Ruanda: "É a maior descoberta em anos na região", disse um porta-voz do governo (./Getty Images)
EFE
Publicado em 26 de abril de 2018 às 14h58.
Kigali - Nove valas comuns foram descobertas nas duas últimas semanas nos arredores da capital de Ruanda, Kigali, onde foram encontrados cerca de 3 mil corpos de vítimas do genocídio contra os tutsis em 1994, segundo pôde constatar a Agência Efe.
Desde a última sexta-feira, voluntários e a associação de sobreviventes Ibuka recuperaram 207 corpos de adultos na cidade de Kabeza, no distrito de Gasabo, mas esperam que o número supere os 3 mil.
"Temos certeza que o número (de corpos) ronda os 3 mil porque as provas que recolhemos revelam que este lugar acolheu a maior reserva militar das milícias hutus e centenas de tutsis eram trazidos de diferentes lugares para serem assassinados", disse à Efe um porta-voz dos sobreviventes de Ibuka.
"É a maior descoberta em anos na região", explicou Rwigamba.
Além de adultos, Rwigamba adiantou que foram encontradas muitas roupas de crianças, por isso esperam descobrir também corpos de menores enterrados de forma anônima.
As valas comuns foram descobertas porque um acusado de genocídio, que era então proprietário da casa onde os corpos se encontram, mostrou sua localização.
Este acusado, conhecido como Saveri, afirmou em um princípio que quatro valas estavam embaixo de fossas e depósitos de lixo, mas, durante a investigação, foram encontradas outras três.
Em 11 de abril, também foram iniciadas escavações na estrada principal de Kabeza, onde foram recuperados 156 corpos, mas ainda falta exumar outra vala comum nesse mesmo local.
Kigali e bairros dos arredores foram alguns dos cenários mais sangrentos do genocídio, pois eram uma das últimas fortificações das milícias hutus antes que as forças da Frente Patriótica Ruandesa (RPA, sigla em inglês) entrassem para libertar essas áreas.
O massacre de 1994 supôs o extermínio de entre 20% e 40% da população de Ruanda, que na época era o país mais densamente povoado da África, com 7 milhões de pessoas.
Cerca de 70% das vítimas mortais eram da etnia tutsi, assassinadas por extremistas hutus após a morte do presidente ruandês, Juvenal Habyarimana, quando o avião no qual ele viajava foi derrubado em 6 de abril de 1994, pouco antes de aterrissar no aeroporto de Kigali.
O assassinato de Habyarimana, da etnia hutu, majoritária em Ruanda, que morreu junto com o presidente do Burundi, Cyprien Ntaryamira, que o acompanhava, foi o estopim do massacre coletivo iniciado por hutus radicais, que ainda hoje continua sendo um mistério.