Mundo

União de vida na Croácia dá esperança a gays dos Bálcãs

Nova lei concede igualdade de direitos aos casais gays em relação aos casamentos tradicionais, na historicamente homofóbica região balcânica


	Gays: nova lei beneficia gays, mas não faz com que preconceitos desapareçam
 (GettyImages)

Gays: nova lei beneficia gays, mas não faz com que preconceitos desapareçam (GettyImages)

DR

Da Redação

Publicado em 3 de outubro de 2014 às 09h15.

Zagreb - Namoradas há mais de 12 anos, Lucija e Inés planejam oficializar o mais rápido possível a chamada "união de vida" para casais homossexuais, que transformou a Croácia em uma esperança liberalizadora na historicamente homofóbica região balcânica.

Vigente desde setembro, a nova lei concede igualdade de direitos aos casais gays em relação aos casamentos tradicionais, com exceção dos direitos de adquirir o nome do cônjuge e de adotar crianças.

"As coisas mudaram para melhor, no entanto é mais fácil e rápido alterar as leis e muito mais difícil transformar uma cultura homofóbica, sexista e patriarcal", lamenta Marko Jurcic, da "Zagreb Pride", associação LGTB (lésbicas, gays, transexuais e bissexuais) que participou da redação da lei.

A lei devolve esperança a Lucija e Inés, que, em dezembro do ano passado, viram a possibilidade de oficializar sua situação praticamente descartada quando, após plebiscito, foi incluido na Constituição croata o esclarecimento que qualquer casamento seria exclusivamente entre homem e mulher.

Jurcic destaca que o mero debate público suscitado por esse referendo, contrariamente ao desejo de seus organizadores, teve consequências positivas para a população homossexual.

"Aconteceram enormes melhoras em relação ao clima geral. Talvez graças, justamente, ao referendo, que incitou muitos a se posicionarem contra a homofobia", disse o ativista à Agência Efe.

A incorporação da Croácia à União Europeia (UE) em julho de 2013 e a mudança de nome do enlace ("união de vida" no lugar de casamento) possibilitou, finalmente, a lei.

"Entre os Estados da UE, a Croácia é o país com a maior taxa de crimes de ódio cometidos contra a comunidade LGBT", frisa Jurcic.

A nova lei beneficia muitos casais homossexuais, no entanto não faz com que desapareçam os preconceitos na Croácia.

"Apesar das duas limitações (o nome e a adoção), estou muito contente. É um grande passo, e acredito que no futuro haverá ainda mais melhoras", afirmou Lucija arquiteta de 36 anos, à Efe.

A Croácia é, por enquanto, o único país dos sete surgidos da antiga Iugoslávia a oferecer uma união para casais homossexuais - a vizinha Eslovênia permanece à espera de uma lei semelhante.

O escritório para estados civis de Zagreb recebe muitas consultas dos outros países balcânicos, como Sérvia, Bósnia e Macedônia, abrindo assim uma porta para a sufocante realidade dos homossexuais nesses países vizinhos.

Aproveitando a nova situação na Croácia, a sérvia Marija Savic planeja se casar com a namorada croata Di Sarzinski em outubro.

A nova lei permite que estrangeiros oficializem a união civil no país, assim como um casamento tradicional.

Mas o "certificado de união de vida" croata não tem valor nos países que não reconhecem esse tipo de união, como na Sérvia ou na Bósnia, lugar onde Marija e Di vivem.

Por este motivo, Marija se coloca em uma situação paradoxal, pois após o casamento passará a ter duas identidades distintas. Na Croácia, ela será Marija Sarzinski, casada, e na Sérvia e Bósnia, continuará sendo Marija Savic, solteira, disse a própria ao jornal croata "Jutarnji list".

Mais fácil será para Lucija e Inés, ambas de nacionalidade croata. Inés está grávida, de modo que a "união de vida" proporciona várias vantagens práticas. Por exemplo, possibilita as visitas ao hospital, que costumam ser restritas para familiares.

"Quero estar ao seu lado quando der à luz. Esta lei faz a diferença. Além disso, poderei tomar decisões como cônjuge e não precisarei chamar seus pais para fazê-las", explicou Lucija.

Ela afirma que a respeito da criança, a nova lei também lhe outorga direitos até então inalcançáveis.

Dessa forma, Lucija e Inés confiam que seu filho possa crescer em uma Croácia sem complexos e esperam que o clima de tolerância se estenda também pelo resto dos Bálcãs.

Acompanhe tudo sobre:CasamentoCroáciaEuropaGaysLGBTPreconceitos

Mais de Mundo

Manifestação reúne milhares em Valencia contra gestão de inundações

Biden receberá Trump na Casa Branca para iniciar transição histórica

Incêndio devastador ameaça mais de 11 mil construções na Califórnia

Justiça dos EUA acusa Irã de conspirar assassinato de Trump; Teerã rebate: 'totalmente infundado'