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Violência e discriminação causam auge da Aids na América Latina

A América Latina vive situação de estagnação nos contágios do HIV, um fenômeno preocupante quando se compara com o declínio em outras regiões

Aids: "O crescimento no número de contágios ocorre em mulheres jovens e homens homossexuais" (foto/Getty Images)

Aids: "O crescimento no número de contágios ocorre em mulheres jovens e homens homossexuais" (foto/Getty Images)

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AFP

Publicado em 23 de novembro de 2017 às 19h03.

A América Latina vive um aumento no contágio do vírus causador da Aids entre mulheres e homossexuais, um fenômeno causado pela violência e a discriminação contra estes segmentos, alerta a ONU.

"O crescimento no número de contágios ocorre em mulheres jovens e homens homossexuais, que vivem a mesma situação de discriminação. As pessoas que são discriminadas se escondem da sociedade e não participam de programas de prevenção", disse à AFP o médico brasileiro Luiz Loures, diretor adjunto da Unaids.

A América Latina vive uma situação de estagnação no número de contágios do vírus da imunodeficiência humana (HIV), que causa a aids, um fenômeno preocupante quando se compara com outras regiões, como a África, onde está em declínio.

Loures, também subsecretário geral da ONU, participou nesta semana em San José em um fórum organizado pela ICW Latina, que reúne mulheres que vivem com HIV.

Na visita, destacou a violência como um dos maiores problemas que as mulheres jovens enfrentam na América Latina.

"Nossas estatísticas mostram claramente que onde há violência há HIV. Meninas que sofrem violência podem ter um risco de contrair HIV de 30% a 50% maior que as que não sofrem violência", advertiu Loures.

"Mais de 30% das mulheres jovens da América Latina relatam que sofreram violência física ou sexual, um nível muito alto, é preocupante", acrescentou.

Epidemia da violência

Um relatório da ONU Mulheres apontou que a região latino-americana é a que apresenta os maiores índices de violência contra as mulheres no mundo, especialmente a América Central e o México.

O outro problema que afeta as mulheres é a falta de garantias em termos de saúde reprodutiva, com alguns países em que 42% das mulheres com HIV sofreram discriminação em centros de saúde, segundo Loures.

"Este é um problema permanente que deixa uma mancha na região, e não há como frear os novos contágios sem atacá-lo e sem reduzir a violência e a discriminação", alertou.

Dados da Unaids indicam que em 2016, 540.000 mulheres viviam com HIV na América Latina, 73.000 delas de entre 15 e 24 anos de idade. No total, 1,8 milhão de pessoas eram portadoras do vírus na região.

Neste ano, houve um número estimado de 27.000 novas infecções por HIV em mulheres, o que representa 28% do total de novos casos de HIV na região, segundo a organização.

A proliferação dos contágios contrasta com a capacidade regional de oferecer tratamento aos portadores do vírus.

Loures recordou que a América Latina foi a primeira região do mundo onde surgiu um movimento da sociedade civil que exigiu o tratamento, o que levou a uma ação dos governos para garantir a cobertura.

Afirmou, ainda, que os países latino-americanos terão dificuldades para atingir a meta da ONU de erradicar os contágios de HIV até o ano 2030.

"Estamos cumprindo os números de pessoas em tratamento, mas não os de novas infecções, precisamos fazer muito mais", admitiu.

"Temos que tentar fazer um trabalho mais forte para acabar com a violência contra a mulher, que para mim é uma epidemia mais importante que a epidemia do HIV", afirmou.

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