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Venezuela sofre perdas milionárias com pior apagão de sua história

Segundo a Ecoanalítica, as perdas geradas pelo apagão já chegam"a 875 milhões de dólares"

Apagão: Venezuela teve queda de energia elétrica em todo o país (Ivan Alvarado/Reuters)

Apagão: Venezuela teve queda de energia elétrica em todo o país (Ivan Alvarado/Reuters)

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AFP

Publicado em 14 de março de 2019 às 07h16.

Os venezuelanos continuavam sofrendo nesta quarta-feira (13) com a falta de água e comida após o pior apagão na história do país, que deixou milhões em prejuízos em uma economia já arruinada.

O ministro da Comunicação, Jorge Rodríguez, assegurou que o serviço foi restabelecido praticamente em toda a Venezuela, inclusive Caracas, ainda que com "pequenas falhas" em regiões onde houve "sabotagens" em subestações depois do corte elétrico.

Por isso, o presidente Nicolás Maduro ordenou o retorno ao trabalho nesta quinta-feira, mas manteve as aulas suspensas por mais 24 horas, destacou Rodríguez.

As áreas que continuam às escuras seis dias depois do apagão se situam no oeste do país.

Embora a eletricidade tenha sido restaurada na maior parte do território, incluindo Caracas, alguns estados no oeste do país tinham grandes áreas sem energia, seis dias após o blecaute em massa.

Nesse contexto, a China, aliada de Maduro, ofereceu ajuda para restabelecer a eletricidade na Venezuela.

"A China espera que a Venezuela possa encontrar rapidamente as causas deste acidente (...) e quer oferecer sua assistência", afirmou o porta-voz da chancelaria chinesa, Lu Kang. A oferta chinesa foi anunciada logo após o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, declarar que pediria ajuda também à Rússia e ao Irã para investigar o que denuncia como um "ataque" a sistema elétrico lançado pelos Estados Unidos.

Segundo a Ecoanálitica, as perdas geradas pelo apagão já chegam"a 875 milhões de dólares". A indústria está paralisada e "para se recuperar o país terá que buscar o apoio de multilaterais e do setor petroleiro", opinou Asdrúbal Oliveros, diretor dessa empresa de consultoria econômica.

"Há uma paralisação importante em muitas áreas críticas do setor petroleiro. Nesse ponto poderíamos perder 700 mil barris diários", acrescentou o executivo.

Com a empresa de petróleo PDVSA - responsável por da 95% arrecadação do país - operando no vermelho e minada pela corrupção, a já reduzida produção de petróleo havia caído de 3,2 milhões de barris em 2008 para um milhão antes do início do apagão.

A situação de emergência, que atingiu Caracas e 22 dos 23 estados deste país de 30 milhões de habitantes, começou na tarde da quinta-feira passada e apenas na terça que Maduro garantiu que a luz estava restabelecida em "quase todo" território.

O presidente venezuelano acusa Washington de realizar "ataques cibernéticos" e "eletromagnéticos" contra a hidroelétrica El Guri, que abastece 80% da população do país.

O líder opositor Juan Guaidó, autoproclamado presidente interino, sustenta que o colapso se deve à "negligência" e "corrupção" que alcançou 1,5 bilhão de dólares até 2016. "O desespero e a escuridão são provocados pela ditadura", disse.

"Sem água, sem luz, sem remédios, sem moeda corrente e transporte. Isto tem sido um pesadelo", declarou à AFP Victoria Milano, de 40 anos, que já tem luz em casa, mas teme voltar a ficar às escuras.

Num país que sofre há anos com a escassez de alimentos, a crise de energia gera perdas de 5,5 milhões de dólares para os produtores de carne e laticínios, de acordo com a Federação Nacional de Pecuaristas (Fedenaga, sigla em espanhol).

Desespero por água

O problema maior agora é a água. Longas filas se formavam em torno de caminhões-pipa cedidos pelo governo e prefeituras para abastecer a população, inclusive em Caracas, onde o funcionamento das bombas de distribuição de água ainda não está normalizado e havia racionamento.

A ministra da Água, Evelyen Vásquez, garantiu que é"complexo" estabelecer em quanto tempo o serviço de distribuição de água voltará ao normal. "Começamos a bobear e vamos avançando progressivamente. Estamos enfrentando uma situação de ataque", garantiu.

Os hospitais têm enfrentado situações dramáticas. "Como é possível que a maternidade não tenha um gerador? Estamos usando lampiões de querosene", se disse Milano sobre as condições do hospital onde trabalha, em Caracas.

Segundo Guaidó, vinte doentes renais morreram por falta de hemodiálise. Já a ONG Codevida denuncia que foram 15 mortos, enquanto as autoridades negam qualquer falecimento.

O país segue em ritmo lento. O governo estendeu até esta quarta a suspensão das aulas e da jornada de trabalho. Muitos estabelecimentos comerciais e os bancos seguem fechados, enquanto o transporte público, já precário, está muito escasso.

"Desde sábado só fizemos uma refeição por dia. À noite, um mingau de aveia e só. Hoje não temos nada", disse Elena Espinoza, de 38 anos, residente em Maracaibo.

Nesta cidade, capital do estado de Zulia (noroeste), foram registrados saques em mais de 500 lojas, estimou a Câmara Nacional de Comércio e Serviços (Consecomercio).

"Das padarias roubaram tudo. De sacos de farinha a até formas para fazer os pães", contou Espinoza.

Um diretor da Consecomercio, Felipe Capazzolo, advertiu que a "destruição de estabelecimentos comerciais diminui a possibilidade de abastecer com alimentos e remédios a população" em um país já castigado pela escassez.

O apagão provocou longas filas nos postos de gasolina, devido ao temor de escassez de combustível. Além disso, há problemas nas telecomunicações.

Velas, rádios e lanternas

O governo criou uma comissão para encontrar os responsáveis e disse ter "provas de que a sabotagem foi ordenada pelo Pentágono e o Comando Sul, e lançado a partir de Houston e Chicago".

Guaidó decretou o estado de "emergência nacional" por 30 dias, para pedir ajuda internacional para superar a crise. A Espanha, um dos principais países a dar apoio à oposição venezuelana, ofereceu ajuda para recuperar um sistema elétrico "muito deteriorado".

"Maduro é o responsável pela tragédia", acusou o Guaidó, que em 23 de janeiro se autoproclamou presidente interino após o Congresso declarar que a reeleição de Maduro para a presidência foi "fraudulenta".

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