Sandrinha Flávia, sócia da Niari Cosméticos: “Estude o negócio ao máximo, mas tente adaptar para sua realidade de mulher preta sem deixar de focar no autoconhecimento e na cura ancestral, para permanecer firme no seu propósito”
EXAME Solutions
Publicado em 12 de agosto de 2025 às 14h00.
Última atualização em 12 de agosto de 2025 às 14h40.
Elissandra Flávia Santos, conhecida no mercado como Sandrinha Flávia, nasceu em Barão de Cocais, no interior de Minas Gerais. Com uma infância simples, tinha uma relação distante com os cosméticos, usava apenas shampoo nos cabelos e muitas vezes diluído em água. Foi trabalhando como doméstica, a partir dos 15 anos, que conheceu vários deles, mas na bancada da patroa.
Se mudou para Divinópolis e lá trabalhou de camareira, operadora de caixa e telefonista antes de se empregar em uma loja de cosméticos, onde aprendeu muito sobre os produtos. “Fiquei apaixonada por aquele mundo de possibilidades. Mas à época existiam pouquíssimas formulações para crespos e cachos, além de poucas mulheres negras nas embalagens”, conta. Paralelamente, ela atuava como trancista e era voluntária no Movimento Negro da Cidade de Divinólpolis (MUNDI). Quando saiu da loja, criou um curso de modelos negros, onde formou três turmas.
Sandrinha Flávia começou a estudar jornalismo e trabalhou como locutora em uma rádio comunitária onde participou, com outras parceiras, de eventos como Encontro de Crespas e Cacheadas, Ideias Crespas e o Encrespa Geral BH.
Foi então que ela conheceu a mestre em química, expert na formulação de produtos e trancista Patrícia Santos, dona da Niari Cosméticos. A empresa estava prestes a fechar as portas, por falta de conhecimento em comunicação. Nela eram produzidas três máscaras capilares, ainda de forma terceirizada. Logo as duas fecharam uma sociedade.
O primeiro desafio foi desenvolver o branding da empresa. Sandrinha Flávia participou do projeto Brasil Afroempreendedor, iniciativa da sociedade civil demandada ao SEBRAE, com coordenação do Instituto Adolpho Bauer (IAB), de Curitiba (PR), e do Coletivo de Empresários e Empreendedores Afro-brasileiros de São Paulo (CEABRA/SP).
Foi assim que, em 2016, a empresa teve a identidade visual desenvolvida e lançou a primeira linha completa, a Afro Livre. Durante a pandemia, se tornaram 90% B2B, com vendas para salões de beleza. Com os salões fechados, as cabeleireiras ganharam também uma fonte de renda ao repassar os produtos para os consumidores finais. A empresa tem 85 salões cadastrados, a maioria gerenciada por mulheres pretas e 95% das cabeleireiras especializadas em crespos e cachos. Atualmente, oferece três linhas de produtos, além de máscara de reconstrução, gelatina para cachos e touca de cetim. “Temos orgulho de ser uma empresa que movimenta o black money entre mulheres”, conta.
Um passo importante foi a busca pela autonomia na produção, com a abertura da própria indústria. Para tanto, Patrícia Santos e sua irmã Karla Caroline, também sócia, alugaram um apartamento e deixaram a casa onde moravam para sediar a fábrica, inaugurada em 2023. Hoje elas produzem 2 toneladas mensais. A meta é chegar ao dobro em 2025. Todas as formulações são veganas e dispensam o uso de ingredientes nocivos.
Atenta à inclusão e empoderamento social, a empresa criou os projetos Niari Educa, que visa a inclusão de colaboradores ao sistema educacional, e o Niari Trança, que dá cursos e workshops de penteados afro para crianças e adolescentes. Sandrinha Flávia encoraja outras mulheres pretas a empreender com um olhar especial. “Estude o negócio ao máximo, mas tente adaptar para sua realidade de mulher preta sem deixar de focar no autoconhecimento e na cura ancestral, para permanecer firme no seu propósito”, aconselha.