e VA e todos os recursos. Na média, diz Silva, resolvem em 1 hora o que um ser humano demoraria 5 horas, uma taxa de produtividade em 80%.
Os serviços conquistaram grandes companhias como a rede de shopping centers Iguatemi, a cervejaria Petrópolis e a concessionária de recursos hídricos BRK Ambiental. Cada cliente tem em torno de 15 robôs, número que aumenta ano a ano.
“Nós conseguimos crescer expressivamente em alguns clientes e estabelecer jornadas, olhando não só para atividades específicas, mas automatizando processos inteiros”, afirma. Em 2022, por exemplo, 80% da receita veio da própria base, com os clientes fazendo a contratação de robôs para o uso em novas funcionalidades. “Nós conseguimos de 15% a 20% de aumento de receita por mês dentro dos clientes”.
O serviço da Biti9 funciona como no modelo SAAS (software as a service), e o cliente paga pelas horas de trabalho dos robôs. Outra camada consiste na chamada ‘gestão de mudanças’, para fazer com que as soluções sejam empregadas e usadas da melhor forma para garantir os resultados.
Ao mesmo tempo em que expande a atuação nos clientes, a Biti9 quer aumentar o volume de companhias que usam os seus robôs. O objetivo, em três anos, é alcançar um patamar de 200 empresas.
Para bater a meta, a startup trabalha com duas teses potenciais:
Os números deste ano, cuja estimativa de faturamento é na casa de R$ 35 milhões, 250% em comparação a 2022, vão ajudar a empresa a entender qual o caminho a seguir. Será a partir dessa definição que a Biti9 deve ir ao mercado em busca de recursos. Desde que foi fundada, a empresa recebeu apenas um aporte da Hotmart, no valor de 900 mil reais, em rodada pré-seed, em 2021.
Pelos passos que a startup tem dado e ritmo de crescimento, parece que a aulas de empreendedorismo que Martin Luther recebeu em casa funcionaram. Enquanto isso, a mãe continua a empreender. Prestes a completar 70 anos, a dona Denise Aparecida tem uma consultoria contábil e tributária, as suas áreas originais de formação. "Hoje, ela empreende muito mais por prazer do que por dever. E isso é algo que admiro nela: esse entusiasmo de empreender ela nunca perdeu".
A Biti9 foi uma das vencedoras do ranking EXAME Negócios em Expansão 2023, levantamento da EXAME do BTG Pactual (do mesmo grupo de controle da EXAME) e suporte técnico da PwC Brasil.
A empresa ficou na 3ª colocação na categoria de R$ 2 milhões a R$ 5 milhões, com um crescimento de receita líquida de 422%. Em 2021, a receita operacional líquida foi de R$ 808,1 mil. Em 2022, subiu para R$ 4,2 milhões.
O ranking é uma forma de reconhecer os negócios e celebrar o empreendedorismo no país. Com gestões eficientes, análise de oportunidade, novas estratégias e um bom jogo de cintura, os executivos no comando desses negócios conseguiram avançar no mercado.
Os resultados vieram a público num evento para mais de 400 convidados em São Paulo.
Neste ano, a lista traz 335 empresas de 22 estados, representantes das cinco regiões do país. Em relação ao ano anterior, o número de selecionadas representa aumento de 63%. Veja os resultados: