Negócios

4 CEOs contam seu maior desafio liderando empresas gigantes

Indra Nooyi, Richard Branson, Ellen Pao e Satya Nadella discutem maiores desafios que tiveram liderando a PepsiCo, o Grupo Virgin, o Reddit e a Microsoft.

Richard Branson: empresário conta os desafios de estar à frent de um negócio gigante (Foto/Getty Images)

Richard Branson: empresário conta os desafios de estar à frent de um negócio gigante (Foto/Getty Images)

Mariana Desidério

Mariana Desidério

Publicado em 21 de abril de 2018 às 08h00.

Última atualização em 21 de abril de 2018 às 08h00.

O quarto episódio da série “The Secret Life of C.E.O.s”, do podcast Freakonomics, traz Indra Nooyi, Richard Branson, Ellen Pao e Satya Nadella para discutirem os maiores desafios que tiveram liderando a PepsiCo, o Grupo Virgin, o Reddit e a Microsoft, respectivamente.

Em entrevista ao jornalista Stephen Dubner, que comanda o podcast, eles relembraram os episódios em que se viram na posição de tomar decisões indelegáveis e, definitivamente, sentiram o peso de ocupar o cargo de CEO de uma companhia gigante.

Reformulação da companhia

Logo que assumiu o cargo de CEO da PepsiCo (dona de marcas de bebidas e alimentos como Cheetos, Pepsi e Gatorade), em 2006, Indra Nooyi se deparou com um mercado que estava em plena transformação. A crescente preocupação dos consumidores com a saúde fazia com que cada vez mais as empresas alimentícias investissem em produtos com baixa caloria e menos gordura, por exemplo.

Stephen Dubner: “Você gastou muito tempo e dinheiro essencialmente reformulando a PepsiCo como uma empresa muito mais alinhada às ideias modernas sobre nutrição.”

Nooyi: “Eu acho que quando olhamos para as tendências de consumo e olhamos para onde víamos que os mercados estavam crescendo, sabíamos que tínhamos que reequipar nosso portfólio. Isso não era nem uma questão. Sabíamos que, se não o fizéssemos, nosso futuro estava em risco.”

A executiva decidiu ver o lado bom das transformações: “Era uma ótima oportunidade para transformarmos o portfólio” e, de acordo com as novas preferências dos consumidores, ganhar participação de mercado. No entanto, não seria possível fazer isso da noite para o dia.

Nooyi: “Eu sabia que essa jornada seria longa, árdua e cheia de armadilhas, porque não se trata apenas de mudar o portfólio. Tivemos que alinhar as inovações, o marketing, a execução e os orçamentos de toda a empresa para ir aonde o mercado estava indo e, em seguida, tivemos que mudar a cultura.”

Segundo a CEO, transformar a cultura interna foi a etapa mais difícil. Depois dela, “o resto aconteceu rápido”.

Nooyi: “Quando as pessoas dizem que a cultura acaba com a estratégia, eu vivi em primeira mão, porque vi quantas pessoas disseram: ‘Por que deveríamos mudar nossa empresa que foi tão bem-sucedida para um futuro desconhecido?’ Eu tive que usar nossos próprios funcionários para dizer: ‘Seus próprios hábitos de comer e beber estão mudando. Se seus hábitos estão mudando, como evidenciado por A, B, C e D’- o que eu estava observando no trabalho – ‘por que você acredita que os hábitos do resto dos consumidores não estão mudando também?’”

Fechamento de centenas de lojas

O jornalista e apresentador Dubner constata que, em contraste com a PepsiCo, o Grupo Virgin é, essencialmente, “uma marca de estilo de vida”. Essa definição permite que o fundador e primeiro CEO, Richard Branson, aplique-a a qualquer tipo de negócio.

“Muitos dos quais, devemos dizer, não deram tão certo”, diz Dubner. “Pode ser verdade, como diz Branson, que ele nunca teve uma falência. Mas a lista de fracassos da Virgin é longa e diversificada, incluindo a Virgin Cola, a Vodka Virgin, Jogos Virgin, Carros Virgin, Roupas Virgin, Noivas Virgin e a Virgin Student, uma rede social lançada em 2000”, continua o apresentador. Uma das empreitadas foram lojas especializadas na venda de discos.

Branson: Abrimos cerca de 300 lojas em todo o mundo, as Virgin Megastores. Mas, aí veio o iTunes, e a internet apareceu, e as pessoas, infelizmente, não viam mais a necessidade de comprar discos. E assim, vendemos ou fechamos a maioria dessas 300 lojas.

Se a intenção de atuar em várias frentes colocou o Virgin em algumas situações desfavoráveis, também ajudou o grupo a se reerguer. O fiasco das lojas de disco, por exemplo, os “impulsionou a entrar no ramo de telefones celulares e em novas tecnologias que estavam evoluindo”, explica o fundador.

Uma decisão importante, mas impopular

Ellen Pao, ex-CEO do Reddit (uma rede social focada em fóruns e sub-fóruns, criados pelos seus usuários), relembra na série do podcast Freakonomics a decisão que custou seu emprego.

