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Venezuela envia comida aos mais pobres com aumento do caos

Caminhões de alimentos são parte das iniciativas e os militares estão administrando o suprimento de alimento do país

Um dos Comitês Locais de Abastecimento e Produção (CLAPs) distribui alimentos em Catia, região de Caracas, Venezuela (Manaure Quintero/Bloomberg)

Um dos Comitês Locais de Abastecimento e Produção (CLAPs) distribui alimentos em Catia, região de Caracas, Venezuela (Manaure Quintero/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 13 de julho de 2016 às 18h24.

Catia, um amplo complexo de casas provisórias na região oeste de Caracas, foi por muito tempo um bastião e motivo de orgulho do socialismo venezuelano.

Os moradores podem ser da classe trabalhadora, mas suas moradias são subsidiadas, seu atendimento médico é gratuito e sua cor preferida é o vermelho do partido do poder.

As camisetas vermelhas estavam por todas as partes em uma manhã recente em Catia, mas não para mais uma cerimônia de inauguração.

Desta vez, os legalistas estavam descarregando um caminhão do governo repleto de alimentos para antes decididos apoiadores cujas despensas estão dolorosamente vazias.

“Desde que me disseram ontem à noite que o caminhão estava a caminho, mal pude dormir”, disse Andrea Vásquez, operadora de call center de 40 anos, que assistia dezenas de vizinhos se aglomerarem em volta do caminhão. “É um milagre”.

Repleta de reservas de petróleo, a Venezuela está mergulhando no caos.

Enquanto a oposição reúne assinaturas para tirar o presidente do poder, os caminhões de alimentos são parte das mais recentes tentativas de agarrar a fé de um povo desiludido, e os militares agora estão administrando o suprimento de alimento do país.

A fome -- a verdadeira fome -- está despontando em regiões de um país que há quatro décadas era um dos 20 mais ricos do mundo.

Dormir com fome

Uma pesquisa realizada em junho por um oponente do governo em um estado da região central da Venezuela concluiu que um terço dos alunos da sexta série do ensino público comia apenas uma ou duas vezes por dia, e metade afirmou que tinha ido dormir com fome pelo menos uma vez na semana anterior.

No fim de semana passado, a Venezuela abriu sua fronteira com a Colômbia por 12 horas e 35.000 correram para comprar alimentos e remédios no país vizinho.

Dias inteiros são passados atualmente na porta de lojas, esperando em filas para comprar um punhado de itens básicos, e o número de protestos e saques aumenta acentuadamente. Acumular e revender bens escassos se tornou um setor em crescimento. Aqueles que compram e revendem, conhecidos como bachaqueros, agora são uns dos poucos a ter sucesso nesta economia.

Na tentativa de reconquistar o controle, o presidente Nicolás Maduro recorreu a grupos fiéis de bairros, chamados CLAPs (Comitês Locais de Abastecimento e Produção), e deixou-os responsáveis por distribuir até 70 por cento dos alimentos do país.

Os comitês, cujas reuniões são iniciadas com hinos socialistas, são informados de que devem tomar o controle do mercado de alimentos daqueles que revendem ilegalmente.

“Está sendo travada uma guerra econômica”, disse Janette Carillo, 45, membro do CLAP local que ajudou a administrar a entrega de alimentos em Catia. “Nosso trabalho é desarticular o bachaquero”, disse ela.

Em defesa da revolução

Após atacar potências internacionais como Exxon Mobil e PepsiCo, o governo agora colocou na mira os bachaqueros -- pessoas comuns que abandonaram o emprego para fazer filas durante a noite inteira para sobreviver. A noção de que eles são parte de um ataque capitalista à Venezuela é difícil de enquadrar com a realidade. Enquanto isso, líderes da oposição argumentam que os caminhões de alimentos excluem seus seguidores.

“Eles têm uma função e um objetivo”, disse Mariela Magallanes, legisladora da oposição, em relação aos CLAPs, “defender a revolução. E, para eles, quem não for do partido ou estiver contra eles será excluído”.

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