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Veja as histórias de crianças refugiadas que viajam sozinhas

A fuga é cheia de riscos, tanto para a saúde física como para o bem estar psicológico das crianças


	Refugiado sírio: alguns dos jovens refugiados perderam suas famílias na guerra ou no caminho até a Europa
 (REUTERS/Yannis Behrakis)

Refugiado sírio: alguns dos jovens refugiados perderam suas famílias na guerra ou no caminho até a Europa (REUTERS/Yannis Behrakis)

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Da Redação

Publicado em 7 de dezembro de 2015 às 20h55.

Em meio ao mar de imigrantes e refugiados de países em guerra no Oriente que chegaram à Grécia este ano, há milhares de menores desacompanhados. Essas crianças viajaram sozinhas.

Alguns dos jovens refugiados perderam suas famílias na guerra ou no caminho até a Europa. Outros partiram por conta própria.

Famílias que não podem pagar para levar todos os seus integrantes às vezes mandam só uma criança – em geral a mais velha, ou um filho – na duríssima viagem.

A fuga é cheia de riscos, tanto para a saúde física como para o bem estar psicológico das crianças. Elas têm de atravessar o Mediterrâneo e lidar com traficantes que não se importam com sua vulnerabilidade.

Embora algumas tenham parentes à espera na Europa, outras vão em busca de trabalho, para mandar dinheiro para casa.

Quando os menores desacompanhados chegam à Grécia, eles têm o direito de ir para centros de recepção, embora não sejam obrigados a ficar lá.

Eles também podem pedir para ser levados a familiares que já estejam na Europa. Mas, como o processo de reunificação leva vários meses, muitas crianças preferem continuar procurando os parentes sozinhas.

Desde 2011, a METAction trabalha com as autoridades gregas para levar as crianças aos centros de recepção adequados. A organização não-governamental já ajudou a realocar milhares de crianças. Só este ano foram 735.

“Durante 20 anos, menores desacompanhados ficavam em centros de detenção durante meses a fio. A METAction tomou uma decisão arriscada e, desde 2011, já auxiliou 2.672”, disse ao HuffPost Grécia Lora Pappa, presidente da METAction.

Ela afirma que, nos centros de detenção, as crianças correm o risco de cair nas mãos de redes de tráfico de menores.

A ajuda oferecida pela população do país é comovente, diz Pappa. “As pessoas queriam ajudar. E ajudaram.”

A METAction também faz serviço de tradução e trabalha com a agência de refugiados da ONU para ajudar refugiados e imigrantes no contato com as autoridades e no esclarecimento de seus direitos.

Pappa diz que quatro meses atrás a METAction tinha cerca de cem intérpretes. Com o agravamento da crise, esse número chegou a 180.

No mês passado, o HuffPost Grécia esteve presente em uma viagem da METAction que realocou 11 crianças que chegaram à Grécia via Turquia. Elas foram levadas da ilha de Lesbos para um centro de acomodação na cidade portuária de Piraeus.

A viagem

As crianças pareciam felizes no caminho do porto de Lesbos. Elas estavam prestes a embarcar num navio que transporta refugiados e imigrantes das ilhas gregas para outras partes do país.

No navio, que levava centenas de recém-chegados à Grécia, elas estavam tão ocupadas jogando cartas e pintando que, quando a comida chegou, algumas não queriam parar de brincar.

Com a ajuda dos intérpretes, Christina, a líder da equipe da METAction, explicava para as crianças aonde elas estavam indo. Ela tentava conversar com elas e saber mais de suas vidas e famílias.

Eram oito meninos e três meninas. Ahmed tinha conhecido Omar, Anas, Mohammed e Hussein no centro de recepção de Lesbos. Os cinco, iraquianos e sírios, tinham ficado amigos. Omar é o mais velho.

Embora ele tenha declarado uma idade de 17 anos para as autoridades gregas, depois ele admitiu que na verdade tinha 19.

Anas, o mais novo, tem 14, mas parece muito mais novo. Rahel, Bilen e Ayana vieram da Eritréia. Amir, Ehsan e Ali, do Afeganistão. (Os nomes das crianças foram alterados nessa reportagem.)

Anas

Anas é educado e doce. Ele tem cabelo e olhos castanhos.

Cresceu na Síria, mas morava no Iraque com sua família havia três anos. Anas tem epilepsia e disse que fez a viagem até a Europa porque não tinha como ser tratado adequadamente no Iraque.

Omar protege Anas. “Ele vai achar o remédio no lugar para onde estamos indo?”, perguntou Omar à equipe. “Não se preocupe, vai ter remédio”, disse Christina.

A tia de Anas, que vive no norte da Europa, mandou o dinheiro para a viagem. Ele viajou com vizinhos, mas o grupo se separou na Grécia, e Anas ficou sozinho até conhecer seus novos amigos.

