Desde 2007, os 12.000 funcionários da Kraft no Brasil contam com medidas para equilibrar a vida pessoal com a profissional. Uma delas, a do horário flexível, permite que 1.900 pessoas do administrativo cheguem para trabalhar entre 7h e 11h e saiam entre 16h e 19h para, assim, poderem buscar os filhos na escola ou resolverem pepinos em bancos quando quiserem. Outra medida, a Sexta Flex, acontece no verão. Um descanso em plena tarde em uma sexta sim e outra não do período pode ser descontado do banco de horas. Os funcionários de Vendas Campo (vendedores) e promotores (que trabalham nos supermercados) também são elegíveis ao dia livre no dia de seu aniversário. Para este ano, o plano é aumentar ainda mais a política de flexibilidade. Tanto que, a partir de março, a Sexta Flex começa a vigorar para todo o ano – e pode até ser estendida para outros dias da semana com o tempo. “Queremos ainda adotar uma política oficial de home office”, diz Renato Souza, diretor de Talentos e Efetividade Organizacional da companhia. Por enquanto, os funcionários podem trabalhar de casa, desde que combinado com o chefe.
Por ter um tipo de negócio que inclui a demanda por profissionais alocados dentro de clientes, a HP tem uma política global de trabalho remoto, que inclui horário flexível, há mais de 15 anos. Por aqui, a companhia conta com 8.400 funcionários, sendo que 40% deles trabalham de forma remota. Outros 2% prestam serviço sem sair de casa. “Não existe uma regra determinada para o trabalho remoto. Cabe ao funcionário e ao seu gestor avaliarem a melhor política”, diz Antônio Salvador, vice-presidente de RH da HP Brasil. A empresa seleciona os funcionários elegíveis às regras de acordo com o tipo de trabalho de cada um. Funções com alta interação com projetos globais, cargos de especialista para cima e que não requeiram uma interação diária com clientes estão dentro. Já os que possuem carga horária regulamentada em convenção coletiva, como Call Centers, estão fora. “Ganhamos produtividade com a redução dos deslocamentos diários dos funcionários”, diz Salvador.
Assim como acontece nos demais escritórios do Google pelo mundo, os mais de 300 funcionários da companhia no país contam com um programa de horário flexível válido para todos os dias da semana. O modelo se dá no maior site de busca do mundo baseado na cultura de privilegiar a liberdade e responsabilidade das pessoas que trabalham ali. No Google, o foco de todos está na meta e não nos processos. “São os próprios profissionais que definem como vão atingir seus objetivos. Assim, cada um pode gerir sua própria carreira e imprimir sua marca na empresa, mantendo sua identidade enquanto colabora com a evolução do Google”, afirma Monica Santos, diretora de RH do Google para América Latina.
Desde que a Procter & Gamble percebeu que funcionários menos preocupados com questões pessoais são mais produtivos, a empresa decidiu adotar, em 2009, uma postura mais flexível quanto a horários. A ideia ajuda também a atrair e reter seus talentos – além de fazê-los trabalharem melhor. “As vantagens de ter funcionários com mais qualidade de vida são inúmeras e não vemos nenhuma desvantagem”, afirma Michele Colombo, gerente de comunicação da empresa. Por lá, os funcionários com cargos administrativos tem três opções de horário de entrada e saída. Todos, sem exceção, devem ter flexibilidade para atender possíveis reuniões dentro ou fora da empresa. E também escolher entre duas políticas de flexibilidade que podem ser utilizadas em um dia da semana: ou a de trabalhar uma vez por semana em casa, depois de combinado com o gerente; ou optar por entrar 4 horas mais tarde na segunda-feira ou sair 4 horas mais cedo na sexta. Estas horas devem ser compensadas nos demais dias da semana, uma hora por dia. Para as mães, além da licença maternidade de até 6 meses, há a opção de trabalhar meio período ou usufruir de licença não remunerada até o bebê completar 1 ano. Hoje, a P&G conta com 4.660 funcionários no país, 740 deles no escritório de São Paulo.
