Redator na Exame
Publicado em 22 de janeiro de 2025 às 13h06.
Última atualização em 22 de janeiro de 2025 às 13h38.
Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE), fez um alerta incisivo nesta segunda-feira, 22, destacando a necessidade de a Europa se preparar para as tarifas que o recém-empossado presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaça impor sobre produtos europeus.
“O que precisamos fazer aqui na Europa é estar preparados e antecipar o que acontecerá para responder”, afirmou Lagarde à CNBC.
Em sua posse, Trump declarou que a União Europeia tem sido “muito ruim” com os Estados Unidos, prometendo implementar tarifas como parte de sua política protecionista. Até o momento, nenhuma tarifa foi aplicada, decisão que Lagarde classificou como "sábia". Segundo ela, medidas generalizadas podem ser ineficazes, sendo necessário que Trump aplique tarifas de forma mais seletiva e estratégica, caso sejam implementadas.
Desde o início das ameaças tarifárias de Trump, especialistas têm alertado para os possíveis efeitos adversos dessa política, tanto para os países afetados quanto para a própria economia americana.
Entre os riscos apontados estão a escassez de produtos no mercado interno dos EUA e uma pressão inflacionária, consequências que contradizem o objetivo declarado por Trump de impulsionar a economia e proteger os negócios americanos.
Lagarde destacou que os Estados Unidos enfrentam desafios estruturais que podem dificultar o sucesso da estratégia tarifária. Com a economia aquecida, a taxa de desemprego historicamente baixa e a capacidade industrial quase no limite, reduzir importações para aumentar a produção interna não é algo que terá efeitos rápidos ou eficientes.
“Se você olhar para o mercado de trabalho [dos EUA], verá uma taxa de desemprego muito baixa. A capacidade industrial já está próxima do máximo. Essa ideia de fabricar localmente o que hoje é importado a preços muito mais altos levará tempo para dar resultados", afirmou Lagarde.
Além disso, o aumento no custo dos produtos importados deve ser repassado pelas empresas ao consumidor final, o que resultará em inflação.
Valdis Dombrovskis, comissário da União Europeia para a economia, reforçou o compromisso do bloco em defender seus interesses econômicos, assegurando que qualquer medida tarifária dos EUA será respondida de forma proporcional.
Lagarde sugeriu que a UE pode aproveitar o momento para reforçar o comércio interno, eliminando barreiras comerciais entre os países do bloco, como tarifas e regulamentações desnecessárias. Essa abordagem fortaleceria a resiliência econômica da região sem adotar o mesmo protecionismo promovido pelos EUA.
“A ideia não é criar um ambiente protecionista como nos Estados Unidos, mas sim fortalecer o comércio interno europeu. Ser forte em casa significa vender, comprar, economizar e investir dentro do bloco, garantindo estabilidade econômica e competitividade global”, concluiu Lagarde.