Mundo

Veja como fica a relação entre EUA e Venezuela após saída de Bolton

Saída do ex-secretário de estado John Bolton abre questionamentos sobre a política americana, embora o presidente Trump tenha descartado "amolecer"

Donald Trump e John Bolton: presidente está se esforçando para mostrar que é tão linha dura quanto Bolton no que se refere à Venezuela (Alex Wong / Equipe/Getty Images)

Donald Trump e John Bolton: presidente está se esforçando para mostrar que é tão linha dura quanto Bolton no que se refere à Venezuela (Alex Wong / Equipe/Getty Images)

A

AFP

Publicado em 13 de setembro de 2019 às 07h36.

Última atualização em 13 de setembro de 2019 às 07h38.

A saída do assessor de segurança nacional da Casa Branca, John Bolton, que defendia uma linha-dura com a Venezuela, abre questionamentos sobre a política americana, embora o presidente Donald Trump tenha descartado, nesta quinta-feira (12), uma postura mais conciliadora com relação a Caracas.

Para os mais belicosos, a possibilidade de uma intervenção militar para depor Nicolás Maduro aumentou na quarta-feira, com a invocação pelos Estados Unidos e outra dezena de países do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), um pacto herdado da Guerra Fria que poderia legitimar o uso da força.

A solicitação de ativar o TIAR veio da oposição venezuelana, disse o chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo, em um comunicado retuitado nesta quinta por Trump, no qual enfatizou a "ameaça" que Maduro representa para a região.

Ainda nesta quinta-feira, o Departamento de Estado anunciou a nomeação do vice-secretário interino de Estado para Assuntos do Hemisfério Ocidental no lugar de Kimberly Breier. O embaixador Michael Kozak "continuará promovendo a restauração da democracia para o povo da Venezuela", tuitou a porta-voz Morgan Ortagus.

Em 1988, Kozak foi enviado pelo então presidente Ronald Reagan para concretizar um acordo para que o general Manuel Antonio Noriega abandonasse o poder de fato. Mas Noriega foi derrubado na intervenção militar americana determinada por George H. Bush em 1989.

Os Estados Unidos encabeçam desde janeiro a pressão internacional para tirar Maduro, a quem chamam de "ditador" e culpam pela crise econômica da Venezuela, um país com as maiores reservas comprovadas de petróleo do mundo, que deixou nos últimos anos mais de 4,3 milhões de emigrantes e refugiados, segundo a ONU.

Bolton, que no ano passado cunhou a frase "Troica da tirania", em alusão à Venezuela, Nicarágua e Cuba, impulsionou o endurecimento da política contra Maduro desde que chegou ao Conselho de Segurança Nacional (NSC, na sigla em inglês), da Casa Branca, em abril de 2018.

A ofensiva de Washington inclui uma vasta bateria de sanções econômicas, entre elas um embargo de fato sobre o petróleo venezuelano, crucial para sua economia, e o reconhecimento do líder opositor e chefe parlamentar, Juan Guaidó, como presidente interino, sem descartar a intervenção armada.

"Todas as opções estão sobre a mesa", costumava dizer Trump nos tempos de Bolton, o veterano "falcão" famoso por seu vasto bigode e o caderninho de anotações amarelo.

"Ele estava me refreando!"

Mas Bolton partiu antes de conseguir uma mudança de regime em Caracas, onde Maduro permanece agarrado ao poder, com o apoio da Força Armada, da Rússia e da China.

E sua partida gerou preocupação no sul da Flórida, reduto dos exilados venezuelanos nos Estados Unidos, que apoiam o senador republicano Marco Rubio, descendente de cubanos e artífice da agressiva estratégia de Trump contra Maduro.

"A saída de Bolton poderia indicar uma flexibilização do controle financeiro e político que estava tentando desenhar, com pouco êxito até agora", reportou o Miami Herald em um editorial na quarta-feira.

No mesmo dia, Trump pareceu confirmar estes temores de uma postura mais de "pomba" do que de "falcão".

"Eu não concordava com John Bolton em suas atitudes sobre a Venezuela. Acho que passou dos limites. E acho que demonstrei ter razão", disse no Salão Oval, sem afirmar ao que se referia.

O presidente, que tentará a reeleição em 2020, dissipou as dúvidas nesta quinta, ao afirmar que seus pontos de vista sobre Venezuela e Cuba "eram muito mais fortes" que os de Bolton.

"Ele estava me refreando!", tuitou Trump.

O presidente retuitou Rubio, presidente do subcomitê de Relações Exteriores para o Hemisfério Ocidental, que negou firmemente que se aproxime um tempo de "pombas" na Ala oeste. "Se efetivamente a direção da política mudar, não será para enfraquecê-la".

Para Michael Shifter, presidente do centro de reflexão Diálogo Interamericano, Trump "não quer que ninguém tenha a impressão de que é fraco", mas "é difícil" acreditar que pressionará por uma política mais dura que Bolton.

"Espero que haja um Plano B mais diplomático na Casa Branca para ajudar a restaurar a democracia na Venezuela, mas sou cético", disse à AFP.

"Washington deve renunciar a uma estratégia ideal em favor de uma possível", sentenciou Michael Camillieri, ex-diretor de Assuntos Andinos no NSC, na revista Foreign Affairs.

Acompanhe tudo sobre:Donald TrumpEstados Unidos (EUA)Venezuela

Mais de Mundo

O que é o Projeto Manhattan, citado por Trump ao anunciar Musk

Donald Trump anuncia Elon Musk para chefiar novo Departamento de Eficiência

Trump nomeia apresentador da Fox News como secretário de defesa

Milei conversa com Trump pela 1ª vez após eleição nos EUA