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Voto feminino foi decisivo para vitória de Trump

Em disputa com Kamala Harris, o presidente levou a melhor com discurso moderado e promessas anti-imigração em prol da segurança de mulheres e meninas

Donald Trump: (Jonathan Ernst)

Donald Trump: (Jonathan Ernst)

Lia Rizzo
Lia Rizzo

Editora ESG

Publicado em 6 de novembro de 2024 às 09h17.

Última atualização em 6 de novembro de 2024 às 18h27.

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Embora todas as pesquisas apontassem a preferência do eleitorado feminino americano por Kamala Harris, mulheres tiveram participação decisiva na vitória histórica do candidato republicano. A explicação está na estratégia da reta final da campanha de Trump, que nos últimos dias se concentrou em promessas sobre segurança e um discurso mais moderado a respeito do aborto.

Nos últimos quatro dias, sua operação de campo incluiu uma série de ações coordenadas para chegar às indecisas e simpatizantes. Em um evento na Carolina do Norte, sua participação foi iniciada com uma fala forte: "Eu protegerei as mulheres", bradou o então candidato. Na sequência de 90 minutos, explanou seus planos de fechamento da fronteira Sul e deportação de cerca de 11 milhões de imigrantes ilegais.

O objetivo, destacou, seria aumentar a segurança das mulheres suburbanas. Em determinado momento, passou o protagonismo para uma senhora que, em vídeo, relatava como a filha foi sequestrada e estrangulada por adolescentes imigrantes que teriam entrado ilegalmente ao país e se mudado para o subúrbio. A responsabilidade, disse Trump, era de Kamala Harris, a quem ele acusou também - falsamente - de ser facilitadora de imigrações nas fronteiras durante o governo Biden.

Ovacionado, ele foi além, prometendo pena de morte para todos os imigrantes sem documentos, "por matarem os americanos ou agentes da lei". Estado-chave nas eleições, a Carolina do Norte foi apontada em uma análise como uma das regiões em que mulheres superavam os homens, em muito, nas eleições antecipadas. E esta não foi a primeira vez que Trump testou a reação das eleitoras às promessas de segurança.

Sem evidências, com aderência

Desde 2015, quando concorreu ao cargo pela primeira vez, classifica imigrantes como criminosos violentos. E as abordagens ao tema não mencionam vítimas do sexo masculino nos episódios que traz como exemplo. Via de regra, alimenta a narrativa com apoio de famílias enlutadas por vítimas que seguem um quase padrão: mulheres jovens, brancas, violentadas ou mortas por hipânicos.

Não há evidência de que o índice de criminalidade entre imigrantes seja maior que o de nativos americanos. Nos últimos anos, pesquisadores e acadêmicos se concentraram em produzir estudos com base no Censo dos Estados Unidos e estimativas de imigrantes ilegais no país.

Os números variam entre estados, mas em alguns locais, americanos cometem mais delitos. Outro aspecto apontado é o perfil majoritário de imigrantes identificados nas fronteiras nos últimos anos: famílias e crianças desacompanhadas que são, estatisticamente, menos propensas aos crimes apontados por Trump.

De qualquer modo, o discurso colou. Não houve suspeita, por exemplo, de que Kamala Harris, na verdade, foi designada durante o governo Biden para analisar as causas básicas de imigração da América Central para então traçar estratégias para lidar com o problema histórico.

Entra em campo o "veja bem"

Outra manobra para reconquistar eleitores - sobretudo entre o eleitorado feminino - foi a postura mais moderada em relação a uma questão crucial nesta campanha, a legislação sobre direitos reprodutivos. Enquanto em 2016, sua plataforma de campanha defendeu enfaticamente proibição e formas de punição a quem realizasse aborto, na última semana entrou em campo o "veja bem".

Com posições não tão claras para não assustar sua massa conservadora, alternou declarações que foram da ambiguidade a incoerência, sobretudo considerando seu histórico de indicações à Suprema Corte, que contribuíram de forma definitiva para a revogação do direito ao aborto há dois anos.

Em meados de outubro, Trump declarou em uma entrevista à FOX News, que algumas leis sobre aborto eram muito duras e seriam refeitas, sem detalhar em que estados ou de qual lei falava. E nos discursos dos últimos dias, incluindo o da Carolina do Norte, preferiu não dispensar nenhum segundo ao tema.

Padrão demográfico que se confirma

Ainda que Kamala Harris tenha conquistado expressivo apoio feminino, não é surpreendente que este aspecto não tenha bastado para garantir sua vitória. As pesquisas de boca de urna divulgadas pelos veículos de comunicação americanos revelaram, a todo tempo, uma clara divisão por gênero.

Enquanto Harris mantinha uma vantagem de 10 pontos percentuais entre o eleitorado feminino (54% contra 44%), Trump espelhava a seu favor exatamente o mesmo cenário entre os homens. O pleito, porém, confirmou o padrão demográfico marcante: a disparidade de gênero entre o eleitorado, que favoreceu a candidata democrata, mas não o suficiente para ela se tornar a primeira mulher presidente dos Estados Unidos.

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