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Vitória de Bolsonaro acelera guinada da América Latina à direita

As últimas nove eleições presidenciais na América Latina foram vencidas por candidatos liberais identificados com a direita

Bolsonaro venceu com cerca de 55% dos votos, contra quase 45% de Fernando Haddad (PT) (Amanda Perobelli/Reuters)

Bolsonaro venceu com cerca de 55% dos votos, contra quase 45% de Fernando Haddad (PT) (Amanda Perobelli/Reuters)

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EFE

Publicado em 29 de outubro de 2018 às 10h16.

Última atualização em 29 de outubro de 2018 às 10h59.

Rio de Janeiro - A eleição de Jair Bolsonaro (PSL) como presidente do Brasil fortaleceu ainda mais a guinada à direita começada há pouco tempo na América Latina, região em que a esquerda era hegemônica há uma década e na qual Venezuela, Bolívia, Nicarágua e Cuba ficaram isoladas.

A vitória de Bolsonaro com cerca de 55% dos votos, contra quase 45% de Fernando Haddad (PT), deixou claramente a região inclinada à direita, devido ao peso e à influência do Brasil na América do Sul, da qual representa praticamente a metade tanto em população e território como em PIB.

As últimas nove eleições presidenciais na América Latina foram vencidas por candidatos liberais identificados com a direita (Argentina, Colômbia, Costa Rica, Chile, Equador, Honduras, o Paraguai e Peru), com a única exceção do esquerdista Andrés Manuel López Obrador, que ganhou em julho deste ano no México.

Há exatamente 11 anos, em novembro de 2007 e no ápice da influência da esquerda na região, a Cúpula Ibero-Americana de Santiago reuniu líderes emblemáticos como Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), Hugo Chávez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia), Cristina Kirchner (Argentina), Michelle Bachelet (Chile), Rafael Correa (Equador), Alan García (Peru), Tabaré Vazquez (Uruguai), José Manuel Zelaya (Honduras) e Daniel Ortega (Nicarágua).

Aquela reunião não contou com Fidel Castro (Cuba), e o único que contrastou em meio à elite esquerdista foi o colombiano Álvaro Uribe.

A virada da América Latina rumo à direita começou em novembro de 2015, com a vitória de Mauricio Macri na Argentina.

Em fevereiro de 2017, os equatorianos elegeram presidente Lenín Moreno, que, apesar de ser afilhado político de Rafael Correa, se distanciou da administração do esquerdista, se aliou à direita e até se aproximou dos Estados Unidos.

Em novembro de 2017, a vitória do conservador Sebastián Piñera no Chile pôs fim à liderança de Bachelet.

Em fevereiro deste ano, a Costa Rica optou pelo governista Carlos Alvarado, e Honduras, pelo conservador Juan Orlando Hernández.

O também conservador Mario Abdo Benítez, filho do secretário particular do ditador Alfredo Stroessner, assumiu a presidência do Paraguai em abril, e o colombiano Iván Duque, apadrinhado pelo direitista Álvaro Uribe, assumiu em agosto a chefia de Estado no segundo país mais povoado da América do Sul, após vencer no segundo turno o esquerdista Gustavo Petro.

O Peru é governado desde março por Martín Vizcarra, um político independente de ideias conservadoras e que foi escolhido para concluir o mandato do empresário liberal Pedro Pablo Kuczynski, cassado por causa de um escândalo de corrupção.

Segundo analistas consultados pela Agência Efe, a onda conservadora chegou à América Latina precedida por uma grave crise econômica em vários dos seus países, provocada pela queda dos preços das matérias-primas, principal produto de exportação, e pelos escândalos de corrupção protagonizados por vários governantes de esquerda.

Com a crise, o apoio que os governos de esquerda tiveram durante a bonança econômica praticamente desapareceu.

No novo contexto, a Venezuela quase ficou isolada e agora pode sofrer a pressão de seus dois principais vizinhos.

"Bolsonaro pode, assim como fez Iván Duque, deixar a Unasul (União de Nações Sul-Americanas) por considerá-la defensora da Venezuela, e se juntar a ele para pressionar medidas mais fortes contra o governo de (Nicolás) Maduro", disse à Efe a analista Andrea Hoffman, pesquisadora do Pontifícia Universidade Católica (PUC).

Bolsonaro tem em comum com estes presidentes sua opção por uma política econômica claramente liberal, seu forte discurso contra a corrupção e o apoio que recebeu dos grupos evangélicos, mas se distingue por suas posições mais radicais, como a defesa da ditadura militar que governou o Brasil entre 1964 e 1985, e por suas declarações de tom machista, racista e homofóbico.

Apesar disso, seus vizinhos conservadores começaram a se aproximar do capitão da reserva do Exército inclusive antes da sua vitória neste domingo, devido à importância econômica do Brasil para muitos dos países da região.

Bolsonaro, que prometeu aprofundar as relações do Brasil com os países vizinhos "livres de ditaduras", conversou na última semana por telefone com Macri e Benítez, cujos países são altamente dependentes da economia brasileira.

O presidente eleito recebeu elogios de Piñera por suas ideias liberais e se reuniu no Rio de Janeiro com senadores de partidos de direita que fazem parte da coalizão governista no Chile.

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