O Eike Batista é um dos poucos empresários “estrelas” do país, admirado e questionado sobre seus negócios, investimentos e fortuna bilionária acumulada ao longo de anos, fato que o coloca em evidência na mídia. Porém, desde o início deste ano, o empresário não tem saído dos holofotes por outro motivo: a preocupação com o futuro das empresas X. O grupo EBX do empresário enfrenta uma reestruturação que inclui demissão de pessoas, revisão de projetos, venda de ativos e participações – sinais que fazem com que investidores coloquem em xeque a capacidade do império X superar a crise de confiança e a queda livre das ações. A estimativa é que as dívidas das empresas de Eike ultrapasse 10 bilhões de reais, enquanto os papéis da OGX seguem em queda de 66% de 25 de março a 25 de junho. Veja, a seguir, alguns dos motivos que acabaram por colocar o império X em xeque.
Em março, a EBX fechou uma parceria com o banco BTG, de André Esteves (na imagem), por meio do qual o BTG fará aconselhamento financeiro, avaliará linhas de crédito e poderá fazer futuros investimentos de capital de longo prazo em projetos do grupo. O acordo não implica exclusividade do BTG Pactual na prestação de serviços financeiros para o EBX e a remuneração do banco de investimentos será calculada com base no desempenho das companhias do conglomerado.
Redesenhar o grupo, reavaliar projetos e analisar o quadro de funcionários faz parte da missão da reestruturação da dívida do grupo EBX. Apenas no início deste mês, 50 funcionários de uma diretoria inteira, a de Sustentabilidade, criada há três anos, foram demitidos. Outras áreas, como tesouraria, jurídico e suprimentos, também sofreram demissões. Na última quinta, Eike informou que a reestruturação da dívida do grupo havia sido concluída. Segundo o comunicado, existem "tão somente dívidas com vencimento de longo prazo, em clara evidência ao elevado comprometimento do Grupo EBX para com as obrigações perante os seus stakeholders".
Na noite de segunda-feira, o empresário Eike Batista admitiu, em comunicado, o que há muito se especulava no mercado: ele realmente está tentando negociar a venda de ativos ou parte da sociedade de sua mineradora, a MMX. O grupo estaria negociando o Porto Sudeste para a Glencore Xstrata, segundo informações da coluna Lauro Jardim, de Veja. De acordo com a nota, o empresário teria jantado com Ivan Glasenber, CEO da Glencore, e alguns executivos da compradora interessada estiveram ontem no porto para avaliar o negócio, que seria fechado em parceria com o BTG. A Folha de S.Paulo informou ontem que a holandesa Trafigura também entrou na disputa por ativos ou uma fatia da mineradora.
Em meio a tantas mudanças, grandes projetos das empresas X têm sido adiados. Um deles é o da Mina de Serra Azul, de Minas Gerais, um dos principais projetos da MMX, que teria início em 2014 e acabou sendo empurrado para 2017, segundo informações da coluna de Lauro Jardim. Em resposta, a empresa não comenta o assunto e afirma que “em nenhum momento informou prazos bem como novas datas para a implantação do projeto”. Segundo a Folha de S. Paulo, tanto a holandesa, quanto a Glencore, já estariam na fase de “due dilligence” da MMX, ou seja, uma auditoria detalhada de suas contas.
Desde o início do ano, a OSX, responsável pela construção do estaleiro no Porto do Açu, em São João da Barra, passa por uma reestruturação com o intuito de trazer mais rentabilidade à companhia. Mais de 300 funcionários diretos e indiretos foram, desde então, demitidos da empresa para reduzir gastos e adequar o quadro às necessidades de operação. Os planos, antes baseados na necessidade de 48 plataformas de petróleo até 2020, foram desacelerados. A OSX decidiu adiar a construção de seu estaleiro no porto de Açu e só seguirá adiante com a obra se houver novas encomendas – fatores que acabaram por desagradar os investidores.
Para piorar um pouco mais a situação, nesta semana uma matéria publicada na Folha de São Paulo afirma que o estaleiro do empresário teria dado um calote de cerca de 500 milhões de reais à construtora Acciona, uma de suas principais fornecedoras. A matéria afirma que as obras estão quase abandonadas, mas a empresa rebateu a informação, afirmando que nada foi nem será paralisado. De acordo com o jornal, a dívida da empresa com fornecedores é de 724 milhões de reais e os débitos bancários, que vencem nos próximos 12 meses, são de quase 2 bilhões de reais.
A empresa de entretenimento de Eike, que reúne negócios como a franquia do Cirque de Soleil no Brasil, UFC e ainda detém metade do Rock in Rio, estaria à venda, segundo informações antecipadas de Lauro Jardim, da Veja. A IMX teria colocado parte de suas ações à venda por estimados 500 milhões de reais, o equivalente ao valor de mercado da sua concorrente, Time For Fun. Um dos interessados seria a A.R Live, empresa do ramo recém-criada pelo empresário de Luan Santana, Anderson Ricardo. Isoladamente, os negócios da IMX prosperam. A empresa faz parte do consórcio vencedor da licitação para concessão do Maracanã por 35 anos. Apesar disso, o atual cenário dificulta – e muito – os planos de abertura de capital da companhia em um futuro próximo.
