Nancy Pelosi: China alerta que terá uma forte reação caso presidente da Câmara dos EUA visite Taiwan (AFP/AFP)
Estadão Conteúdo
Publicado em 26 de julho de 2022 às 13h29.
Última atualização em 2 de agosto de 2022 às 11h54.
A China alertou para uma forte reação caso a presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, prossiga com o plano de visitar Taiwan nas próximas semanas - uma agenda contestada mesmo dentro dos Estados Unidos, que acendeu um alerta de preocupação em militares americanos.
A visita representaria a primeira ida de um representante do mais alto escalão da política americana a Taiwan desde 1997 - uma demonstração de apoio ao centro democrático rodeado e contestado por Pequim, em um momento sensível para as autoridades chinesas.
Pelosi tem sido uma crítica ferrenha da China ao longo de suas mais de três décadas no Congresso americano, uma vez abrindo uma faixa na Praça Tiananmen, em Pequim, em homenagem aos mortos na repressão aos manifestantes pró-democracia em 1989. Ela também foi uma forte defensora do movimento pró-democracia em Hong Kong em 2019, o que a tornou um alvo das críticas de Pequim.
Em Taiwan, dois motivos parecem ter conquistado a atenção de Pelosi. A primeira é o embate do governo liderado pela presidente Tsai Ing-wen com Pequim, que não se curvou a ameaças e investiu em pautas liberais comuns a agenda de Pelosi, como o casamento entre pessoas do mesmo sexo e seguridade social.
A outra é de cunho interno: a causa de Taiwan tem forte apoio de democratas e republicanos no Congresso, e uma demonstração de apoio pode criar pontes na fraturada política dos EUA.
A China reivindica Taiwan como seu próprio território a ser anexado à força, se necessário, e seu crescimento militar nos últimos anos foi amplamente orientado para essa missão. Ao mesmo tempo, Pequim se opõe a qualquer contato oficial entre Taipé e Washington, e rotineiramente ameaça retaliação. Mas desta vez, o governo chinês tem mais condições de impor uma represália.
Em 1995, a China chegou a realizar exercícios militares e disparar mísseis em águas perto de Taiwan em resposta a uma visita do então presidente de Taiwan, Lee Teng-hui, aos EUA - isso em um momento que as capacidades militares chinesas nem se comparavam a atual.
Embora especialistas digam que é improvável que a China use a força para impedir que o avião do governo americano com Pelosi aterrisse em Taipei, sua resposta permanece imprevisível. Exercícios militares e incursões de navios e aviões são considerados cenários potenciais que colocariam toda a região no limite.
Inicialmente, a viagem de Pelosi para Taiwan estava prevista para abril, mas a agenda precisou ser cancelada após ela testar positivo para covid-19. A presidente da Câmara dos EUA se recusou a discutir os planos de viagem atual, mas uma ida nas próximas semanas poderia coincidir com as comemorações chinesas do aniversário de fundação do Exército de Libertação Popular, a ala militar do Partido Comunista, em 1º de agosto, e possivelmente se sobrepor a um telefonema planejado entre Joe Biden e o Xi Jinping.
Uma resposta chinesa mais robusta também pode ser impulsionada pelo desejo de Xi de reforçar suas credenciais nacionalistas antes do congresso do partido no final deste ano, no qual ele deve buscar um terceiro mandato de cinco anos.
A expansão de poderes por Xi em todas as esferas e sua resposta de tolerância zero com a pandemia de covid-19 provocou certo grau de ressentimento na sociedade chinesa, e apelar ao patriotismo puro, particularmente em relação a Taiwan, pode ajudá-lo a afastar as críticas.
A presidente Tsai Ing-wen tem recebido todos os dignitários estrangeiros, no cargo ou aposentados, dos EUA, Europa e Ásia, usando essas visitas como um baluarte contra a recusa da China em lidar com seu governo e a implacável campanha de isolamento diplomático. Ainda assim, sua retórica nessas ocasiões tem sido relativamente discreta, refletindo seu próprio comportamento calmo e possivelmente um desejo de não antagonizar ainda mais a China, que continua sendo um parceiro econômico crucial, com cerca de um milhão de taiwaneses residindo na China continental.
Taipé realizou um exercício de defesa civil na segunda-feira (25) e Tsai, nesta terça-feira, 26, participou de exercícios militares anuais, embora não houvesse conexão direta com as tensões sobre uma possível visita a Pelosi. Embora o público taiwanês rejeite fortemente as demandas de unificação da China, a capacidade dos militares da ilha de se defender contra o exercito chinês sem a ajuda dos EUA é altamente questionável, portanto, fortalecer as forças armadas tem sido uma marca registrada do mandato de Tsai.
Falando na terça-feira durante os exercícios, o porta-voz do Ministério da Defesa, Sun Li-fang, disse que os militares estavam monitorando todos os movimentos de navios de guerra e aeronaves chineses ao redor da ilha. "Ao mesmo tempo, temos a confiança e a capacidade de garantir a segurança do nosso país", disse Sun. Fonte: Associated Press.
(Estadão Conteúdo)
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