Agência de notícias
Publicado em 10 de setembro de 2025 às 17h40.
Um dia depois de um ataque contra membros do grupo palestino Hamas no Catar, que provocou críticas internacionais vindas até mesmo de aliados, o premier de Israel, Benjamin Netanyahu, exigiu que as autoridades cataris expulsem qualquer pessoa ligada à organização, sugerindo que poderia lançar uma nova ação caso nada seja feito.
Em resposta, o premiê do Catar afirmou que Netanyahu "eliminou" as chances de paz com o ataque, e disse que o líder israelense deveria ser levado à Justiça.
Em uma mensagem divulgada na véspera do aniversário dos ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001, nos EUA, Netanyahu traçou um paralelo entre os atentados cometidos pela rede al-Qaeda e a ação do Hamas de 7 de outubro de 2023, que deixou quase 1,2 mil mortos em Israel e levou à guerra na Faixa de Gaza.
— Naquele dia, terroristas islâmicos cometeram a pior barbárie contra o povo judeu desde o Holocausto — afirmou o premier, em vídeo divulgado em suas redes sociais.
Em seguida, disse que, ao atacar a casa onde estavam as lideranças do Hamas em Doha, seu governo “foi atrás dos mentores terroristas que cometeram o massacre de 7 de outubro”, e criticou o emirado, o acusando de dar abrigo seguro a organizações terroristas, como o Hamas.
— [O Catar] abriga terroristas, financia o Hamas, dá aos seus chefes terroristas vilas suntuosas, dá-lhes tudo — afirmou o premier, antes de lançar uma ameaça. —E eu digo ao Catar e a todas as nações que abrigam terroristas: ou os expulsam ou os levam à justiça. Porque se não o fizerem, nós o faremos.
Na segunda-feira, em uma ação que envolveu dez aeronaves e foi planejada por meses, Israel bombardeou uma casa em um bairro de alto padrão em Doha, onde estariam membros do alto escalão do Hamas — cinco pessoas morreram, mas o homem apontado como o principal alvo, Khalil al-Hayya, negociador-chefe do Hamas, sobreviveu. Entre os mortos estava um integrante dos serviços de segurança do Catar.
O ataque foi recebido por uma enxurrada de críticas, a começar pelo governo do Catar, que chamou a ação de violação de sua soberania, argumento repetido por outras monarquias do Golfo Pérsico e pelo secretário-geral da ONU, que lembrou do papel do país árabe nas negociações sobre a guerra em Gaza, no qual atua como mediador. O presidente da França, Emmanuel Macron, e o chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, chamaram o ataque de “inaceitável”, e o líder dos EUA, Donald Trump, tentou se desvencilhar, afirmando que a decisão final foi de Netanyahu.
Nesta quarta-feira, em entrevista à rede CNN, Mohammed bin Abdulrahman bin Jassim Al-Thani, premier do Catar, afirmou que o ataque de terça-feira mostra que Netanyahu “ está tentando minar qualquer chance de estabilidade, qualquer chance de paz”, e que a ação põe em risco as negociações para o fim da guerra em Gaza e a vida dos reféns ainda no enclave palestino.
— Eu estava me encontrando com uma das famílias dos reféns na manhã do ataque. Eles estão contando com essa mediação (de cessar-fogo), não têm outra esperança — disse al-Thani à CNN. — Acho que o que Netanyahu fez ontem (terça-feira) acabou com qualquer esperança para esses reféns.
Ele ainda afirmou que Netanyahu "precisa ser levado à Justiça", citando a ordem internacional de prisão emitida no ano passado contra o premier e contra seu ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant, rejeitadas pelos israelenses.
— Acho que alguém como ele está tentando dar lições de lei à guerra. Ele está violando todas as leis, ele violou todas as leis internacionais — apontou o premier do Catar.
As críticas não parecem ter incomodado Israel. Em entrevista à rádio israelense 103 FM, Danny Danon, embaixador do país na ONU, disse que “nem sempre agimos no interesse dos Estados Unidos”, e que o ataque contra Doha, capital do Catar, não foi contra o país árabe, mas sim “contra o Hamas”.
— Não estamos contra o Catar, nem contra nenhum país árabe, atualmente enfrentamos uma organização terrorista — disse Danon.
Na rede social X, o ministro da Defesa, Israel Katz, afirmou que “o longo braço de Israel atuará contra seus inimigos em qualquer lugar", e que “não há nenhum lugar onde possam se esconder".
O ataque aéreo contra a capital do Catar não foi o único conduzido por Israel desde segunda-feira. Houve bombardeios contra uma base militar em Latakia, na Síria, contra o leste do Líbano, apesar de um cessar-fogo em vigor, e contra o Iêmen, onde 35 pessoas morreram e mais de 100 ficaram feridas.
Segundo autoridades locais, os ataques se concentraram na capital, Sana, e atingiram bairros residenciais, uma instalação médica, um prédio do governo e o aeroporto da cidade, já danificado por outro bombardeio ocorrido há algumas semanas.
Ao justificar a ação, o Exército israelense afirmou, em comunicado, ter atingido “campos militares onde foram identificados membros do regime terrorista; a sede de relações públicas militares dos houthis e um local de armazenamento de combustível”.
Apesar de localizados a mais de mil quilômetros de distância de Israel, os houthis — que controlam parte do Iêmen — têm usado drones e foguetes para atacar o território israelense desde o início da guerra em Gaza, e intensificaram ações contra navios que trafegam pela costa iemenitas, hoje uma das mais perigosas zonas de navegação do planeta. Em resposta, o grupo é bombardeado com certa frequência pela aviação israelense, que por vezes conta com o apoio militar de americanos e britânicos.