Trump: nesta manhã, Trump reagiu às críticas ao decreto e garantiu que o plano é "buscar terroristas antes que entrem no país" (Jonathan Ernst/Reuters)
EFE
Publicado em 30 de janeiro de 2017 às 19h33.
Washington - O polêmico decreto do presidente Donald Trump que fecha temporariamente as portas dos Estados Unidos a refugiados e imigrantes de sete países muçulmanos gerou grande indignação, contra-ataques judiciais e diplomáticos e o temor sobre uma volta do sentimento antiamericano no mundo.
A ordem executiva assinada na sexta-feira "pode danificar a segurança americana ao reforçar a propaganda do Estado Islâmico (EI) sobre a guerra dos EUA contra o Islã, ao mesmo tempo em que cria tensão com parceiros na luta antiterrorista", explicou David Sterman, analista do centro de estudos New America.
Os protestos contra o veto feitos no fim de semana em aeroportos americanos foram seguidos nesta segunda-feira por reações de países afetados pela suspensão de vistos a cidadãos de Líbia, Sudão, Somália, Síria, Iraque, Iêmen e Irã (que não participaram de nenhum ataque terrorista nos EUA com vítimas desde 1975, segundo dados do Instituto Cato).
Os parlamentos de Irã e Iraque pediram a aplicação do princípio de reciprocidade aos viajantes americanos, um primeiro exemplo de como a ordem aproxima o Iraque, aliado americano na guerra contra o jihadismo, ao Irã, estado também xiita e adversário de Washington.
Os senadores republicanos John McCain e Lindsey Graham advertiram que o decreto de Trump pode se transformar em um golpe em si mesmo, que manda a mensagem errada aos muçulmanos e pode acabar ajudando os trabalhos de recrutamento de jihadistas.
Sobre a ordem executiva assinada na sexta-feira passada, Trump explicou que a meta é evitar que terroristas entrem no país e proteger os americanos da ameaça do terrorismo jihadista, pondo no topo da lista de risco todos os refugiados sírios, que têm proibida a entrada ao país de maneira indefinida e com a única exceção de serem cristãos.
Nesta manhã, Trump reagiu às críticas ao decreto, que afetou pessoas em viagem, inclusive as com residência permanente, e garantiu que o plano é "buscar terroristas antes que entrem no país".
"O presidente quer estar na frente das ameaças e fazer todo o possível para defender os americanos. O presidente não vai ficar esperando", comentou em entrevista coletiva o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer.
O ex-embaixador iraquiano nos Estados Unidos Lukman Faily opinou que a medida adotada por Washington, anunciada sem transmitir instruções a funcionários de imigração, é uma "traição" aos iraquianos, muitos dos quais pediram asilo após ajudarem tropas americanas como tradutores ou informantes.
Cerca de cem diplomatas americanos emitiram nesta segunda-feira uma reclamação interna contra a suspensão do programa de amparo de refugiados e a proibição de entrada de imigrantes dos sete países de maioria muçulmana ao argumentarem que "não alcançarão o objetivo de proteger o povo americano de ataques terroristas de cidadãos estrangeiros".
Nihad Awad, diretor-executivo do Conselho de Relações Islâmico-Americanas, anunciou a apresentação de um requerimento judicial contra o decreto de Trump, criticado também por 15 procuradores-gerais de todo o país, entre eles o do estado de Nova York, Eric Schneiderman, que considera que partes do decreto são "inconstitucionais" por não respeitarem o "devido processo".
O que parece claro é que a medida de Trump não está baseada em dados que provem que com a suspensão das chegadas de pessoas desses países será possível deter a entrada de terroristas estrangeiros, que desde os ataques do 11 de setembro de 2001 foram majoritariamente de nacionalidade saudita, egípcia, libanesa ou paquistanesa.
"Dos 12 indivíduos que cometeram ataques desde o 11 de setembro, todos eram cidadãos ou residentes permanentes. Sete são nascidos nos EUA. Nenhum emigrou ou veio de famílias da lista de países incluídos na ordem executiva", acrescentou Sterman.
O ex-subdiretor da CIA Michael Morell afirmou nesta segunda-feira ao canal "CBS" que a medida de Trump, além de não contar com quase nenhum planejamento, "vai piorar as ameaças".
"Vai nos deixar menos seguros", ressaltou Morell, ao acrescentar que a maior ameaça para os EUA são os americanos radicalizados dentro do país.