Christina disse que Anas deveria entrar em contato com sua tia ao chegar a Atenas. Ele prometeu que não fugiria para tentar encontrar a tia sozinho, especialmente depois de os ataques de Paris terem dificultado o trânsito de refugiados no continente.

A essa altura, algumas das crianças estavam dormindo. As meninas estavam pintando. Alguns dos meninos jogavam um jogo de baralho sírio, com a intérprete e Christina. Mas Omar não estava participando.

“Está tudo bem?”, perguntou Christina. Ele respondeu com o pouco inglês que sabe: “Estou pensando na minha mãe. Estou enlouquecendo”.

Em sua curta vida, Omar enfrentou muitas dificuldades. Ele cresceu em Aleppo, na Síria, onde a família inteira morava no mesmo bairro. Agora, eles estão espalhados em cinco continentes.

Alguns tios ficaram na Síria, outros na Europa, outros pelo caminho. Seus pais estão na Turquia há três anos, impedidos de sair do país. É um casal jovem – ele tem 42, a mãe, apenas 35. Omar tem outros dois irmãos menores.

Ele diz que foi detido pelo governo antes de a família fugir da Síria. Omar não explica por que, mas diz que foi torturado durante seis dias.

Quando conseguiu fugir, seus pais arrumaram um passaporte falso, no qual ele tinha dois anos a menos, para que ele não fosse obrigado a entrar para o Exército.

Sua namorada ficou para trás. Há um ano atrás, ele soube que ela morreu num bombardeio. “Fazer o que? A guerra é assim.”

Apesar de tudo, Omar sonha com o futuro. Ele quer chegar à Europa do norte para encontrar seus tios. Seu desejo é voltar para a escola e estudar para ser engenheiro.

Hussein

Hussein, 16, diz que quer ser tradutor e intérprete quando crescer.

Seus pais ficaram na Síria. Todos os outros parentes fugiram para o norte da Europa.

Hussein pagou US$ 800 (R$ 3010) para chegar à Grécia. O preço não é fixo: varia de acordo com vários fatores. Se o tempo estiver ruim, por exemplo, o valor cai pela metade.

“Parece que seu pai casou com outra mulher. Ela nunca vai ser sua mãe”, diz Hussein sobre a vida em outro país.
Mohammed

Mohammed tem um roxo embaixo do olho esquerdo. Ele não diz o que aconteceu.

O menino não para de contar piadas. Ele fala tão rápido que a intérprete não dá conta de acompanhá-lo. E ele não tira o sorriso do rosto.

Até começar a falar da Síria.

“Todo mundo está contra todo mundo. À noite, na rua, se passa um carro você se esconde. Se você vir alguém do Estado Islâmico e estiver de camiseta de manga curta, está em apuros. Um dos meus primos trabalhava numa granja. Jogaram uma bomba e ele morreu. Não dá para viver lá”, disse Hussein.

Mohammed interrompeu: “Se as coisas fossem como antes, ninguém fugiria. Estava tudo bem cinco anos atrás”.

Os pais de Mohammed não sabem que ele está na Grécia; eles achavam que ele ficaria na Turquia. Mas Mohammed quer ir para o norte da Europa.

“Ainda tenho 100 euros (R$ 410). É suficiente para chegar lá”, pergunta o garoto. “Me disseram que custa 120 euros (R$ 491).” Ele pagou 1.200 (R$ 4.518) dólares para chegar à Grécia.

Rahel e Bilen

As primas Rahel, 16, e Bilen, 17, fugiram juntas da Eritreia. Elas não falam muito durante a viagem, mas Bilen é muito observadora.

Amir, Ehsan e Ali

De madrugada, as crianças finalmente dormem, com exceção de Amir, 14. Diferentemente dos outros, ele não tem parentes no norte da Europa nem para onde ir.

Ele só quer arrumar um emprego para mandar dinheiro para casa, no Afeganistão. É difícil imaginar quem empregaria um menino de 14 anos, ou que tipo de trabalho ele possa fazer.

Os outros meninos de 14 anos, Ehsan e Ali, eram viznhos no Afeganistão. Eles fugiram juntos.

A chegada

O navio chega a Piraeus de manhã. Os três meninos do Afeganistão acompanham um dos integrantes da equipe e um intérprete para um dos centros de recepção.

Seguimos com os outros para um velho hotel transformado em abrigo de crianças desacompanhadas. As crianças tomam café da manhã e recebem explicações sobre o funcionamento e as regras do lugar.

Ouvem mais uma vez que é melhor ficar lá até entrarem em contato com familiares e passarem pelo processo de reunificação com parentes.

Na hora de ir embora, as crianças dizem adeus. Algumas estão meio tristes.

“A parte difícil é que, por causa das regras, não podemos trocar informações de contato com as crianças”, diz Anna, da METAction. “Não sabemos o que vai acontecer com elas. Queremos acreditar que vai ficar tudo bem.”

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