Para aumentar a liquidez de suas empresas, uma das alternativas foi colocar à venda alguns de seus ativos. O tradicional Hotel Glória, na capital carioca, foi um deles. Inaugurado em 1922, o hotel foi comprado em 2008 pelo REX, braço do setor imobiliário do grupo, e agora estaria à venda por 80 milhões de reais. O BTG Pactual estaria ainda propondo a venda do porto do Açu a algumas empresas, segundo informações divulgadas na coluna Radar, de Lauro Jardim. A informação foi negada pela EBX, mas o blog reforçou sua publicação após a divulgação do posicionamento oficial da holding de Eike Batista. Além de refutar a venda, a LLX divulgou cronograma de operação do porto, com início marcado para este ano. O empresário Eike Batista ainda tenta vender ativos de carvão da CCX e de ouro da AUX, além de participação na produtora de minério de ferro MMX.
Em maio, com a finalidade de levantar caixa, a OGX vendeu 40% de participação nos blocos BM-C-39 e BM-C-40 , o Campo Tubarão Martelo, na Bacia de Campos, para a Petronas por 850 milhões de dólares. A Petronas, segundo comicado da empresa, ainda conseguiu o direito a opção de comprar 5% do capital total da OGX de Eike Batista a um preço de 6,30 reais por ação. No mesmo mês, o bilionário teria colocado um de seus jatos à venda: o modelo Legacy 600, da Embraer, por um preço estimado de US$ 14 milhões. Encomendado por Eike em 2006, a aeronave foi entregue pela Embraer dois anos depois. A queda do preço das ações das empresas X listadas fizeram com que o patrimônio do empresário estimado pela Bloomberg caísse a ponto do empresário sair da lista dos 200 mais ricos do mundo.
No último dia 20, Eike desistiu de fechar o capital da CCX, empresa colombiana de carvão controlada por ele, por conta das condições desfavoráveis do mercado. O fato desagradou os investidores e as ações da companhia, que perderam 36,72% de seu valor após o anúncio. Com a operação, os acionistas colocariam todos as ações a venda e em troca receberiam ações da MMX, OGX, da elétrica MPX, LLX e da OSX, todas controladas por Batista.
Em junho, a agência de classificação de risco Fitch cortou a nota de crédito de longo prazo em moeda estrangeira da OGX de B- para CCC, nível considerado como “lixo”. O rating nacional passou de BB+ para CCC. A perspectiva é negativa. As preocupações são em relação à liquidez da companhia nos próximos 12 a 18 meses, dados os elevados investimentos necessários para aumentar a produção e o fluxo de caixa operacional. Depois do rebaixamento, uma notícia do Wall Street Journal estimou que a companhia poderia ficar sem caixa em 2014 se os negócios continuarem seguindo esse rumo. "O valor já indica que os investidores estão vendo uma empresa em um cenário de liquidação", afirmou Marco Sá, analista do Credit Agricole Securities, ao jornal americano. Eike Batista vendeu cerca de 70,4 milhões de ações da petroleira nos últimos dias de maio. A informação foi publicada pela própria empresa na segunda-feira à noite para atender as exigências do artigo 11 da instrução 358 da CVM. A reação do mercado foi ruim e as ações caíram 9,3% naquele dia.
Enquanto o valor das ações X despencam na bolsa – a OGX vale menos de um real há tempos – alguns investidores perdem dinheiro. E o BNDES acabou sendo um deles. O banco de fomento investiu R$ 600 milhões em títulos de dívida da MPX Energia, em março de 2011, valor convertido em ações da MPX e da CCX. Hoje, as mesmas ações valem R$ 521 milhões. O BNDES já era acionista minoritário da MPX e ficou com 11,7% da companhia após a conversão. Agora tem 10,34%. Quando a CCX foi separada da MPX - para a entrada da alemã E.ON no capital da MPX -, todos seus acionistas ganharam a mesma participação na CCX.
Nesta segunda, uma grande reportagem do influente jornal americano The New York Times sobre Eike destaca a implosão da fortuna do bilionário no último ano. A preocupação apontada no texto é dos problemas de caixa, demanda e gestão das empresas resultarem em perda de controle do grupo. “Se a holding do Sr. Batista continuar a encolher em valor, os analistas dizem que seus credores, que incluem alguns dos maiores bancos brasileiros, poderiam levá-lo a uma reestruturação que poderia lhe custar o controle das companhias”, afirma o NYT, no trecho final da reportagem.
Em artigo especial para a EXAME, a investidora serial em startups Cláudia Rosa argumenta que investidores e founders precisam ser realistas, até porque a IA chegou e já mexeu na zona de conforto de muitos negócios. Tudo isso, claro, sem perder a ousadia
Cuidar das finanças corporativas permitiu a True Classic se livrar da falência e alcançar um recorde histórico de faturamento – hoje ela opera com um planejamento “super meticuloso”