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A aventura africana da MAN

Leo Branco  No início de setembro, os primeiros contêineres abarrotados de peças de caminhão deixaram Resende, no interior do Rio de Janeiro, rumo a Ibadan, na Nigéria, onde deverão chegar em novembro. O percurso, de mais de 6.000 quilômetros, vai ligar a fábrica brasileira da MAN Caminhões à nova unidade sendo finalizada na África, cuja […]

FÁBRICA DA MAN: por falta de mercado no Brasil, as peças vão para a linha de montagem na Nigéria  / Divulgação

FÁBRICA DA MAN: por falta de mercado no Brasil, as peças vão para a linha de montagem na Nigéria / Divulgação

DR

Da Redação

Publicado em 22 de setembro de 2016 às 16h46.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h35.

Leo Branco 

No início de setembro, os primeiros contêineres abarrotados de peças de caminhão deixaram Resende, no interior do Rio de Janeiro, rumo a Ibadan, na Nigéria, onde deverão chegar em novembro. O percurso, de mais de 6.000 quilômetros, vai ligar a fábrica brasileira da MAN Caminhões à nova unidade sendo finalizada na África, cuja produção começa em dezembro. A aventura é um exemplo limite das dificuldades enfrentadas pela montadora no Brasil. Sem poder vender seus caminhões por aqui, a MAN, uma subsidiária da alemã Volkswagen, decidiu construir uma nova fábrica do outro lado do Atlântico e levar, do Rio, as peças para montar os caminhões por lá.

“A estratégia é buscar países emergentes parecidos ao Brasil, onde há demanda por caminhões como os nossos, que estão preparados para lidar com carências de infraestrutura”, diz o presidente da empresa no Brasil, Roberto Cortes. Foi uma solução extrema, em um mercado tão promissor quanto o brasileiro, mas menos encrencado. Em 2016, o PIB da Nigéria deve encolher 1,8%, segundo o FMI.

Há outras iniciativas em marcha. Nesta semana, os executivos da empresa estão na International Motor Show, em Hanover, na Alemanha, a maior feira automobilística do mundo. O foco: busca de clientes dos países do Oriente Médio. Embora a região esteja enfrentando ameaças como queda no preço do petróleo, principal matéria-prima exportada pelos países da região, e as consequências da guerra civil na Síria, o desempenho econômico será bem melhor que o do Brasil em 2016 – a previsão do Banco Mundial é que a região cresça um modesto, porém saudável, 3%.

Trata-se de uma reversão de estratégia para a alemã MAN. Em 2012, a empresa lançou um ambicioso plano de investimentos de 1 bilhão de reais no país em cinco anos. Os recursos permitiram diversificar o portfolio e aumentar em 65% a capacidade produtiva da fábrica de Resende, para 100 000 unidades por ano. Com a crise, hoje a ociosidade na linha de produção beira os 70%. Da quantia original, sobram ainda 400 milhões de reais para gastar. “Agora, o mercado externo é a prioridade”, diz Cortes. A meta é elevar a participação do mercado externo a 30% do faturamento, atualmente em 1 bilhão de euros, até 2019. Hoje, com vendas principalmente a mercados da América Latina, é metade disso.

O mercado brasileiro de caminhões e ônibus é um dos que mais sentem o peso da crise. Na esteira das quedas sucessivas no PIB, menos empresas compraram insumos ou trocaram maquinário para escoar a produção, o que faz com que os efeitos sejam multiplicados para as montadoras. O resultado é que, de acordo com dados da Anfavea, a associação de fabricantes do setor, de janeiro a agosto de 2016, foram licenciados 34.000 caminhões – 30% menos que no ano passado, quando os licenciamentos já haviam tombado 56% em relação a 2014. A gravidade da situação tem levado a declarações graves de executivos do setor. Em entrevista recente à revista VEJA, o presidente da Mercedes-Benz, uma das líderes do setor, o alemão Phillipp Schiemer, disse que a “a indústria brasileira está à beira da morte”. Para a MAN, a redenção está na África e no Oriente Médio.

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