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Venezuela tem 2 mortos e dezenas de feridos em novo dia de tensão

O conflito ocorreu durante um bloqueio feito pela oposição contra a Assembleia Constituinte convocada por Maduro

Protestos: o candidato à Constituinte José Luis Rivas, morto a tiros durante um comício, é uma das vítimas (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

Protestos: o candidato à Constituinte José Luis Rivas, morto a tiros durante um comício, é uma das vítimas (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

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AFP

Publicado em 11 de julho de 2017 às 09h25.

Forças de segurança e manifestantes se enfrentaram nesta segunda-feira em várias cidades da Venezuela, com um balanço de dois mortos e dezenas de feridos, durante um bloqueio de ruas realizado pela oposição contra a Assembleia Constituinte convocada pelo presidente Nicolás Maduro.

O Ministério Público informou que investigará "a morte de um jovem de 16 anos durante uma manifestação" na localidade de La Isabelica, estado de Carabobo (norte), onde aconteceram confrontos.

Em outro incidente, o candidato à Constituinte José Luis Rivas foi morto a tiros durante um comício na cidade de Maracay, no estado de Aragua (centro).

O Ministério Público, que não divulgou detalhes, anunciou que investigará "a morte de José Luis Rivas", 42 anos, em um incidente no qual "também resultaram feridas duas pessoas".

Além disso, sete militares ficaram feridos pela explosão de um artefato lançado por manifestantes contra uma caravana de policiais durante um confronto em Altamira, bairro do leste de Caracas, e outros dois soldados foram baleados nas localidades de La Tahona e San Antonio, no estado de Miranda (norte).

O prefeito de Chacao (leste), Ramón Muchacho, disse à AFP que ao menos 21 pessoas ficaram feridas nos distúrbios.

Com cordas, veículos e barricadas de árvores e de lixo, grupos de opositores participam do "grande bloqueio" de 10 horas convocado pela Mesa da Unidade Democrática (MUD) para estimular o plebiscito contra a Assembleia Constituinte planejada por Maduro.

"Este povo está decidido a continuar a luta pela liberdade. No domingo haverá o ato de desobediência civil mais importante da história da Venezuela", declarou o deputado da oposição Freddy Guevara, vice-presidente do Parlamento, de maioria opositora, em um bloqueio no leste de Caracas.

À margem do poder eleitoral, os opositores da MUD realizarão no próximo domingo um plebiscito simbólico, confiantes de que a votação mostrará uma rejeição em massa à Constituinte convocada por Maduro para, segundo eles, perpetuar-se no poder.

A Igreja católica, que chamou o governo de "ditadura", pediu na segunda-feira a Maduro que retire de forme urgente seu projeto e "devolva" a institucionalidade democrática ao país.

Em meio a uma severa crise econômica e política política, a Venezuela vive há 101 dias uma onda de protestos que deixou 93 morto.

"Condenamos a morte de outro jovem manifestante na Venezuela. Apenas a democracia acabará com a violência contra o povo", escreveu no Twitter o secretário-geral da OEA, Luis Almagro.

"Não queremos uma Síria"

O governo afirma que nada atrapalhará a Constituinte, cujos 545 integrantes serão eleitos no dia 30 de julho. Em todos os estados do país, milhares de apoiadores, vestidos de vermelho, participaram na segunda-feira de atos de campanha.

"Não queremos mais guerra, não queremos uma Síria. Podemos estar chateados com revolução por certas coisas que não estão funcionando, mas todo o povo chavista tem que votar", disse Steven Márquez, em um desses atos.

Em outra concentração, a esposa de Maduro, Cilia Flores, candidata à Constituinte, assim como o filho do presidente, criticou "os loucos" que "se empenham em fechar as ruas e falam de democracia".

"Quem não quer a paz são os loucos, os irracionais, os fascistas, um grupinho muito pequeno, mas que causa muitos danos. A Constituinte trará paz", disse a primeira-dama.

Maduro assegura que com a Constituinte, um supra poder que regirá o país por tempo indeterminado, trará a estabilidade política e econômica.

Em uma conversa telefônica, Maduro informou ao presidente russo, Vladimir Putin, seu aliado, sobre "os esforços" para chegar à "normalização da situação política" na Venezuela, segundo o Kremlin.

De acordo com o instituto de pesquisa Datanálisis, cerca de 70% dos venezuelanos não concordam com a Constituinte, e 80% rejeitam o governo do presidente socialista.

"Estamos mais perto"

Animados com a transferência de Leopoldo López da prisão, após três anos e cinco meses, para cumprir pena domiciliar, os opositores dizem que continuarão nas ruas contra a Constituinte, pela libertação plena de 431 "presos políticos" que dizem haver na Venezuela e pela saída de Maduro.

"Vou continuar na rua. Agora que estamos mais perto não podemos parar. Espero que no domingo o país inteiro não tenha medo e se mova contra essa Constituinte com a qual Maduro quer o poder absoluto. A Venezuela será uma Cuba", declarou à AFP Yoleima Zambrano, de 50 anos, enrolada em uma bandeira nacional.

Na segunda-feira à noite foram registrados distúrbios no centro e oeste de Caracas, assim como na cidade de Cabudare, estado de Lara (oeste).

A oposição garante que os resultados do plebiscito serão o "marco zero" de manifestações simultâneas e maciças em todo o país, sem descartar uma greve geral.

Chavistas críticos ao governo, incluindo vários ex-ministros do falecido presidente Hugo Chávez (1999-2013), expressaram no último domingo sua rejeição à Constituinte e consideraram "legítima" a consulta opositora.

A procuradora-geral, Luisa Ortega, figura mais forte do chavismo a se opôr à Constituinte, garante que essa iniciativa destruirá o legado de Chávez e violenta a democracia porque não se perguntou em plebiscito se os venezuelanos gostariam de mudar sua Carta Magna.

Até quarta-feira, o Tribunal Supremo de Justiça (TJS) decidirá se processará Ortega.

Uma destituição da procuradora - chamada de "traidora" por Maduro - desataria outra chuva de críticas contra o governo, após a tormenta da semana passada pela invasão de um grupo chavista no Parlamento.

O MP acusou por suposta violação dos direitos humanos o comandante militar responsável pela segurança do Congresso.

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