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Venezuelanos com HIV protestam por falta de anti-retrovirais

As farmácias do governo - as únicas que oferecem anti-retrovirais, devido ao seu alto custo - estão desertas devido à crise política e econômica

Venezuela: mais de 80 mil pessoas com HIV e Aids são afetadas e estão em perigo (Luis Robayo/AFP)

Venezuela: mais de 80 mil pessoas com HIV e Aids são afetadas e estão em perigo (Luis Robayo/AFP)

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AFP

Publicado em 19 de abril de 2018 às 06h27.

Caracas - Mostrando recipientes de medicamentos vazios e silhuetas de crânios feitos de papelão, pacientes venezuelanos com HIV protestaram nesta quarta-feira (18) em Caracas, em frente ao Ministério da Saúde, para denunciar a escassez de anti-retrovirais.

"Tenha dignidade, renuncie!", exigiam do ministro de Saúde cerca de 300 pacientes em coro. Um cordão policial impediu que eles entrassem no prédio, no centro de Caracas, provocando confusões.

Pacientes de transplantes renais e com condições como câncer, Mal de Parkinson, hemofilia e doenças mentais participaram do protesto.

Mauricio Gutiérrez, de 54 anos, garantiu que, em termos de saúde, a Venezuela "voltou aos anos 80" - década em que começaram a haver informações sobre a pandemia da Aids.

"Estão morrendo pessoas com HIV devido à falta de tratamento, como acontecia na época", disse Gutiérrez, diagnosticado com o vírus há 26 anos.

As farmácias do governo - as únicas que oferecem anti-retrovirais, devido ao seu alto custo - estão desertas, disse Arturo Brito, portador de 58 anos.

"Mais de 80 mil pessoas com HIV e Aids são afetadas e estão em perigo devido à escassez total de medicamentos anti-retrovirais e de remédios para o tratamento de infecções oportunistas associadas" a essas doenças, afirmou a Rede Venezuelana de Pessoas Positivas em nota.

Pacientes, soropositivos, familiares e outros cidadãos protestam pela falta de medicamentos em Caracas, em 18 de abril de 2018

O presidente da Federação Farmacêutica, Freddy Ceballos, descreveu como "crítica" a situação de pacientes com condições crônicas, como HIV. "Não há medicamentos para eles", disse à AFP.

A hiperinflação, que em 2018 poderá chegar a 13.864,6%, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), é outro fator agravante. "Muitos simplesmente não podem pagar por seus remédios", afirmou Ceballos, lembrando que cerca de 125 farmácias fecharam no último ano.

Uma declaração assinada por cerca de cem ONGs de direitos humanos indica que a falta de anti-retrovirais "data de 2009".

Uma decisão da suprema corte ordenou que o Estado fornecesse tratamento gratuito para o HIV e a Aids em 1999, mas sua entrega está praticamente paralisada devido a sérios problemas de liquidez do governo.

Desdobrando um cartaz com a lista de medicamentos que precisou deixar de tomar, Angela Delgado, de 57 anos, disse que por isso, no fim de 2017, teve pneumonia e atualmente sofre de cirrose hepática.

"As doenças oportunistas chegam se não tomarmos os medicamentos anti-retrovirais", disse Delgado, infectado há 25 anos pelo marido falecido. "Será a minha vez de esperar pela morte", lamentou ele.

Na Venezuela, há a escassez de 95% de tipos de medicamentos para doenças crônicas, e para as essenciais, como hipertensão, é de 85%, segundo a Federação Farmacêutica.

Maduro nega que na Venezuela haja uma crise humanitária e ultimamente atribui o desabastecimento de remédios e insumos às sanções econômicas dos Estados Unidos, que dificultam o pagamento de importações.

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