Manifestantes durante protesto contra presidente argentino, Mauricio Macri (Agustin Marcarian/Reuters)
Reuters
Publicado em 5 de setembro de 2019 às 15h36.
Buenos Aires - Andreina Pirrone trocou a Venezuela pela Argentina seis anos atrás, quando seu país mergulhava na pior crise humanitária de sua história. Ela não sabia o que o futuro reservava, mas tinha certeza de que seria melhor.
Agora Andreina, funcionária de uma fábrica de massas de Buenos Aires, está com uma sensação de déjà vu, já que seu lar adotivo ruma para sua própria crise econômica -- a inflação passa dos 50% e o peso despenca em meio aos temores de calote.
O turbilhão da Argentina é familiar para os membros da grande comunidade venezuelana do país vizinho, muitos dos quais se mudaram para escapar da pobreza crescente, da inflação em disparada e dos controles rígidos sobre a moeda e os alimentos.
"Não é algo que eu gostaria de passar novamente. Trabalhei muito duro para tirar minha família de lá, e agora tê-los trazido possivelmente para a mesma situação é terrível", disse Andreina, cujas mãe e irmã se uniram a ela desde então.
Ela disse que seria complicado deixar a Argentina, mas que o cogitaria se as coisas piorarem, especialmente com uma mudança de governo provável no final do ano.
"Não deixei a Venezuela para cair em outro tipo parecido de governo, então sim, eu partiria".
O presidente argentino de centro-direita, Mauricio Macri, foi duramente derrotado em uma eleição primária em agosto, o que torna altamente provável que a votação de outubro seja vencida pela principal chapa peronista, que inclui a polarizadora e populista ex-presidente Cristina Kirchner.
A Argentina, o quarto destino favorito dos imigrantes venezuelanos, está em recessão e luta contra crises econômicas desde o ano passado. O resultado chocante da primária provocou um abalo adicional no mercado, e o peso perdeu mais de um quarto de seu valor na comparação com o dólar só em agosto.
Em reação, Macri apresentou planos para adiar reembolsos da dívida e impôs um controle de capitais para proteger o peso. Para alguns expatriados venezuelanos, isso despertou lembranças de sua terra natal, que há tempos pratica controles monetários que muitos veem como causas centrais da aflição econômica do país.
Nos últimos anos, estima-se que 4,3 milhões de venezuelanos fugiram do colapso econômico em casa, que desencadeou uma crise humanitária e escassez de alimentos e remédios. A maioria se espalhou pela América do Sul.