Anderson Thees, diretor-geral da Endeavor Brasil: rede de empreendedorismo tem 60 empresas no portfólio que superam avaliação de US$ 1 bi (Beto Lima/Endeavor)
Repórter
Publicado em 23 de abril de 2025 às 16h00.
Última atualização em 23 de abril de 2025 às 16h04.
PALO ALTO, ESTADOS UNIDOS - Não é soja, nem café. Na última década, o Brasil vem exportando um número significativo de talentos brasileiros — e eles têm um papel essencial na internacionalização das startups nacionais.
Um estudo lançado pela Endeavor Brasil, uma das principais redes globais de apoio ao empreendedorismo, mapeou 400 empreendedores, investidores e executivos espalhados por 31 países e cinco continentes.
A pesquisa revela o impacto dos brasileiros no ecossistema global de tecnologia e inovação. Ela revela que, atualmente, 59% da "diáspora brasileira" reside nos Estados Unidos, com maior concentração na Califórnia, Flórida e Nova York. Além disso, 56% dos fundadores não moram na mesma cidade onde a empresa está registrada, o que é um indicativo claro do caráter global dessas operações.
“Estamos em um momento onde a globalização e a internacionalização de negócios nunca foram tão essenciais, e o Brasil tem uma enorme oportunidade de se integrar mais profundamente nesses fluxos internacionais”, explica Anderson Thees, diretor-geral da Endeavor Brasil.
Um dos principais conceitos apresentados no estudo é o giveback, ou "retribuição", um movimento crescente entre os empreendedores de grandes startups.
O estudo mostra que 79% dos entrevistados atuam como mentores de empreendedores brasileiros, e 58% investem ativamente em startups no Brasil. A maioria dessas empresas ainda está em estágios iniciais de captação de recursos, com 28% em rodada semente e 22% em investimento anjo/"pré-semente".
"O giveback não é algo extraordinário, é uma obrigação diária para quem já teve a oportunidade de aprender e crescer", diz Luciano Snel, empreendedor e um dos membros do conselho do Brazil at Silicon Valley.
O estudo também revela que 28% dos entrevistados pensaram em expandir internacionalmente desde o início de suas jornadas empreendedoras. A Endeavor acredita que essa visão global precisa ser reforçada desde a fundação das startups no Brasil. A ideia é que os empreendedores não esperem conquistar o mercado doméstico antes de olhar para o exterior, mas que já tenham o mundo como um campo de ação possível desde o início.
Entre os exemplos de sucesso, César Carvalho, fundador da Wellhub, e Mariano Gomide, co-fundador da VTEX, são destacados. Ambos entrevistados no estudo, suas contribuições vão além de mentorias, abrangendo investimentos, parcerias e o compartilhamento de redes de contatos internacionais.
“Não se trata apenas de ganhar mercado no Brasil e depois pensar no mundo, mas de entender que a internacionalização começa desde o conceito inicial da empresa”, complementa Karina Almeida, gerente de rede e responsável pela pesquisa.
A Endeavor traçou um plano ambicioso para os próximos anos, e o estudo é o primeiro passo de uma longa jornada pela frente. A meta é ter 50 empresas avaliadas em mais de US$ 10 bilhões — os chamados decacórnios — até 2035. Para isso, a organização planeja captar US$ 300 milhões para o fundo Catalyst V em 2025, com a ambição de alcançar US$ 1,5 bilhão sob gestão na próxima década.
Com 2.600 empreendedores em 345 empresas, a Endeavor já contribui com US$ 67 bilhões em receita anual e mais de 4,1 milhões de empregos no mundo inteiro. Hoje, 60 empresas do portfólio da Endeavor estão avaliadas acima de US$ 1 bilhão.
*A jornalista viajou a convite do evento Brazil at Silicon Valley