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Um em cada três latinos paga suborno por serviços públicos

A pesquisa, que expõe o quadro de corrupção na região, mostra especial desconfiança dos cidadãos em relação à polícia e aos políticos

Suborno: quase dois terços dos entrevistados afirmou que a corrupção aumentou (Ueslei Marcelino/Reuters)

Suborno: quase dois terços dos entrevistados afirmou que a corrupção aumentou (Ueslei Marcelino/Reuters)

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AFP

Publicado em 9 de outubro de 2017 às 11h55.

Quase um terço dos latino-americanos pagou suborno no último ano para ter acesso a serviços públicos como Saúde e Justiça, uma prática que não faz distinção de gênero, nem de classe social - revela uma pesquisa da ONG Transparência Internacional divulgada nesta segunda-feira (9).

Feita com mais de 22 mil pessoas de 20 países da América Latina e do Caribe, a enquete expõe um quadro de galopante corrupção na região, com especial desconfiança dos cidadãos em relação à sua Polícia e aos políticos.

O sistema termina arrastando parte da população. Pelo menos 29% dos cidadãos que usaram seis serviços públicos (Educação, Saúde, tirar documento de identidade, Polícia, Serviços básicos e Justiça) pagaram algum suborno nos 12 meses anteriores, relata a TI.

A organização calcula esse universo em cerca de 90 milhões de pessoas, sem diferenças significativas entre gênero, idade e classe social. O pagamento de suborno pode ser, porém, uma carga desproporcionalmente maior para os mais pobres, acrescenta a ONG.

"O suborno representa um modo de enriquecimento para uns poucos e um grande obstáculo para se ter acesso a serviços públicos fundamentais, em especial para os setores mais vulneráveis da sociedade", disse o presidente da Transparência Internacional, José Ugaz, citado em um comunicado.

O relatório destacou que, apesar das recentes manifestações anticorrupção no Brasil, na Guatemala e na Venezuela, quase dois terços (62%) dos entrevistados afirmaram que a corrupção aumentou.

Os mais corruptos? Policiais e políticos, segundo 47% dos consultados. No caso da Polícia, chega a 73% na Venezuela, e a 69%, no dos políticos no Paraguai.

Mais da metade dos entrevistados reprova a resposta dos governos, especialmente venezuelanos e peruanos, com 76% e 73%, respectivamente.

"Latino-americanos e caribenhos estão sendo espoliados por seus governos, sua classe política e pelos líderes do setor privado", disse Ugaz, destacando que o escândalo da "Lava Jato" no Brasil "demonstra que a corrupção está amplamente disseminada" na região.

Em meio a isso, uma grande maioria (70%) acredita em que os cidadãos possam ter um papel positivo na luta contra a corrupção, especialmente no Brasil (83%).

Ainda assim, menos de um em cada dez denunciam as irregularidades.

"Não surpreende", já que "a ameaça de uma represália violenta constitui um risco real", disse a TI.

De fato, 28% relataram terem sido punidos após fazerem uma denúncia por suborno.

"O suborno é uma experiência muito comum" na região, segundo a ONG, e varia substancialmente de país para país.

Enquanto 51% no México e 46% na República Dominicana afirmam terem pagado propina, 6% admitiram já terem feito o mesmo em Trinidad e Tobago, e 11%, no Brasil.

Essa maior incidência cai em relação à Saúde, com 20% dos entrevistados afirmando que pagaram suborno para obter o tratamento adequado, seguido de Educação e dos trâmites nos tribunais.

Na análise de cada país, os subornos à Polícia são mais comuns na Venezuela, registrando mais de 40%, o mesmo acontecendo na Justiça, também alto, com 36%.

No México, a corrupção está mais arraigada em escolas, hospitais e nos órgãos emissores de documentos de identidade.

A margem de erro da pesquisa é de 3,1 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%.

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