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Universitário vira símbolo da nova geração em protestos na Rússia

O universitário Yegor Zhukov, popular blogueiro e promissor político, foi preso por organizar grandes protestos contra o governo em Moscou

Manifestante segura cartaz com o rosto de Yegor Zhukov: a chamada primeira geração livre da história da Rússia (Maxim Shemetov/Reuters)

Manifestante segura cartaz com o rosto de Yegor Zhukov: a chamada primeira geração livre da história da Rússia (Maxim Shemetov/Reuters)

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EFE

Publicado em 10 de agosto de 2019 às 10h56.

Última atualização em 10 de agosto de 2019 às 10h57.

A chamada primeira geração livre da história da Rússia tem um rosto para representá-la: Yegor Zhukov, universitário, popular blogueiro e promissor político que foi preso por organizar grandes protestos contra o governo em Moscou.

"O regime de (Vladimir) Putin só tem dois aliados: o cassetete e a prisão", disse Zhukov, de 21 anos, em um dos seus últimos vídeos no YouTube, onde tem mais de 100 mil seguidores.

Por frases como essa, pelas críticas ao presidente do país e pelo apoio aos candidatos da oposição nas eleições municipais de setembro, Zhukov chamou a atenção das autoridades locais e ganhou a antipatia do Serviço Federal de Segurança (FSB), a antiga KGB.

O estudante foi preso no último dia 2 de agosto e permanecerá na cadeia até o fim de setembro. A Justiça ainda analisará se Zhukov será condenado a até oito anos de prisão por participar ativamente dos protestos não autorizados do último dia 27 de julho.

"Entenda que você é um jovem de 20 anos em um regime de 20 anos de história e não pode mais aguentá-lo, já que, por dentro, você é um homem livre, e os homens livres são os maiores inimigos da máquina autoritária. Então, você toma uma decisão: agir", declarou o estudante em um dos vídeos.

Segundo os advogados do universitário, o "crime" que Zhukov teria cometido é o de fazer gestos com as mãos em meio à multidão durante o protesto nos arredores da Câmara Municipal de Moscou. Cerca de 1,3 mil pessoas foram presas nas manifestações.

No último post que fez em seu blog, Zhukov já sugeria que poderia ser preso a qualquer momento e acusava abertamente o FSB de impedir que candidatos da oposição disputem as eleições municipais de setembro em igualdade de condição com os governistas.

"É um caso político. Ele não fez nada criminoso, nem na rua, nem no seu blog. Ele sempre se opôs aos protestos violentos e tentou popularizar a ideia das manifestações pacíficas. O FSB não teme as ações violentas, sim as pacíficas, que são muito mais difíceis de se combater", disse em entrevista à Agência Efe o chefe de campanha de Zhukov, Yevgueni Ovcharov.

Tudo começou no início deste ano. Estudante do quarto período do curso de Ciências Políticas da Escola Superior de Economia, esse moscovita decidiu apresentar candidatura a vereador na Câmara Municipal de Moscou.

"As eleições de setembro são a última oportunidade de iniciar uma mudança pacífica em Moscou e na Rússia", disse Zhukov.

O universitário obteve as 5 mil assinaturas necessárias para se candidato, como exige a legislação, mas acabou desistindo da disputa por falta de dinheiro, passando a apoiar outros integrantes da oposição ao governo de Vladimir Putin.

"Quando a comissão eleitoral se negou a registrar os opositores, Zhukov levou como algo pessoal, como um insulto. Por isso ele apoiou os protestos contra o governo e, quando a repressão policial começou, decidiu não se render ao FSB", explicou Ovcharov.

"Nossas armas são as boas intenções. As autoridades pensaram que Yegor, embora não popular, não é Alexei Navalny, por isso pensaram que seria fácil encerrá-lo, mas se equivocaram. Ele é a voz de toda uma geração", analisou o chefe de campanha.

A prisão de Zhukov provocou uma nova onda de indignação na comunidade estudantil. Mais de mil pessoas assinaram uma carta na qual acusam o governo de prender o universitário por "pensar livremente".

A vice-reitora da Escola Superior de Economia, Valeria Kasamara, também defendeu que seja garantido ao estudante o direito de presunção de inocência. Ela descreve Zhukov como um "blogueiro opositor muito valente".

"Não houve confronto. Foi uma ação pacífica. Zhukov não atacou a polícia. Não é um criminoso nem um perigo para a sociedade. Deveria ser libertado", afirmou Kasamara.

A professora disse estar orgulhosa do apoio moral que o estudante recebeu de seus colegas de universidade. Para ela, eles não decidiram apoiá-lo por compartilharem de suas ideias, mas sim porque perceberam que uma injustiça está sendo cometida.

Kasamara, no entanto, criticou a oposição pelo uso dos jovens em manifestações ilegais. Para ela, a polícia também está errada em prender pessoas sem justificativa.

Zhukov, que já recebeu propostas para trabalhar em veículos de imprensa críticos ao governo, como o jornal "Novaya Gazeta", não é o único jovem preso pela participação nos protestos.

"Os jovens de agora são muito patriotas. Não querem ir embora, deixar o país. O que ocorre é que eles não veem futuro na Rússia de Putin", disse o líder do Partido Libertário, Sergei Boiko, que compartilha das ideias de Zhukov.

Assim que foi preso, Zhukov fez um único pedido. Queria que alguém levasse até ele o livro "Arquipélago Gulag", o famoso romance de Aleksandr Solzhenitsyn sobre a repressão praticada pelo governo da então União Soviética. EFE

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