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Washington admite bombardeio na Síria mas nega ataque à mesquita

Muitas vítimas da operação de quinta-feira à noite no vilarejo de Al Jineh, na província de Aleppo, são civis, informou a ONG síria

Destroços de mesquita: "A mesquita continua em pé, relativamente intocada", afirmou o porta-voz do Pentágono (Ammar Abdullah/Reuters)

Destroços de mesquita: "A mesquita continua em pé, relativamente intocada", afirmou o porta-voz do Pentágono (Ammar Abdullah/Reuters)

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AFP

Publicado em 17 de março de 2017 às 20h12.

As forças militares americanas admitiram que realizaram um ataque no norte da Síria contra posições da Al-Qaeda, mas negaram que seu alvo fosse uma mesquita na província de Aleppo, onde morreram 49 pessoas, segundo o último boletim, publicado nesta sexta-feira.

Muitas vítimas da operação de quinta-feira à noite no vilarejo de Al Jineh, na província de Aleppo, são civis, informou a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

A coalizão internacional, liderada pelos Estados Unidos, coordena ataques contra grupos jihadistas na Síria e Iraque desde 2014, o que já provocou involuntariamente a morte de centenas de civis.

"Não atacamos uma mesquita, e sim um prédio que tínhamos como alvo, onde se realizava uma reunião (da Al-Qaeda) e se situava cerca de 15 metros de uma mesquita que ainda está de pé", declarou na quinta-feira o coronel John J. Thomas, porta-voz do Comando das Forças Americanas no Oriente Médio (Centcom).

A princípio, o Centcom informou que "as forças dos EUA conduziram um ataque aéreo sobre um local de reunião da Al-Qaeda no dia 16 de março em Idlib, Síria, matando vários terroristas".

Posteriormente, o coronel Thomas admitiu que o ponto preciso do ataque não estava claro, mas que coincide com o local informado sobre a mesquita atingida, em Al-Jineh, 30 km ao oeste de Aleppo.

O Pentágono confirmou à imprensa que a mesquita não foi atingida, mostrando uma foto tirada depois do ataque.

"A mesquita continua em pé, relativamente intocada", afirmou o porta-voz do Pentágono, capitão Jeff Davis, comprometendo-se em tornar pública a imagem.

O correspondente da AFP verificou que há duas mesquitas, uma próxima da outra, ambas com o nome de Omar ben al Jatab. A mesquita mais nova foi completamente destruída e a outra está danificada.

"Vi 15 cadáveres"

Rami Abdel Rahman, diretor do OSDH, informou que mais de 100 pessoas ficaram feridas no ataque aéreo neste vilarejo sob controle de grupos rebeldes.

Imagens gravadas por um correspondente da AFP mostram moradores e Capacetes Brancos, socorristas das zonas rebeldes da Síria, retirando escombros com a ajuda de lanternas e pás.

As imagens mostram uma parte do edifício religioso completamente destruída e carros incendiados.

"Ouvimos explosões quando a mesquita foi atacada. Foi logo depois da oração, momento em que, geralmente, acontecem aulas de religião para os homens", contou Abu Mohamed, morador da localidade.

"Quando cheguei, vi 15 cadáveres e muitos pedaços de corpos entre as ruínas. Alguns corpos eram impossíveis de identificar", disse à AFP.

Ahrar Al Sham, um dos movimentos islamitas rebeldes influentes no norte da Síria, condenou o ataque e afirmou que "atacar mesquitas é um crime de guerra, principalmente porque estava cheia de fiéis".

Por temor de outros ataques, a oração tradicional de sexta-feira foi suspensa.

Apesar do acordo de cessar-fogo estabelecido em dezembro de 2016 por Rússia, aliado do regime de Bashar al-Assad, e pela Turquia, que apoia os rebeldes, a violência continua no país.

O céu da Síria está repleto de aviões do regime, da Rússia, da Turquia e da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos.

A Rússia iniciou a intervenção militar de apoio ao regime sírio em setembro de 2015. Mas sempre negou as acusações de que as operações matam civis.

A coalizão internacional concentra, em geral, seus ataques contra os extremistas do grupo Estado Islâmico (EI) e do Fateh al-Sham, o ex-braço sírio da Al-Qaeda, que ocupam várias regiões na Síria.

O conflito sírio, iniciado com a repressão às manifestações que pediam reformas em março de 2011, se tornou cada vez mais complexo com o avanço dos grupos jihadistas e o envolvimento de forças regionais, além de potências internacionais em um território muito dividido.

Em seis anos, a guerra na Síria deixou mais de 320.000 mortos.

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