Explosão deixou mais de 170 mortos e 6 mil feridos em Beirute (STR/NurPhoto via/Getty Images)
Isabela Rovaroto
Publicado em 12 de agosto de 2020 às 07h53.
Última atualização em 12 de agosto de 2020 às 16h04.
As renúncias do primeiro-ministro, Hassan Diab, e de membros do seu gabinete, na segunda-feira, não foram suficientes para impedir que libaneses voltassem a ocupar ontem as ruas de Beirute para exigir a saída do que consideram uma classe dominante corrupta e reformas urgentes no governo.
Uma semana após a explosão que deixou mais de 170 mortos e 6 mil feridos, a população se voltou contra o governo, acusado de negligência. Um protesto com o slogan "Enterre as autoridades primeiro" foi planejado perto do porto, onde o nitrato de amônio armazenado por seis anos em um galpão explodiu no dia 4. Os libaneses exigem que os responsáveis sejam levados à Justiça e responsabilizados pela tragédia.
Uma imagem circula desde ontem nas redes sociais informando que a crise "não termina com a renúncia do governo". Ainda há (o presidente Michel) Aoun, (o presidente do Parlamento Nabih) Berri e todo o sistema", diz a mensagem. "A república está desmoronando", foi a manchete de ontem do jornal L’Orient-Le Jour.
Muitas pessoas no Líbano e nas redes sociais acreditam que a renúncia de Diab não basta. "Foi bom que o governo tenha renunciado, mas precisamos de sangue novo ou não funcionará", disse Avedis Anserlian, diante de sua loja destruída.
"Não acho que (a renúncia) fará diferença. Todos os ministros no Líbano são apenas uma cara. Por trás disso estão as milícias que controlam tudo", afirmou Rony Lattouf, comerciante, à rede de TV Al-Jazira. "São essas milícias que decidem as coisas no Líbano.
As pessoas têm de fazer um movimento poderoso para removê-las."
Nomeado no final de janeiro, o governo de Diab era dominado por um único campo político, o do movimento xiita Hezbollah e seus aliados. Mesmo antes da explosão, uma crise econômica no Líbano havia elevado os preços de produtos básicos e deixou muitos enfrentando a perspectiva de fome.
Agora, não está claro quem ficará responsável pela direção do país e pelo longa reconstrução da capital libanesa, uma vez que os prejuízos foram estimados em até US$ 15 bilhões, um processo que pode levar anos para ser concluído.
Desde o outono de 2019, o país tem sido palco de uma revolta popular sem precedentes, na qual milhares de libaneses saem às ruas para denunciar as dificuldades econômicas. que só se agravam. e uma classe política sem mudanças há décadas, acusada de corrupção e incompetência.
Diab era criticado por sua incapacidade de responder à crise econômica, a desvalorização histórica da libra libanesa, a escassez de combustível e a hiperinflação.
Lina Khatib, chefe do Programa para o Oriente Médio e Norte da África do instituto de política internacional britânico Chatham House, disse que a pressão dos manifestantes pode acelerar a formação de um novo governo, mas não significa necessariamente que a mudança virá.
"A questão-chave é se o novo gabinete será meramente uma (nova) versão do antigo", disse. Embora seja provável que o próximo governo inclua assentos no gabinete para aqueles de fora da classe dominante, há poucas chances de que eles tenham poder suficiente para realizar uma mudança real. "O status quo não está disposto a renunciar totalmente ao poder."
Alternativa
Os libaneses pressionam por reformas o mais rápido possível, mas o país está acostumado a debates intermináveis entre forças políticas antes da nomeação de um governo. Citando fontes políticas, o jornal Al-Akhbar, próximo ao Hezbollah, assegura que os governos de EUA, Arábia Saudita e França estão pressionando pela nomeação do ex-embaixador Nawaf Salam como chefe de um "governo neutro". O diplomata, que tem grande experiência e representou o Líbano na ONU, foi juiz da Corte Internacional de Justiça (CIJ).
(Com agências internacionais)