Boko Haram: os menores são enganados para entregar um pacote em troca de uma pequena quantidade de dinheiro ou de comida (AFP/ Stephane Yas)
Da Redação
Publicado em 12 de abril de 2016 às 11h38.
Nairóbi - O grupo jihadista Boko Haram utilizou crianças em um de cada cinco atentados suicidas cometidos no ano passado na Nigéria, Camarões, Chade e Níger, um número dez vezes superior ao registrado em 2014, revela um relatório divulgado nesta terça-feira pelo Unicef.
Segundo o estudo, no ano passado houve 44 atentados suicidas com menores, 75% dos quais foram perpetrados por meninas.
"Que fique claro: estas crianças são as vítimas, não os autores", ressalta um comunicado do Unicef para África Ocidental e Central.
Em muitas ocasiões, segundo relataram à Agência Efe fontes policiais, os menores são enganados para entregar um pacote em troca de uma pequena quantidade de dinheiro ou de comida, pacote que posteriormente é detonado à distância por um membro do grupo terrorista.
Em outras, as crianças são drogadas e deixadas em um lugar público carregadas de explosivos, acrescentaram as fontes.
Os ataques suicidas se quintuplicaram entre 2014 e 2015 nos citados países, e algumas comunidades começam a observar as crianças como uma potencial ameaça.
O uso de menores gerou uma atmosfera de suspeita com consequências "devastadoras", porque milhares deles já sofrem o estigma de ter vivido em cativeiro ou de ser filhos da violência sexual, algo que os leva a ser repudiados por suas próprias famílias.
O conflito gerado pelo Boko Haram provocou o deslocamento de 1,3 milhão de crianças e o fechamento de 1.800 escolas, segundo Unicef.
Só em 2015, o grupo jihadista matou mais de 3 mil pessoas, apesar de sua perda de território e da crescente pressão militar dos países da região do lago Chade.
Segundo as autoridades nigerianas, nos cinco últimos anos o grupo terrorista assassinou cerca de 12 mil pessoas.
Boko Haram, que significa em línguas locais "a educação não islâmica é pecado", luta por impor um Estado islâmico na Nigéria, país de maioria muçulmana no norte e predominantemente cristã no sul.
Desde que a polícia acabou em 2009 com o então líder de Boko Haram, Mohammed Yousef, os radicais mantêm uma sangrenta campanha que se intensificou nos últimos meses.
Com cerca de 170 milhões de habitantes integrados em mais de 200 grupos tribais, a Nigéria, o país mais populoso da África, sofre múltiplas tensões por suas profundas diferenças políticas, religiosas e territoriais.