Criptoativos: um dos segredos é não ficar ansioso com oscilações do dia a dia e encarar como investimento de longo prazo (Malte Mueller/Getty Images)
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Publicado em 19 de novembro de 2021 às 09h00.
Em outubro de 2020, Paypal anunciou que os usuários nos Estados Unidos poderiam passar a comprar, vender, reter e efetuar pagamentos com criptomoedas usando a sua própria conta pessoal na plataforma de serviços financeiros.
A boa notícia para os consumidores do Paypal certamente acabou por agradar aos investidores em bitcoin, já que no início daquele mês a cotação rondava os 10.000 dólares e no fim do período bateu os 13.000 dólares, levando ao segundo melhor mês da história – até então.
Já em maio de 2021, o bitcoin chegou a perder quase 40% de seu valor em um dia, quando autoridades da China disseram que iriam tomar medidas repressivas contra instituições financeiras que usassem ou facilitassem transações com moedas digitais. A essa altura, porém, o bitcoin já havia atingido a maior cotação de todos os tempos – 64.829 dólares – e chegava ao nível mais baixo desde fevereiro: 36.219 dólares.
Com tamanha oscilação em um período relativamente curto, é natural que os investidores busquem respostas para três perguntas que de certa forma estão interligadas: 1. O que causou essa volatilidade? 2. Investir em moedas digitais é seguro? 3. Qual o futuro dos criptoativos?
E as respostas guardam semelhança com o contexto do mercado de capitais. “O que explica as flutuações de bitcoin e outros criptoativos é a expectativa futura em relação a eles, porque ainda é um mercado pequeno comparando com outros”, diz Fabricio Tota, diretor do Mercado Bitcoin, exchange que possui 3 milhões de clientes com ativos digitais. “Ou seja: está suscetível ao contexto: as boas notícias são boas demais, as más notícias são ruins demais, o que faz com que haja essa amplitude no preço”.
O executivo do Mercado Bitcoin – maior plataforma de criptoativos da América Latina – destaca quatro fatores econômicos e políticos que se sucederam ao movimento do Paypal e geraram euforia nos criptoinvestidores desde então.
O primeiro deles foi a eleição de Joe Biden para a presidência dos Estados Unidos; seguido pelas grandes alocações em bitcoin – cerca de 2 bilhões de dólares – feitas pela empresa de Business Intelligence MicroStrategy, do empreendedor Michael J. Saylor.
O IPO da Coinbase, maior exchange do mundo; e, há alguns dias, a regulamentação do uso do bitcoin em El Salvador, do presidente millenial Nayib Bukele, que determina que qualquer comerciante do país deve aceitar pagamentos nessa criptomoeda também contribuíram para a euforia.
Por outro lado, as restrições na China e os questionamentos públicos do empresário sul-africano Elon Musk, fundador da Tesla, a respeito dos impactos ambientais negativos do bitcoin assustaram os mercados, cripto e de capitais, mesmo depois de ele ter anunciado que seguirá investindo em bitcoin.
“A gente já viu esse filme: antes o bitcoin era tido como coisa de pessoas de perfil mais geek – ou nerd – e hoje há empresas listadas em bolsa fazendo alocação. Ou seja, o movimento é esse, de começar em nicho e depois crescer”, acrescenta Fabricio Tota.
Além do pequeno market cap do mercado cripto – 2 trilhões de dólares, equivalente à soma do capital das cinco maiores empresas de tecnologia dos Estados Unidos –, o fato de os criptoativos serem negociados livremente em escala global faz com que estejam sujeitos a uma lei básica da economia: a da oferta e da procura.
“E há outros ativos negociados em escala global, como petróleo e commodities, que dependem de fatores logísticos, safra e entrega, e sofrem oscilações absurdas”, compara Fabricio Tota.
Quanto ao futuro das criptomoedas, o executivo do Mercado Bitcoin diz que não é possível cravar o que vai acontecer. Mas algumas coisas já se sabe: se a oscilação nos preços é da natureza de um mercado ainda pequeno em comparação com outros, ela também está associada às possibilidades de uso prático.
Se já são usados como meio de pagamento e reserva de valor, os criptoativos se expandiram para o mercado de artes, com as emissões de NFTs (tokens não-fungíveis colecionáveis); o de crédito, por meio de contratos inteligentes, descentralizados, sem a necessidade de um ente regulador para empréstimos; e o de fan tokens, que clubes e marcas ligadas ao esporte vêm lançando mão, com o objetivo de interagir com seu público.
Em meados de setembro, por exemplo, o Corinthians lançou seu fan token na plataforma do Mercado Bitcoin.
A quem está acostumado à centralização das decisões econômicas e ao sistema bancário tradicional, a tecnologia blockchain pode parecer estranha. Mas é ela que garante a transparência e a segurança das negociações dos ativos, pois toda movimentação é registrada nesse imenso banco de dados compartilhado de maneira pública e auditável por 100% dos participantes da rede.
E para aqueles que querem conhecer mais o mercado de criptoativos e têm lá suas dúvidas, o diretor do Mercado Bitcoin recomenda três passos:
1 - Conheça o seu patrimônio e quais os valores que você tem para investir. Deve ser uma parcela com a qual você se sinta confortável para encarar as oscilações de preço;
2 - Procure uma exchange de boa reputação, como o Mercado Bitcoin, que tornou-se o primeiro unicórnio das criptomoedas no Brasil e, em 2020, foi selecionado entre as 25 exchanges mais seguras e confiáveis do mundo em um estudo conduzido pelo Blockchain Transparency Institute (BTI);
3 - Não fique ansioso com as oscilações do dia-a-dia. Saiba que é um investimento de longo prazo. É possível ter uma estratégia mais ativa mas deve criar o hábito de fazer aportes ao longo do tempo. “Pense que longo prazo é o tempo que você vai levar para acumular, proteger e fazer com que esse ativo se valorize ao longo do tempo e o ajude a conquistar um objetivo”, diz Fabricio Tota.
Conheça o grau de volatilidade das principais categorias de ativos digitais
Baixo:
Stablecoins: ativos lastreados em moedas fortes e, principalmente, em dólar. É um ativo praticamente sem instabilidade.
Ativos digitais lastreados em ativos reais (precatórios, consórcios): têm dinâmica parecida com a renda fixa e expectativa de pagamento conhecida.
Pax gold: ativos lastreados em ouro.
Moderado:
Criptomoedas: Bitcoin e Ethereum são menos voláteis do que moedas de projetos que estão em jornada de consolidação, com poucos anos de vida. Ou seja, oferecem mais possibilidades de ganho, mas também de perdas.
Fan token: ativo de engajamento que vão flutuar bastante no curto prazo e que pode ter valorização futura, embora o objetivo seja o engajamento nas decisões das entidades esportivas.
Alto:
DEFIs: tokens de finanças descentralizadas. São projetos novos de enorme potencial, mas, consequentemente, arriscados.