Mundo

Uma criança apátrida nasce a cada 10 minutos, diz ONU

Sem vinculação a um Estado, a criança é condenada a sobreviver sem acesso aos direitos básicos


	Refugiados sírios curdos: a maioria dos apátridas vivem nessa condição por estarem em países onde são discriminados
 (Bulent Kilic/AFP)

Refugiados sírios curdos: a maioria dos apátridas vivem nessa condição por estarem em países onde são discriminados (Bulent Kilic/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 4 de novembro de 2014 às 05h46.

Genebra - A cada dez minutos uma criança nasce no mundo sem nacionalidade, sem vinculação a um Estado, o que lhe transformará em apátrida e lhe condenará a sobreviver sem acesso aos direitos básicos.

Diante dessa realidade, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) decidiu lançar uma campanha mundial, nesta terça-feira, para acabar, nos próximos dez anos, com uma situação que afeta 10 milhões de pessoas no mundo.

"Não é uma situação que pode ser aceita em pleno século XXI", afirmou o alto comissário para os Refugiados, António Guterres, em entrevista coletiva.

Guterres apresentou a campanha "Eu pertenço", cujo primeiro passo foi redigir e assinar uma carta aberta em que são descritas as consequências de ser um apátrida e os passos que devem ser dados para se acabar com essa situação.

"Ser um apátrida significa que você e seus filhos não terão uma identidade legal, não terão passaporte, não poderão votar, e terão pouca ou nenhuma oportunidade de receber uma educação", disse Angelina Jolie, a atriz americana e enviada especial do Acnur, que foi citada no comunicado.

"Acabar com a situação dos apátridas beneficiaria os países onde essas pessoas vivem porque poderiam se beneficiar de seu talento e de sua energia. Para os governos é tanto uma oportunidade como uma obrigação acabar com essa exclusão", acrescentou Angelina Jolie.

A maioria dos apátridas vivem nessa condição por estarem em países onde são discriminados por sua etnia, religião ou gênero.

Os principais países em número de apátridas são Mianmar (minoria rowinga); Costa do Marfim (minoria voltense); Letônia e Estônia (minoria russa); e República Dominicana (haitianos).

Além disso, muitos apátridas surgem quando nascem sob a condição de deslocados internos ou refugiados, algo que ocorre atualmente nos conflitos da Síria e da República Centro-Africana.

Centenas de milhares de crianças nasceram nos últimos anos nos países vizinhos dessas nações, mas muitos de seus pais não contam com a documentação que comprova sua nacionalidade, por isso não são reconhecidos, mesmo com a Acnur fazendo o possível para promover os registros de nascimento.

"Cerca de 70% das crianças sírias nascidas no exílio não contam com registro de nascimento", lamentou Guterres.

Além disso, existem 27 países no mundo que negam a uma mulher o direito de passar sua nacionalidade para seus filhos.

"Então se o pai é desconhecido, ou está morto, a criança fica sem nacionalidade", explicou Guterres.

Alguns desses países são Arábia Saudita, Bahrein, Barbados, Bahamas, Burundi, Iraque, Jordânia, Líbano, Malásia, Nepal e Omã, entre outros.

Guterres também destacou que esse tipo de discriminação está em claro retrocesso e que, nos 10 últimos anos, vários países revogaram suas leis discriminatórias em respeito às mulheres, entre eles Argélia, Bangladesh, Egito, Indonésia, Quênia, Marrocos, Senegal, Suriname, Tunísia, Iêmen e Zimbábue.

De fato, a situação em geral melhorou consideravelmente nos últimos três anos, com 44 novos países assinando a Convenção das Nações Unidas sobre o Status das Pessoas Apátridas, de 1954, e a Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas.

Até agora, assinaram a carta várias personalidades de destaque como o alto comissário para os Direitos Humanos, Zeid Ra"ad al-Hussein; uma de suas antecessoras, Louise Arbour; o diretor-executivo do Unicef, Anthony Lake; a ex-promotora do Tribunal Penal Internacional, Carla del Ponte; e o ex-presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, entre outros. EFE

Acompanhe tudo sobre:Direitos civisImigraçãoONU

Mais de Mundo

Onda de calor impacta serviços em toda a Europa e deve continuar até quinta-feira

'One Big Beautiful Bill': o que é o projeto de Trump que avança no Senado dos EUA

Canadá elimina imposto sobre empresas de tecnologia dos EUA, visando acordo comercial com Trump

Irã tem 'sérias dúvidas' de que Israel vá respeitar o cessar-fogo