O premiê chinês, Wen Jiabao, discursa em 20 de setembro em um encontro com representantes da UE em Bruxelas (Thierry Charlier/AFP)
Da Redação
Publicado em 7 de novembro de 2012 às 21h42.
Pequim .- O primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, deverá abandonar seu posto no Comitê Permanente durante a 18ª edição do Congresso do Partido Comunista Chinês (PCCh), o primeiro passo da progressiva retirada de um político que demonstrou mais carisma que o próprio presidente, Hu Jintao, e simbolizou como ninguém as contradições do regime na China.
Nascido no dia 15 de setembro de 1942 em Tianjin, no norte do país, este geólogo de formação, ao combinar uma imagem de economista eficiente com a de populista, conseguiu se transformar na figura mais amável do regime, embora também tenha recebido críticas por sua suposta simulação ('ator') e por ter enriquecido no poder.
À frente do governo, Wen deu continuidade à política de reforma e abertura que transformou o país na segunda economia mundial e tentou - com pouco êxito, segundo os críticos - corrigir as contradições sociais que esta ascensão acabou provocando.
Além disso, Wen cultivou o costume de desenvolver atividades com 'gente da rua', com as quais ganhou muita simpatia entre a maioria da população da China, onde é reconhecido como 'o avô Wen'. Neste aspecto, a imagem do primeiro-ministro contrapõe a de Hu Jintao, muito mais hierático e distante.
Wen também conseguiu o que poucos líderes chineses alcançaram: popularidade internacional, já que o líder é visto no exterior como o dirigente que conseguiu que China se esquivasse da crise financeira mundial.
Já no plano político, o primeiro-ministro é considerado um 'progressista' que buscou, sem sucesso por falta de apoio, intensas reformas políticas no regime.
Esse argumento reforça as teorias que apontam que por trás de Wen há um reformista frustrado, assim como a histórica foto de maio de 1989, na qual ele aparece atrás do então secretário-geral Zhao Ziyang, um conhecido reformista, e junto dos estudantes da Praça da Paz Celestial semanas antes do massacre.
Anos antes, na Revolução Cultural, Wen não sofreu tanto como seus outros contemporâneos pelos desmandos dos Guardas Vermelhos. Em pleno anos 60, Wen pôde estudar, se graduar e, em 1965, ingressar no PCCh.
No Partido Comunista, Wen ocuparia diferentes cargos técnicos como geólogo no governo provincial de Gansu (noroeste), trabalho que lhe proporcionaria um salto decisivo a Pequim, já que acabou sendo nomeado como vice-ministro de Geologia e Recursos Minerais nos anos 80.
Na capital do país, Hu Yaobang, outro reformista e antecessor de Zhao Ziyang como secretário-geral, enxergou o potencial em Wen e o nomeou chefe do influente Escritório Geral do Partido em 1986.
O início dos anos 90 foi um tanto complicado para um político suspeito de ter apoiado os estudantes de Praça da Paz Celestial, mas, mesmo com dificuldades, Wen encontraria um novo protetor, o primeiro-ministro Zhu Rongji, com quem ascenderia ao cargo de vice-primeiro-ministro (encarregado da Agricultura e das Finanças) em 1998, um posto que manteve até assumir seu atual cargo em 2003.
Como primeiro-ministro, Wen cultivou uma imagem de político preocupado com os cidadãos. Em 2008, durante o terremoto de Sichuan, onde morreram 90 mil pessoas, o político teve um papel de destaque absoluto.
Na ocasião, Wen viajou ao local do terremoto poucas horas depois do acontecimento. As imagens de Wen com um megafone na mão, averiguando a existência de sobreviventes entre os escombros, comoveram os chineses.
Anteriormente, Wen já tinha conquistado a simpatia dos chineses por suas constantes visitas aos camponeses (inclusive cozinhando para eles) ou quando passou o Ano Novo com mineiros dentro de um poço.
Além disso, o primeiro-ministro é um dos poucos líderes que concede coletivas de imprensa e faz questão de participar de conferências internacionais, um fato que quase lhe trouxe uma má experiência em Cambridge no ano de 2009, quando um estudante alemão lhe atirou um sapato.
Wen também não hesitou em se vestir de jogador de beisebol em uma visita oficial ao Japão, assim como não temia ser fotografado de bermudas e jogando basquete.
Seus críticos observam essas ações como uma calculada campanha propagandista do primeiro-ministro - 'o melhor ator da China', em palavras do escritor Yu Jie, que após publicar uma ácida biografia de Wen teve que emigrar aos EUA.
Outro foco das críticas a Wen é sua esposa, a também geóloga Zhang Peili, que é acusada de ter se beneficiado do poder de seu marido para acumular uma enorme fortuna, controlando o negócio nacional de diamantes (comunicações reveladas pelo Wikileaks asseguram que o líder pensou em se divorciar de sua mulher por conta deste fato).
As acusações de que a esposa e outros parentes de Wen fizeram fortunas a suas custas também vieram à tona com mais evidencia recentemente, após a publicação de uma reportagem investigativa do 'New York Times' que, segundo muitos analistas, poderia causar um grande dano em longo prazo na reputação do primeiro-ministro.