Em 2015, muitos se revoltaram quando ela determinou a remoção de cinco fóruns com mensagens de “assédio” de todos os tipos. Sua deliberação deu início ao que ela chama de uma “rebelião”.

Pao: “Cerca de 15 ou 20 mil pessoas ficaram muito descontentes. Elas postavam fotos, memes e conteúdo terrível sobre mim. E montagens dizendo coisas horríveis sobre mim e minha família.

A importância de derrubar esse conteúdo e tomar medidas para limpar o site e torná-lo um lugar onde todos pudessem se sentir confortáveis ​​era algo realmente significativo. Eu sabia que era a coisa certa a se fazer. E foi isso que me ajudou a passar por essa fase.”

Não foram só os participantes do Reddit que se revoltaram com as medidas de Pao. Em reação, o conselho da empresa, que segundo ela também “não teve estômago”, ordenou que a rede atingisse de 350 milhões a 500 milhões de usuários até o final do ano.

Pao: “Eu apenas disse ‘Nenhuma empresa conseguiu fazer isso. Não posso me comprometer’. E essa acabou sendo a razão pela qual eles me pediram para sair.”

Compra bilionária controversa

Satya Nadella, da Microsoft, é um CEO querido, segundo Dubner. Sua popularidade vem, em partes, da sua habilidade em lidar diplomaticamente com problemas. A situação da qual lembrou neste episódio de Freakonomics é um exemplo disso, mas também de sua força para impôr suas visões como líder da gigante de tecnologia.

Frente à revolução no mercado de celulares, a Apple liderava com o sucesso do IPhone. O CEO anterior a Nadella, Steve Ballmer, propôs a compra da Nokia, empresa do ramo que estava em baixa, como movimento estratégico para a Microsoft ganhar vantagem neste mercado.

“Steve Ballmer quer comprar a Nokia para ajudar a reviver a Microsoft. O conselho diz que não. Ballmer sai. Então, o conselho diz ‘sim’. O que coloca o acordo na escrivaninha do novo CEO, Satya Nadella”, resume o apresentador.

O cientista da computação, Nadella, por sua vez, era contra a fusão com a Nokia. Para ele, os concorrentes já estavam muito a frente com relação aos smartphones, e a Microsoft nunca os alcançaria. Apesar disso, ao assumir o cargo, evitou se pronunciar criticando Ballmer ou Bill Gates.

Logo após a aquisição bilionária, no entanto, ele fechou a Nokia, o que resultou “em uma baixa total da compra (valor de cerca de US $ 9 bilhões) e em aproximadamente 18 mil empregos perdidos”, segundo Dubner.

Nadella: Primeiramente, essas decisões difíceis sobre o que escolher e focar são algo que eu acredito que só um CEO pode fazer. Isso não é algo que você pode delegar. Quero dizer, em última análise, essa é sua principal responsabilidade.

Essas decisões que afetam a vida e o sustento das pessoas não são fáceis. Portanto, eu tive que pensar muito. E depois de ter pensado e tomado a decisão, tivemos que executá-la. De suma importância, para mim, era garantir que os funcionários impactados fossem tratados com dignidade e tivessem oportunidade de encontrar sua próxima ‘jogada’, dentro ou fora da Microsoft. Essa foi a minha preocupação real e onde eu gastei minha energia.”

“The Secret Life of CEOs”, do podcast Freakonomics

Baseada no best-seller de mesmo nome, o podcast “Freakonomics” está entre os mais acessados do iTunes (reprodutor de áudio da Apple). De forma leve e fácil de acompanhar, Freakonomics traz assuntos ligados à Economia adaptados para o público geral com apresentação do jornalista Stephen Dubner e participações do economista Steven Levitt – dupla que, há mais de dez anos, escreveu a obra que fundamenta a rádio.

Todos os mais de 300 episódios do podcast podem ser conferidos (em inglês), pelo site, ou por aplicativos de podcast como Castbox e Stitcher.

“The Secret Life of C.E.O.s”, sua série mais recente, traz líderes de algumas das maiores empresas do mundo. Em seis episódios, os executivos se juntam a especialistas para discutir vários aspectos desconhecidos da carreira de um CEO – desde como se tornar um, até como eles resolvem crises e largam o emprego.

Confira o que os convidados disseram sobre as funções, a importância e o salário dos CEOs na primeira parte, aqui. E, também, sobre os momentos mais decisivos para suas carreiras, na segunda parte, aqui.

Texto originalmente publicado no Na Prática.

Acompanhe tudo sobre:CEOsRichard Branson

Mais de Negócios

Com 20 minutos de trabalho por dia, jovem fatura quase meio milhão de dólares com vendas na internet

Casal investe todas as economias em negócio próprio — e fatura milhões com essa estratégia

Bamba, Kichute, Montreal, Rainha: o que aconteceu com as marcas de tênis que bombaram nos anos 80

Rappi zera taxa para restaurantes e anuncia investimento de R$ 1,4 bilhão no Brasil