Loja fechada da Borders: as megalivrarias vão seguir o caminho dos megassauros? (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 19 de julho de 2011 às 06h00.
São Paulo – A falência da Borders, a segunda maior rede de livrarias dos Estados Unidos, é tratada por muitos como o início de uma nova extinção em massa – o das megalivrarias, formato praticamente inventado pela própria Borders.
“A internet é o cometa que matou os dinossauros. E eu temo que a Borders seja um dos dinossauros”, afirmou David Dykhouse, ex-diretor da companhia entre 2002 e 2007, ao site de notícias AnnArbor.com. A dúvida, claro, é se outras gigantes do setor, como a Barnes & Noble, a maior rede americana de livrarias, e a Books-a-Million, a terceira maior, estão condenadas.
Para responder à questão, é preciso primeiro saber se não foram os erros da própria Borders que a colocaram no caminho do fracasso. O primeiro deles, segundo os especialistas, foi não ter uma estratégia clara para a internet, que a impediu de aproveitar a primeira e a segunda ondas digitais.
Tomando caldo
A primeira onda foi a das vendas online. Embora a livraria virtual da Borders tenha sido lançada em 1998, a empresa cometeu um erro estratégico. Em 2001, a companhia assinou um acordo com a Amazon.com, para que a livraria virtual administrasse suas vendas pela web. Para muitos, esse foi um erro fatal, pois impediu que a Borders tivesse efetivo controle sobre seu braço de internet.
Quando a empresa desfez o acordo, em 2008, já era tarde demais. A Amazon já era uma gigante do mundo virtual, e as vendas online da Borders não passavam de 3% de sua receita total.
A Borders também tomou um caldo, ao encarar a segunda onda digital – o dos e-books. A empresa não tinha caixa, nem estratégia clara, para desenvolver um leitor de textos. Por isso, associou-se tardiamente à canadense Kobo, que ofereceu o seu aparelho e a estrutura para vendas online. O e-book da Borders foi lançado em julho de 2010, oito meses depois de seu maior rival, a Barnes & Nobles, já oferecer sua versão de leitor digital.
Se, por um lado, não conseguia deslanchar no mundo virtual, por outro, também via suas megalojas minguarem em vendas – o que aumentava a pressão dos custos fixos. Há 15 anos, a média de vendas por pé quadrado de loja da Borders era de 259 dólares. Depois de atingir um pico de 261 dólares no ano seguinte, o índice só caiu, até bater em 173 dólares em 2009.
Como resultado, há anos a Borders não sabe o que é lucro. Para ser preciso, seu último ano no azul foi 2005, quando ganhou 101 milhões de dólares. Desde então, a livraria não teve um ano de sossego. Em 2009 (últimos dados disponíveis), suas perdas foram de 109 milhões de dólares.
Cartilha
Para conter a crise, a Borders seguiu a cartilha-padrão dos administradores de empresas. Cortou custos e fechou lojas. Em seu auge, em 2003, o grupo possuía 1.249 lojas, entre as bandeiras Borders e Waldenbooks. Agora, conta com 399.
Desde que pediu a proteção da lei de falências americana, em fevereiro deste ano, a empresa já fechou mais de 200 lojas. Sua última esperança era uma associação com a empresa de private equity Najafi Companies.
O acordo, porém, foi rechaçado pelos credores da Borders nos últimos dias, com o argumento de que nada garantia que a Najafi cumpriria o trato de resgatar a rede. Em vez disso, muitos suspeitavam de que o fundo, na verdade, desmontaria a empresa e lucraria ao vender seus ativos aos picados.
Agora, a Borders está nas mãos de duas empresas especializadas em liquidar companhias decadentes – a Hilco Merchant e a Gordon Brothers. O desmonte deve começar ainda nesta semana, com queimas de estoque.
A falência da Borders encerra uma trajetória de 40 anos, desde que foi fundada no Michigan em 1971, e se tornou conhecida por inventar e difundir o modelo de megalojas.
Os especialistas acreditam que, num primeiro momento, seus rivais, como a Barnes & Noble, serão beneficiados. Mas só o tempo dirá se a Borders sucumbiu aos seus próprios erros ou, se como muitos acreditam, este é apenas o primeiro capítulo da extinção das livrarias. Uma história que, talvez, seja contada apenas nos e-books vendidos pela internet.