Presidente Lula ao lado do presidente venezuelano, Nicolás Maduro (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Agência de notícias
Publicado em 26 de março de 2024 às 18h52.
Última atualização em 26 de março de 2024 às 19h03.
A Venezuela reagiu à nota divulgada mais cedo pelo governo brasileiro nesta terça-feira, na qual afirmou acompanhar com "expectativa e preocupação o desenrolar do processo eleitoral" em Caracas.
Em um comunicado emitido pelo Ministério das Relações Exteriores, o governo venezuelano repudiou o posicionamento do Itamaraty, que descreveu como "cinzento e intervencionista", afirmando que "parece ter sido ditado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos". Apesar da crítica, o texto agradeceu às "expressões de solidariedade" do presidente Lula.
"O governo venezuelano tem mantido uma conduta fiel aos princípios que regem a diplomacia e as relações amistosas com o Brasil, sendo que em nenhuma hipótese, emite, nem emitirá juízos de valor sobre os processos políticos e judiciais que ocorrem naquele país, consequentemente tem a moral para exigir o mais estrito respeito pelo princípio da não ingerência nos assuntos internos e em nossa democracia, uma das mais robustas da região", afirmou a chancelaria venezuelana em português.
O comunicado frisou ainda que as eleições marcadas para o dia 28 de julho, data que coincide com o aniversário do ex-presidente Hugo Chávez, ocorrerão "de maneira exitosa" e "sem a intervenção ou tutela de qualquer força estrangeira". Caracas, porém, encerrou o texto agradecendo "as expressões de solidariedade" do presidente Lula, "que condenam direta e inequivocamente o bloqueio criminoso e as sanções que o governo dos Estados Unidos impôs ilegalmente, com o objetivo de produzir dano" ao povo venezuelano.
Marcando uma mudança de tom, o posicionamento da chancelaria brasileira foi o primeiro a ser realizado sobre o processo eleitoral venezuelano de maneira contundente, ocorrendo horas após o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) impedir a inscrição de Corina Yoris, candidata indicada por María Corina — inabilitada politicamente por 15 anos — para substituí-la no pleito. Na nota, o Itamaraty afirmou que o impedimento de Yoris "não é compatível com os acordos de Barbados".
A chancelaria venezuelana também manifestou-se contrária ao posicionamento do Ministério das Relações Exteriores colombiano, que nesta terça-feira instou "tanto o governo como setores da oposição agrupados na Plataforma Unitária Democrática (PUD) e do movimento Vem Venezuela [partido de Corina]" a respeitarem os acordos de Barbados, reiterando a "necessidade de um processo eleitoral presidencial livre, justo e competitivo".
Também neste caso, o chanceler venezuelano, Yvan Gil, alegou uma "necessidade de agradar aos desígnios do Departamento de Estado dos EUA" por parte de Bogotá e alertou para uma "interferência grosseira" em assuntos domésticos. "Emitir julgamentos falsos, mesmo quando o chanceler Luis Gilberto Murillo dispunha de informações precisas em primeira mão, não é apenas um ato de má-fé, mas também procura minar o processo de normalização das relações diplomáticas, políticas e comerciais, que tem sido promovido pelos nossos presidentes", disse em uma publicação no X (antigo Twitter).
Na segunda-feira, a Plataforma Unitária Democrática denunciou que o CNE impediu a inscrição da candidatura de Corina Yoris, e a oposição ao presidente Nicolás Maduro nas urnas foi preenchida pelo governador do estado petrolífero de Zulia (na fronteira com a Colômbia), Manuel Rosales. A ação fez Corina distanciar-se do pleito — até então principal candidata da oposição, afirmando que "o regime escolheu os seus candidatos".