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Um dia em Luanda, a cidade mais cara do mundo

Um prato de carne em um restaurante particularmente caro no centro de Luanda gira em torno de US$ 40, enquanto em um hotel, custa quase US$ 100


	Luanda, em Angola: tudo é possível em uma cidade que chegou a alcançar uma inflação de 1.000%
 (Wikimedia Commons)

Luanda, em Angola: tudo é possível em uma cidade que chegou a alcançar uma inflação de 1.000% (Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 28 de novembro de 2013 às 09h12.

Luanda - Os US$ 3 mil recebidos todo mês pelo espanhol José Aguilar por seu trabalho em uma empresa de petróleo americana em Luanda servem, a duras penas, para custear a vida na cidade considerada a mais cara do mundo.

Segundo o estudo sobre o custo de vida em mais de 200 cidades, publicado anualmente pela empresa de consultoria de RH Mercer, Luanda ultrapassou Tóquio em 2013 como a cidade mais proibitiva do mundo para expatriados.

Aguilar, que aos 28 anos passou os últimos seis em Luanda, disse à Agência Efe que chegar ao fim do mês é uma corrida, já que o aluguel do seu pequeno apartamento no bairro de expatriados de Alvalade lhe consome um terço de seu salário.

Em Alvalade, alugar uma casa pode custar US$ 30 mil por mês, por isso, quase nenhum angolano pode se dar ao luxo de viver lá. No bairro só vivem diplomatas e estrangeiros ligados à economia de petróleo do país, o segundo produtor da África Subsaariana, atrás apenas da Nigéria.

Aguilar admite que seu dia a dia é uma despesa permanente na cidade mais cara do mundo, e é quase impossível economizar algum dinheiro para enviar a sua mãe, que está desempregada na Espanha.

"Os estrangeiros pagam tudo mais caro que os angolanos", reclama o jovem espanhol, uma situação comum em muitas cidades africanas, onde a economia dos expatriados e das populações locais são totalmente desconectadas.

Assim, enquanto o salário mensal de um angolano de classe média se situa em US$ 200, os dos estrangeiros se contam por milhares, gastos em seus bairros com serviços e padrões que se aproximam, em algumas ocasiões, aos da Europa.

Um africano comprará em um mercado local, já um estrangeiro optará por um supermercado de um centro comercial, e o vendedor de um mercado fixará preços diferentes a seus produtos quando se aproximar um cliente negro ou de um branco.

Um prato de carne em um restaurante particularmente caro no centro de Luanda gira em torno de US$ 40, enquanto em um hotel, custa quase US$ 100.


Uma lata de cerveja local, a popular Cuca, à venda em cada rua de Luanda por 100 kwanzas angolanas (US$ 1,3), quintuplica seu preço em bares, discotecas, hotéis e aeroportos.

Tudo é possível em uma cidade que chegou a alcançar uma inflação de 1.000% durante a guerra civil que afetou o país e terminou em 2002. Agora, essa taxa se situa nos 9,8%, segundo o Banco Nacional de Angola.

Pelo menos no setor imobiliário os preços baixaram, a casa de Aguilar custava há alguns anos cerca de cinco vezes mais, mas a construção com financiamento do governo da China de novas áreas residenciais fez com que o preço dos aluguéis diminuísse.

A imensa "bolha" econômica da capital angolana também se deve em parte ao êxodo em massa de moradores do interior do país durante a guerra, que buscaram, nas cidades como Luanda, tranquilidade e meios de subsistência.

Mas a capital, que foi projetada para acomodar 600 mil pessoas, chegou a abrigar 6 milhões durante o conflito, e os preços das moradias dispararam.

No entanto, o negócio imobiliário segue crescendo, segundo o promotor Mateus Soares.

O empresário, que se dedica aos aluguéis há 12 anos, disse à Efe que seu negócio consegue manter sua mulher e seus cinco filhos.

"Os lucros caíram muito, mas são suficientes para alimentar a minha família, pagar a escola das crianças e a assistência médica", explicou Soares.

Seus clientes são na maioria estrangeiros, e com cada contrato de aluguel que pode fechar, recebe 10% do valor.

Estas enormes desigualdades, tônica nas cidades do continente, são especialmente acentuadas em Luanda, onde seus habitantes usam qualquer truque para espremer ao máximo seus normalmente magros recursos.

Não é de estranhar que até as próprias autoridades admitam que ninguém em Luanda vive apenas com o seu salário, mas também recorre a outros "negócios".

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