Você sabe como tirar uma ideia disruptiva do papel? (Getty Images/Getty Images)
Paula Gondim
Publicado em 24 de abril de 2017 às 17h30.
Última atualização em 9 de agosto de 2017 às 16h23.
Desde a década de 1970, quando tinha 20 anos, o empreendedor brasileiro Arie Halpern vem acumulando experiências de sucesso em diversos lugares do mundo. Notabilizou-se, entre outras realizações, por desenvolver um sistema de abastecimento de frotas, o CTF, que se transformou em líder mundial em programas de fidelidade embarcada, e o Premmia – programa de fidelidade para a Petrobras. Sempre atento às oportunidades e armadilhas do mercado, Halpern, autor do blog Disruptivas e Conectadas, elenca a seguir sete passos para quem quer se aventurar pela disrupção nos negócios.
A empolgação com as ideias de um novo produto não pode afastar o empreendedor de uma análise fria do mercado. “A comprovação da utilidade do produto e o seu custo/benefício é o teste número 1”, costuma dizer Halpern. Elementar, não há dúvida. Mas, para obter as respostas para essa questão elementar, é preciso saber as perguntas que têm de ser feitas e a quem fazê-las, diz ele.
O projeto só deve sair do papel quando houver certeza de sua viabilidade técnica e econômica. Essa é outra tecla em que Halpern costuma bater. A resposta envolve cálculos, por exemplo, sobre o mercado a que se destina o produto (está em crescimento? é promissor?) e o tempo necessário para vencer as resistências à inovação e conquistar o consumidor. Se levar a sério a curva de adoção da nova tecnologia, o empreendedor terá os elementos para avaliar quando aquela ideia de fato vai começar a dar frutos – ou melhor, retorno financeiro.
Não se deve começar uma caminhada no deserto sem provisão de água suficiente para chegar ao destino, ou pelo menos até o oásis mais próximo. “A questão a ser respondida é: tenho fôlego financeiro para suportar esse período? Por mais incrível que seja a ideia, é preciso que ela traga resultados antes que os investidores quebrem”, diz o empreendedor. Se isso não for possível, melhor é abandonar a ideia ou aguardar um momento favorável para recolocá-la em pauta.
Inventores são figuras-chave para o negócio disruptivo. “A questão é que eles costumam ser sonhadores”, diz Halpern. Já os pragmáticos são aqueles que estão preocupados em saber se aquela inovação é aplicável no mundo real. Estes, em geral, são os profissionais de marketing. A empresa inovadora precisa dos dois, atuando cada qual no seu quadrado. Como explica o empreendedor, “o criativo desenvolve a tecnologia, o pragmático ajuda a transformar a nova tecnologia em produto ou descobre onde estão os consumidores que ainda nem sabem que precisam daquela tecnologia”.
Questão vital para a empresa é avaliar se a inovação tecnológica que ela propõe pode ser replicada pela concorrência. “Se o custo de replicá-la for muito baixo, o negócio não tem futuro, morre antes de existir”, ensina Halpern. Para que o investimento e o esforço valham a pena, é preciso estar certo de que o custo será alto para quem se dispuser a disputar o mesmo espaço.
Negócios disruptivos não anulam as leis de mercado. Um dos erros mais comuns entre empreendedores inovadores é acreditar que é possível desde o começo sustentar a empresa com as primeiras vendas. “É uma ilusão, não caia nessa armadilha. Sem capital de giro, nenhum negócio sobrevive”, alerta Halpern.
“Testar, testar, testar são três etapas cruciais no desenvolvimento de um produto”, reza a cartilha de Halpern. É preciso verificar como os consumidores-alvos vão reagir à inovação e, ao mesmo tempo, se o produto vai resistir ao contato com eles. Mesmo que a ideia seja genial, é importante ter jogo de cintura para fazer adaptações que aumentem a empatia com o consumidor e facilitem a adoção da inovação.
Para a empresa que está começando, é importante investir em tecnologias que possam ser colocadas em uso imediatamente e garantam a sua sobrevivência no curto prazo. (O pragmático é fundamental aqui.) Ao mesmo tempo, o empreendedor não pode deixar de preparar os lances futuros. “Uma boa estratégia”, sugere Halpern, “é pensar, visando o médio prazo, em encontrar para a tecnologia já existente novas aplicações, disruptivas, não imaginadas pelo mercado convencional. E, olhando o longo prazo, investir na criação daquilo que ninguém imaginou, explorando a visão futurista dos inventores e sonhadores”.
O empreendedor brasileiro Arie Halpern sentiu desde cedo atração pelo risco e gosto pela inovação. Na década de 1970, com pouco mais de 20 anos, debruçou-se sobre o mapa de exportações do Brasil e enxergou uma oportunidade na África. Lá foi ele vender guarda-chuvas e óculos de sol. Não foi o passeio que ele imaginava, pois comerciantes chineses já estavam por ali praticando preços muito competitivos. Halpern resolveu, então, voltar seus olhos para o mercado dos Estados Unidos. Descobriu um nicho que lhe rendeu ótimos negócios: vender frutas enlatadas – manga, goiaba, abacaxi. Para conquistar os contratos, teve de suar a camisa convencendo fabricantes brasileiros a adaptar o produto e as embalagens às exigências do mercado norte-americano. Depois desses primórdios, o gosto de Halpern por inovar encontrou um campo propício para negócios voltados para tecnologia. Desenvolveu a fabricação no Brasil de duplicadores de canais telefônicos, que foram utilizados por todas as empresas telefônicas para desafogar, na época, a falta de linhas.
À frente da CTF Technologies, revolucionou o sistema de abastecimento de frotas de veículos no Brasil. Quando vendeu o negócio para um sócio estrangeiro, o sistema da empresa contava com mais de 5 000 clientes e processava a compra de mais de 3 bilhões de litros de combustível por ano. Transformou a empresa em líder mundial em programas de fidelidade com tecnologia embarcada. Depois disso, desenvolveu um programa de fidelidade para a Petrobras – o Premmia –, com base em tecnologia própria de cobrança e gestão do sistema nos pontos de venda. Atualmente, dedica-se a dois produtos que têm em comum o potencial disruptivo. Um deles é um suplemento alimentar para animais monogástricos que leva a marca Tonisity, e que, inicialmente, está sendo comercializado para porcos. Porcos? Sim, e esse é um negócio que mira um rebanho de 1,2 bilhão de animais no mundo. Outro negócio é a Gauzy, uma empresa que ampliou as possibilidades de aplicação do vidro. Dotados de películas de cristal líquido, esses vidros inovadores podem controlar a entrada de luz como também se transformar em uma superfície para projeção de imagens.