Todas as sextas, o expediente dos 450 funcionários da Bristol-Myers Squibb no Brasil acaba às 15 horas – no verão, o horário é ainda mais curto ainda e termina ao meio-dia. Batizadas de Short Friday e Summer Friday, as opções valem para todas as pessoas, com exceção dos vendedores, e funciona da seguinte forma: nos outros dias da semana do ano, é preciso compensar duas horas semanais, ou 30 minutos por dia, para usar o benefício às sextas. No verão, a compensação deve ser de 1 hora por dia de segunda a quinta. “A ideia é incentivar a capacidade de autogestão e produtividade de todos, além de desenvolver aspectos como a maturidade, responsabilidade, disciplina, motivação e foco no resultado”, diz Samanta Pastor, gerente de recursos humanos da farmacêutica. O Work at Home, ainda em fase piloto, é outro projeto que deve trazer benefícios em breve. Por meio dele, os funcionários poderão trabalhar de casa uma vez na semana. Devem participar do programa Piloto os níveis de Presidência, Diretores, Gerentes e, outros cargos, desde que tenham a aprovação da liderança imediata e alinhamento com RH.
Desde janeiro de 2011, a Multiplus, gestora do programa de fidelidade da TAM, adotou o programa de horário flexível com o intuito de melhorar a qualidade de vida das pessoas que emprega, a maioria com cargos comerciais ou administrativos. Todos os 145 funcionários são elegíveis a cumprirem sua carga horária de trabalho independente da hora que cheguem ou que saiam da empresa. “Eles são livres para escolherem os horários em que são mais produtivos e que estejam de acordo com suas necessidades pessoais”, explica Eduardo Gouveia, presidente da companhia. Desde setembro, os funcionários ainda contam com outra opção de flexibilidade, com a possibilidade de entrarem no trabalho às 8h da manhã e sair às 16h30 nas sextas-feiras. Quando quiserem, claro. “É apenas uma facilidade para quem planeja viajar no final de semana ou fugir do congestionamento paulistano, comum neste dia da semana”, diz Goveia.
Ter funcionários menos estressados e, por consequência, mais felizes e produtivos foi o que motivou a Serasa Experian a adotar o modelo de gestão flexível de horários em 2010. O programa, ampliado a cada ano, começou com a opção das pessoas chegarem e saírem uma hora antes ou depois dos horários padrões de trabalho – e hoje já contempla três horas. O horário de entrada poderá ser entre 7h e 10h e a saída entre 16h e 19h, com uma hora de almoço, que também pode ser flexível e estendida em 30 minutos, e compensada no horário de saída. Todos os 2787 funcionários do Brasil são elegíveis, contanto que a escolha seja combinada com o gestor. “O programa é recente e nossa expectativa é que caia o número de horas extras e melhore a qualidade de vida das pessoas”, diz Guilherme Cavalieri, diretor de desenvolvimento humano da Serasa Experian.
Mais de 1.800 empresas do país, entre elas Oi, Itaú e Avon, contratam seus funcionários com ajuda do sistema da Vagas Tecnologia, especializada no assunto. Mas, dentro da empresa de software, uma maneira diferente de lidar com seus profissionais vigora desde sua origem, em 1999. Todos os 140 funcionários da Vagas trabalham com base em uma gestão colaborativa e participativa, cujo sistema de horário flexível é intrínseco. “Somos uma empresa horizontal, na qual não existe hierarquia e nem diferenciação nos benefícios que oferecemos”, define Fernanda Diez, gerente de relacionamento da companhia. Todos os empregados sabem que precisam trabalhar oito horas por dia para que os negócios deem certo, e possam beneficiar a todos. E, por confiar no comprometimento deles, a empresa deixa que cada profissional escolha como prefere exercer essa carga de trabalho, seja em casa ou na sede da companhia, em São Paulo, seja começando a trabalhar pela manhã ou na parte da tarde. “A vantagem do modelo é ter pessoas mais engajadas e produtivas. Mas o risco de abusos acontecerem e a missão do RH é disseminar o conceito de forma correta”, afirma Fernanda.
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