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Mesmo sem chegar à meta dos R$ 5 bilhões, BRF encerra venda de ativos

Companhia anunciou hoje a venda de suas plantas na Europa e na Tailândia para a Tyson por 340 milhões de dólares

BRF: empresa tenta derrubar vetos a exportação em momento crítico  / Divulgação (BRF/Divulgação)

BRF: empresa tenta derrubar vetos a exportação em momento crítico / Divulgação (BRF/Divulgação)

Mariana Desidério

Mariana Desidério

Publicado em 7 de fevereiro de 2019 às 10h54.

Última atualização em 7 de fevereiro de 2019 às 12h21.

A fabricante de alimentos BRF continua sua luta para pagar dívidas e voltar a entregar resultados aos investidores. Mas anunciou que, pelo menos por enquanto, não vai mais vender ativos. A companhia divulgou hoje a venda de suas fábricas de processamento de alimentos e abate de aves na Europa e na Tailândia para a Tyson, por 340 milhões de dólares. A conclusão do negócio ainda depende de autorização das autoridades regulatórias.

A operação encerra o processo de desinvestimentos anunciado em junho do ano passado pela empresa, que amarga um longo inverno. O plano também incluía a venda de ativos na Argentina, ativos imobiliários, redução de estoques e a obtenção de recursos via FIDC (fundo de investimento em direitos creditórios).

A meta inicial era conseguir 5 bilhões de reais com os desinvestimentos. Só que as vendas não tiveram o resultado que a companhia esperava. Com as fábricas na Europa e na Tailândia, o valor total arrecadado fica em 4,1 bilhões de reais. Com isso, as metas de desalavancagem (relação entre a dívida e os resultados da empresa) deverão ser atrasadas em seis meses.

"Em função de circunstâncias adversas na Argentina e na Europa, em especial no Reino Unido, por conta do Brexit, os valores estimados no início do processo não se concretizaram. As circunstâncias mudaram e se mostraram piores", disse o presidente da companhia Pedro Parente, em teleconferência com a imprensa. Com a venda, a companhia estima que a alavancagem ficará em torno de 5 vezes no quarto trimestre de 2018, chegando a 3,65 vezes no quarto trimestre de 2019. 

Mesmo assim, Parente afirmou que não pretende vender mais nada. “Menos 900 milhões de reais significa uma dívida maior e uma alavancagem maior. Mas acreditamos que esse impacto é gerenciável. Chegamos a considerar a hipótese de desmobilizar outros ativos para manter nossa meta inicial. Mas, como conseguimos colocar a dívida em trajetória declinante, decidimos não fazer isso, pois os ativos que poderiam ser vendidos são estratégicos e têm potencial de gerar margens importantes no futuro”, disse o executivo.

Melhores margens

Em vez de queimar patrimônio, a produtora de frangos agora vai focar esforços em melhorar o perfil da sua dívida e aumentar suas margens. A meta no longo prazo é chegar a uma alavancagem e 1,5 a 2 vezes – os executivos não indicaram uma data para isso.

Na primeira frente, a companhia espera avançar com a chegada do novo vice-presidente financeiro e de relações com investidores, Ivan Monteiro. Ex-presidente da Petrobras (assim como Parente), Monteiro é conhecido por sua experiência em gestão de perfil de dívida.

Para levantar as margens, a BRF aposta em melhorar seus processos. Há potencial de melhoria de eficiência de 30%, segundo Parente. “Encontramos situações em que o mesmo processo era feito de oito formas diferentes nas plantas”, exemplifica o executivo.

A companhia também aposta na expansão de sua presença na Ásia e no mercado halal, nome dado aos alimentos que seguem os preceitos islâmicos. “Nesse sentido, é importante o trabalho das autoridades brasileiras em listar mais plantas [aptas para atuar com o mercado halal]”, destacou Parente. Dentre os países prioritários para a BRF no momento estão Arábia Saudita e Turquia.

No mês passado, a Arábia Saudita decidiu desautorizar a importação de carne de frango de cinco frigoríficos brasileiros, sendo duas plantas da BRF. O episódio foi considerado uma retaliação daquele país, como resultado da sinalização do governo brasileiro de querer mudar a embaixada em Israel para Jerusalém. A BRF afirmou que o impacto da restrição é limitado e que deve retomar o ritmo anterior de exportações para o país em no máximo três meses.

Outras vendas

A venda anunciada hoje encerra o processo iniciado no ano passado para reduzir a dívida da companhia. No dia 10 de janeiro, a companhia anunciou a conclusão da venda de seus ativos na Argentina com a venda da subsidiária Campo Austral, uma das líderes na produção de alimentos à base de suínos, por 131 milhões de reais. Antes disso, no dia 19 de dezembro, já havia anunciado a venda da Avex, também na Argentina, por 50 milhões de reais. 

No dia 7 de dezembro, vendeu a argentina QuickFood para a Marfrig por 60 milhões de dólares. O acordo envolveu ainda venda de terreno e equipamento de fábrica da BRF em Várzea Grande (MT) por 100 milhões de reais.

Além disso, a BRF montou um fundo de investimento em direitos creditórios (Fidc), que conseguiu distribuição inicial de 875 milhões de reais em cotas. O Fidc tem como objetivo adquirir direitos creditórios originados de operações comerciais realizadas com clientes no Brasil, ou seja, a venda definitiva de recebíveis.

A companhia, que teve prejuízo de 1 bilhão de reais em 2017 e estava envolvida na Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, tem um plano lento mas sóbrio de recuperação. Pedro Parente, presidente do conselho de administração, assumiu o comando da empresa em abril e apresentou em outubro um plano quinquenal de recuperação.

A expectativa é que a companhia comece a reverter a queda nas margens em 2019. A nova gestão frisa que o ritmo de avanço projetado é o possível pela complexidade da operação e pela quantidade de problemas que a BRF ainda enfrenta.

 

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