Redação Exame
Publicado em 19 de fevereiro de 2025 às 08h15.
Última atualização em 19 de fevereiro de 2025 às 08h20.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou durante uma coletiva de imprensa que Donald Trump beneficiou o líder russo, Vladimir Putin, ao romper o isolamento imposto a Moscou pelos aliados ocidentais nos últimos três anos, como represália pela guerra de agressão lançada em 2022. O pronunciamento nesta quarta-feira, 19, vem um dia após o presidente americano culpar Kiev pelo início do conflito, e defender que a concessão de parte do território poderia ter resolvido a questão.
"[Os EUA] ajudaram Putin a sair do isolamento", disse Zelensky, classificando a política de sanções a Moscou como "completamente justa", dentro de uma reação à guerra. "Isso não é positivo para a Ucrânia. O que eles fazem é tirar Putin do isolamento, e os russos ficam felizes porque a discussão se concentra neles".
As falas de Zelensky ocorrem um dia após o presidente americano fazer uma nova declaração considerada pró-Rússia. Desde sua residência oficial em Mar-a-Lago, Trump disse que, se estivesse no cargo em fevereiro de 2022, teria firmado um acordo no qual os ucranianos cederiam parte de seu território em troca do cessar-fogo — algo que é contrário a posição oficial de Kiev, que defende a manutenção da unidade territorial do país, com base nas fronteiras de 1991.
"Acho que tenho o poder de acabar com essa guerra, e acho que está indo bem. Mas hoje ouvi: “Ah, bem, não fomos convidados”. Bem, vocês estão lá há três anos. Vocês deveriam ter acabado [com a guerra] depois de três anos. Vocês nunca deveriam ter começado [a guerra]. Vocês poderiam ter feito um acordo ", disse, em uma aparente referência a Kiev e repetindo argumentos de Putin, que acusa a Ucrânia de tentar se tornar um "satélite" da Otan.
Antes da sua coletiva de imprensa, Zelensky fez uma postagem em seu perfil no X (ex-Twitter) condenando o último ataque russo à infraestrutura energética civil de seu país, em uma mensagem na qual classificou os líderes russos como "mentirosos patológicos" e pediu que sejam pressionados a alcançar a paz.
"Nunca devemos esquecer que a Rússia é governada por mentirosos patológicos. Não se pode confiar neles e eles devem ser pressionados", escreveu Zelensky, após denunciar que um ataque russo contra Odessa deixou 160.000 pessoas na cidade ucraniana sem eletricidade e aquecimento.
Rescue operations are currently underway in Odesa following another Russian strike on the city's energy infrastructure. Once again, civilian energy facilities have been targeted – for nearly three years now, the Russian army has relentlessly used missiles and attack drones… pic.twitter.com/hpBolxxfS1
— Volodymyr Zelenskyy / Володимир Зеленський (@ZelenskyyUa) February 19, 2025
O ataque ocorreu horas depois de os Estados Unidos terem restabelecido contato com a Rússia em Riad, onde o ministro das Relações Exteriores russo, Sergey Lavrov, disse que Moscou "nunca" colocou em risco os sistemas civis de fornecimento de energia da Ucrânia.
“Ontem mesmo, após a famosa reunião em Riad, ficou claro que os representantes russos mentiram mais uma vez, ao assegurar que não estavam atacando o setor energético ucraniano”, declarou Zelensky.
O presidente ucraniano lembrou que "quase simultaneamente" a Rússia lançou outro ataque de drones contra transformadores elétricos que deixou dezenas de milhares de pessoas sem eletricidade quando as temperaturas noturnas chegavam a seis graus abaixo de zero.
Zelensky também explicou que este novo ataque russo deixou 13 escolas, um jardim de infância e vários hospitais sem eletricidade e aquecimento, e advertiu que as forças russas têm atacado constantemente a infraestrutura energética ucraniana desde que a invasão começou há quase três anos.